Pokémon: O preço do apego

Pokémon: O preço do apego

A palavra composta Pokémon (Pocket+Monsters) se tornou provavelmente um grande fenômeno cultural. Chega a ser inacreditável como essa franquia se alastrou e se mostrou cada vez mais um evento em qualquer tipo de lançamento. Seja na sua origem como um jogo de portátil, agora de console de mesa, da Nintendo. Ou até mesmo seja um filme no cinema, um mangá, uma série animada nova ou até mesmo uma nova linha de roupas, cadernos, mochilas, materiais escolares e até pequenas capsulas com miniatura de Pokémon vendendo por uma moeda de um real em parques.

Pokémon: O preço do apego
Um exemplo de miniaturas vendidas em parques.

De que Pokémon tem o tamanho que tem, nenhum de nós temos dúvidas. Alguns dizem até mesmo que Pokémon ultrapassou até sua progenitora, a Nintendo. Muito não associam a marca a ela. Muitos nem fazem ideia de que Pokémon é um série de jogos que se expandiu da maneira como expandiu. E de fato, podemos declarar hoje que sabemos que Pokémon é a franquia mais rentável de todos os tempos que não há como pisar em um recinto sem que alguém saiba quem é o Pikachu e qual é o seu som característico.

Mas todo esse “boom” do início dos anos 2000, teve muitos efeitos. Talvez, Pokémon será o tipo de marca reconhecido como algo atemporal. Não no sentindo de consumo, mas no legado da marca. Assim como hoje falamos sobre as grandes obras renascentistas e as tragédias gregas de forma a conseguir reconhecer e estudá-las, de maneira alguma Pokémon será só mais uma logomarca presa ao seu tempo. Será um grande estudo de branding, publicidade e negócios. Eu costumo dizer o seguinte:

“Pokémon que financia a Nintendo, não o contrário.”

Esse é o nível que a marca já chegou.

Infographic: The 50 Biggest Video Game Franchises by Total Revenue
Um comparativo de renda por franquias. Observem como Pokémon já rendeu muito mais que o próprio Mickey Mouse da empresa.

Mas toda essa renda teve algum resultado, não é? Com certeza! Afinal, definitivamente pode-se perceber que as pessoas que mais consumiram hoje estão em torno de 27-35 anos. E quase todos consumiram a quantidade exorbitante tanto de produtos da linha diretas de jogos como a expansão em merchandising na mesma época, ou seja, geralmente o mesmo conteúdo. Principalmente quando falamos em termos de lançamentos.

De longe, até hoje os Pokémon mais reconhecidos são do que chamamos de “1ª geração”. Cada jogo de Pokémon representa uma. Charmander, Bulbasauro, Squirtle e Pikachu, principalmente este, estão entre aqueles que até hoje são usados constantemente como a fonte de publicidade da série. E talvez a geração seguinte impactou ainda mais com a expansão dos novos Pokémon vindos da 2ª geração que trouxe os caninos lendários, as aves divinas, todas as novas evoluções ou no caso primeiras formas. Não há como mensurar o que aquelas crianças passaram com aquela quantidade de lançamentos e novidade entre gerações.

Quando a 3ª geração veio com Pokémon Ruby, Sapphire e Emerald muitos desses que consumiram já tinha abandonado a série de certa forma. Eu mesmo fui um dos que a 3ª geração não agradou muito. Mas foi aqui que gerou uma necessidade extrema de trazer aquelas duas gerações num formato que pudesse reacender o interesse daqueles que abandonaram a série. Quer uma confirmação disso? Pokémon XY veio com a opção de dois Pokémon iniciais entre dois grupos. Um grupo com os novos iniciais e outro com os iniciais da primeira geração. E isso é algo sério. Gerou um apego tão grande dos próprios fãs que acabaram por contribuir financiando esse tipo de manobra publicitária que a franquia parece ter se estagnado e se tornado tão redundante a ponto de até mesmo o Red, o primeiro protagonista da série, retornar pela 3ª vez em Alola. Sem contar sua aparição posterior em Let’s Go, óbvio.

Tudo isso tem um custo muito alto. É notável o clamor na internet por uma renovação na franquia, principalmente em termos técnicos, mas nem de perto é algo tão necessário quanto a criatividade inovadora que outras franquias da própria Nintendo tem em sobra. É possível entender as bases de Pokémon, pois são muito simples e bem diretas, mas por este mesmo motivo, uma grande tela em branco tem se estendido a frente deles. Embora tenhamos muitas tintas ali, a maioria das vezes são linhas similares umas as outras.

A nova série, chamada Legends, que conta com o mitológico Pokémon Arceus reacendeu as esperanças para esse frescor novo. Não há como negar que há muita empolgação para este título, embora hajam muitos que ainda se sentem desestimulados pela falta de competência técnica mostrada no trailer. Mas o que é visível neste novo anúncio que a GameFreak, que está cuidando de frente do título, está disposta de agora em diante a dar novos passos, mesmo que seja sob a supervisão direta da Nintendo com a recente mudança dos escritórios da desenvolvedora para os prédios internos da Publisher. Pode se ter esperança? Com certeza. Mais ainda, pode se ter curiosidade!


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Um fã de Da Vinci e Miyamoto. Não me pergunte quem é quem.