As ilhas no mundo de Animal Crossing são bem afastadas umas das outras. Para chegar a uma ilha tem que se viajar sem pressa para chegar. Não se ouve o barulho de uma ilha na outra e nem se enxerga algo de longe. A Ilha do Criador não era exceção. Nela, todos os monstros e coisas ruins do mundo se devoravam e lutavam para determinar quem seria o maior predador, quem seria temido pelos demais e esse posto já tinha dono.
Quando o Padre chegou na ilha não precisou matar nenhum monstro ou derramar uma gota de sangue sequer. Não olhou nos olhos, não falou, não desviou do seu caminho até a montanha mais alta. Por onde passou os covardes fugiram ou os fortes se curvaram. Na natureza as coisas são muito simples, só se desafia o Alfa se você for forte como um Alfa (ou achar que é). Caso contrário, o Alfa é o Alfa. O resto é o resto e vive dos restos do Alfa. Simples. Viva, morra e não desafie o Alfa. Eram as regras da Ilha do Criador.
Nada se sabe sobre a origem do Padre, onde nasceu, como viveu, se é mesmo padre ou por qual razão escolheu esse nome. Talvez pela ironia, talvez tenha ganho a alcunha pela roupa preta e postura fria e ereta. Não era dado a explosões de destempero. Falava devagar e em tom normal, quando abria a boca todos se calavam e o silêncio amplificava as suas palavras. Sua ordens eram acompanhadas por um olhar direto e cortante. Do tipo que não deixa dúvidas. Poucas palavras. Deixava sua ações falarem por si.
E elas falavam bem alto. Ninguém sabia como as ilhas a serem dizimadas eram escolhidas, ninguém ousava perguntar os motivos ou as razões das escolhas. O Padre apontava para o mapa e a ilha sumia do mapa. Simples. As regras eram simples. Roube, queime e destrua. Só mate pra se defender e poupe todas as crianças. Deixe que fujam os que quiserem fugir e mate todos que quiserem lutar. Caso você morra, aquele que o matou tem direito ao seu lugar na Ilha do Criador. Apenas os mais fortes ao meu lado, ele dizia.
Apenas os mais fortes ao meu lado. Ketchup ouviu essas palavras em diversas ocasiões. Ela não precisaria matar ninguém, apenas andar ao lado do Padre e ser da sua ilha. Ele fez a oferta em inúmeros encontros. Ela recusou todas as vezes. Ela queria a adrenalina do ouro, ele queria ela ao seu lado. Ele sabia do poder sob aquelas penas, ela sabia que não cabem dois Alfas no mesmo bando. Ambos sabiam que esse mundo estava ficando pequeno demais para os dois. A certeza veio quando ela entrou pela porta coberta de sangue e com as mãos do seu irmão Will Sin como um colar no seu pescoço. Ele reconheceu o anel e as marcas de batalha. Alguém não sairia vivo daquele encontro. Ninguém sairia vivo daquela batalha.
O silêncio durou exatos 5 segundos. Olhares se cruzaram. Ela pegou o machado e ele suas facas. Sem armas de fogo. Um predador mata olhando sua vítima de perto. Ambos mereciam uma morte honrosa. Ela cortou o ar mirando na cabeça, ele desviou passando a faca perto do pescoço da pata, cortou o colar. Ela parou. Ele recolheu os restos da sua família, colocou ao lado de uma foto dos dois e ela esperou respeitosamente. A força respeita apenas a força. E como eram fortes.
Treze trocas de armas e 6 horas de luta. Ela ainda tinha um olho e uma asa boa pra segurar a espada. Ele já não tinha dedos para segurar qualquer arma com firmeza e só ouvia do lado esquerdo. O olhar dos dois ainda era o mesmo. Frio. Determinado. Mortal. Ele usou suas últimas forças para saltar sobre ela, socar sua traqueia e chutar os pulmões. Caiu atrás dela. Sorrindo. Ketchup sem ar e desmaiando encostou a espada na própria barriga, segurou a batina do Padre com força e desmaiou.
O preto ficou branco conforme a luz do sol agredia a íris da nossa patinha, o ar tinha gosto de sangue e cada batida do coração era um grito de dor. As penas caiam ao chão para se juntar ao sangue que jorrava do coração do Padre. Ela tinha um corte fundo na barriga e descobriu que o maldito tinha um coração. Ele morreu de olhos abertos. Como um verdadeiro guerreiro, ela pensou. Usou a mão que ainda funcionava para segurar os órgãos dentro do corpo e com o olho bom procurou por sua companheira e enfermeira de todas as horas, Ex_killa. Viu um vulto sentado na cadeira vermelha do Padre. Segurando a espada que o matou e com um cálice de vinho tocando os lábios.
- – Decepcionante. Achei que ele fosse vencer.
- – Quem? perguntou Ketchup.
- – Agora tenho que ver você morrer aos poucos, sujando meu chão com essas penas imundas.
- – Por quê?
- – Por quê eu não te matei antes? Porquê eu não te mato agora? Por quê eu armei tudo isso? Você sabe o porquê.
- – Eu amei você.
- – E me ensinou a amar o poder, a força e o ouro. Me ensinou a desejar sempre mais. E a matar para ter sempre mais. E como errar com precisão suficiente para ferir e deixar dúvidas na sua cabeça. O resto foi com você.
- – A explosão. Foi você? A missão? O ouro?
- – A explosão sim, mas não havia nenhuma missão e nenhum ouro. Eram armações para te levar até lá. Agora se você puder morrer quieta eu agradeço.
- – Eu matei o irmão dele. Eu matei… os monstros mais fortes… dessa ilha. Eu…. amei….. você….
- – E eu vou reinar sobre os que restaram, sair vitoriosa com a cabeça dos dois como troféus e a espada que as cortou. Reinar absoluta. Roubar as ilhas que eu quiser e destruir algumas por diversão. Eu amei você. Eu amei como me salvou daquele bêbado fedorento. Amei como me treinou e me fortaleceu. Você amou o ouro. E foi assim que chegamos aqui. Amor, apenas amor.
- – Eu…. a…mei…. vo…cê…
Uma lágrima solitária escorreu pelo lado esquerdo da face de Ex_killa. Seu plano funcionou, a vitória foi alcançada. Tinha todo ouro do mundo aos seus pés. Mas a que preço?
A que preço?
Game Over!
Essa foi a minha última coluna pra esse maravilhoso portal. Quero agradecer de coração aos Fundadores: Paulo Victor, Padre Edson e Neto por acreditarem em mim e abrirem as portas para um mundo totalmente novo. Não é um adeus e sim um até logo, pois levo todos vocês e os outros colunistas no meu coração. Fiquem bem e boa jornada. Um mega abraço e até um domingo qualquer…
Ketchup criada por Paulo Victor Mariano.
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