Essa semana comemoramos os 20 anos do mais audacioso projeto de hardware que a Nintendo teve a felicidade de lançar. Um console que rivalizava sem medo com seus concorrentes da época, apostava numa nova proposta de joysticks e mídia, com jogos mais adultos, periféricos ousados e inovações que seriam tendência no mercado de consoles e games até os dias atuais. Quadrado sem ser careta, o GameCube ousou desafiar gigantes, lutou o bom combate e saiu de cabeça erguida, apesar das rasteiras que sofreu.
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A parceria entre a Nintendo, IBM e ATI para a criação do console posterior ao sucesso de vendas do Nintendo 64, foi arquitetada não como uma revolução, mas sim como uma evolução natural do console e de toda a experiência Nintendo. Proporcionar novos jogos, novas propostas, conceitos e literalmente sair da “caixinha” com um poder gráfico e de processamento dignos da sexta geração de consoles. Um novo controle que seria peça chave na maioria dos jogos, indo muito além do simples apertar de botões. Uma nova mídia, o Digital Disk, deixando a era dos cartuchos pra trás possibilitando jogos maiores e gráficos em melhor resolução. Conexão Lan para jogos online. Conexão via cabo com o Gameboy Advance permitindo novas funções em alguns jogos ou novas formas de jogar. Uma máquina pensada exclusivamente para jogos e tudo que eles pudessem oferecer, tornando o Gamecube mais barato que a concorrência da época.
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O primeiro console a ter um controle wireless oficial, o WaveBird, criando a tendência de controles sem fio existente até os dias atuais. Primeiro e único Console da Nintendo a não ter um jogo do Mario no seu lançamento, coube ao maravilhoso Luigi’s Mansion as honras de ser o carro chefe do GC mostrando que a biblioteca de jogos seria seu ponto forte, que aliás já contava com 15 jogos exclusivos no dia de seu lançamento. O primeiro a ter cartões de memória maiores que 8 MB, com tamanhos entre 64mb e 1028 MB (em cartões não oficiais). O primeiro a ter uma segunda tela por meio da conexão por cabo com o GBA, abrindo um leque de novas jogabilidades e interação, uma ideia brilhante que infelizmente não foi repetida nos consoles seguintes. O Digital Disc (criado exclusivamente para o console) pequeno em tamanho e capacidade de armazenamento (1.5gb) comparado aos concorrentes foi muito elogiado por desenvolvedores por fornecer uma qualidade melhor de gráficos 3D, no que resultava em imagens mais limpas e bonitas. E por final a tecnologia para TVs 3D, que foram “hype” por algum momento nos anos 2000 mas eram caras demais, existe em alguns jogos do Gamecube, todavia as televisões não acompanharam a tendência exclusiva do console. ( Luigi’s Mansion pode ser jogado com óculos 3D, sabia?) Periféricos como os Bongos usados em jogos do Donkey Kong e o microfone podiam não ser inovadores, todavia acompanhavam jogos de qualidade e muito diferenciados daquilo que era apresentado no mercado da época. Outro fato desconhecido pelo publico é que apesar do próprio GC não ter vendido muito, a Nintendo teve um lucro significativo com seu hardware naquele período.
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A biblioteca de jogos merece um capítulo a parte. Algumas das franquias de sucesso da Nintendo nasceram ou foram reinventadas no Gamecube: Pikmin, Mario Kart Double Dash, Star Wars: Rogue Leader, Metroid Prime, Paper Mario, Eternal Darkness, Donkey Kong, Mario Sunshine, Mario Golf/Tênis/Soccer, Mario Party 5,6,7,8 ( Mario Party 5 e 7 permitiam controlar o jogo via microfone). Só o Gamecube tem dois dos melhores jogos de Legend of Zelda: Wind Waker e Twilight Princess. Star Fox e Smash Bros também retornam com novas ideias. As franquias que hoje muitos nintendistas cobram tiveram seu melhor momento ou um novo momento no Gamecube. Focar na qualidade e não na quantidade. Poucos jogos, porém excelentes, completos e bem realizados. A biblioteca seria maior caso a Rare não tivesse sido adquirida pela concorrência. E assim começam as rasteiras.
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A venda das ações da Rare que pertenciam a Nintendo foi um duro golpe nas ambições do GameCube. A desenvolvedora tinha muitos projetos em andamento e muitos mais com parcerias para novos e “velhos” jogos para o GC. O fato das concorrentes não se esforçarem para combater a pirataria e desbloqueio de seus consoles proporcionou que a venda dos mesmos crescesse vertiginosamente. Apesar do GameCube ser mais barato, tanto seu desbloqueio quanto a cópia ilegal de seus jogos não eram possíveis com a tecnologia da época portanto, na “hora do vamos ver” o gamer preferia comprar outro console desbloqueado podendo adquirir jogos muito mais baratos e em maior quantidade. Essa rasteira foi mortal para o nosso “quadradinho mágico”. As baixas vendas desanimaram e desapontaram os executivos da Big N. O fim estava próximo.
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Infelizmente o GameCube não teve versões posteriores e apesar de alguns projetos até existirem foram utilizados no seu sucessor, o Wii ( controle por movimento, por exemplo). Pouco vendido fora do Japão e EUA. Praticamente desconhecido no resto do mundo, inclusive no Brasil, onde alguns que nunca jogaram nada NO console insistem em julgar baseados em números e vendas. Digo que nunca jogaram nada NO console, pois existe uma diferença enorme em se desfrutar a mídia no aparelho pra qual ela foi criada, toda uma experiência envolvida que nenhum “port” ou “Remaster” podem reproduzir com fidelidade. O Gamecube foi criado para ser exclusivo para jogos e planejado para entregar melhor experiência pro jogador e só isso já bastaria pra que 20 anos depois de seu lançamento todos os amantes da Nintendo dedicassem alguns segundos em sua homenagem ou algumas horas na sua impecável biblioteca.
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Ele não tocava músicas e nem filmes em DVD, mas tem jogos com qualidade tão alta que a concorrência ainda sonha em copiar e atingir. E quantos jogaram fora DVD/MP3 players quando adquiriram consoles da concorrência? Poucos, afinal videogame é pra jogar.
Parabéns GameCube !!!
Bom final de semana, fiquem bem!
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