Uns podem pensar que ganhar dinheiro jogando video game é coisa recente. Que no máximo começou ali, com um torneio ou outro ou até mesmo chegando pra valer só com a consagração dos jogos online, quando estádios passaram a ser lotados pelo mundo para ver os jogos ao vivo.
Mas não!
“Quem ganha a vida jogando video game?” é um questionamento mais antigo do que parece! Vamos voltar algumas décadas no tempo e conhecer o então melhor trabalho do mundo: Game Play Counselor, os conselheiros de jogos da Nintendo.
No final da década de 80, o NES (para nós, o eterno Nintendinho) reaqueceu o mercado de consoles caseiros americano, chegando a morder uma fatia de 75% do setor em 1989. Mario, Zelda e Donkey Kong faziam a demanda crescer exponencialmente e, junto dela, a criação de novas oportunidades de emprego. Imagine você, uma sala, com várias baias, e em cada uma delas, uma pessoa sentada de frente pra uma tv, com consoles instalados e um headset por cima dos mullets. Para os mais jovens, segue a referência a baixo.
Eles, fardados com suas super jaquetas, munidos com uma bíblia com segredos de centenas de jogos e uma “powerline” livre para dúvidas, eram chamados: os Game Play Counselors, ou, os conselheiros de jogos. Como qualquer outro trabalho, eram 8 horas por dia, 5 dias por semana, sempre à disposição pra dar dicas para passar daquela parte da qual você finalmente, depois de muito lutar, entregara os pontos.
Funcionava assim: o candidato ia até a central de ligações, preenchia um formulário e era orientado a estudar prova (= jogar como um feliz condenado). “Prova?” – você se pergunta. Sim! Um teste que te qualificava como um verdadeiro conselheiro Nintendo. Todos os blocos escondidos, chaves, corações, passagens, equipamentos, estratégias para derrotar os chefes… tudo! Você precisava saber tudo e mais um pouco para fazer parte dos mais de DUZENTOS conselheiros que estariam ao seu lado.
É, irmão… tinha que saber, porque o YouTube daquela época era ao vivo.
Se aprovado, eram quatro semanas de treinamento, com 8 horas diárias. Blitz’s surpresa dos treinadores com perguntas aleatórias, cartilhas de comportamento e muita, mas muita jogatina. Os conselheiros não podiam usar palavras negativas como “matar”, tinham que dizer “derrotar”. Tudo fazia parte da experiência de diversão que a Nintendo queria assegurar. Nunca, em nenhuma ligação, eles podiam entregar o ouro. Era através das dicas e pistas deles que os jogadores tinham que encontrar o caminho por esforço próprio e sentir a recompensa do seu desafio.
Alguns conselheiros chegaram a zerar mais 800 títulos de NES, SNES e Game Boy na década de 90. O objetivo do serviço de atendimento era claro: garantir o divertimento e driblar as frustrações dos jogadores para eles zerarem os jogos e comprarem outros novos. Era uma loucura! Humanamente impossível de memorizar centenas de jogos, eles tinham à mão um gigantesco fichário verde com mapas, setas e dicas de onde estavam os segredos de cada fase. Essa bíblia, junto de um grande banco de dados preenchido com anotações por outros conselheiros, chamado “ELMO”, eram a saída para quando até mesmo eles ficassem em perigo. Mas a regra era clara: só pode se listar para atender os jogos que zerar.
Depois de embalados, os conselheiros conseguiam atender uma média de 12 ligações por hora, o que davam quase 100 atendimentos por dia, podendo chegar às vezes a 500 jogadores socorridos em uma semana. O serviço que começou gratuito, logo encheu os olhos da Nintendo (novidade) que passou a cobrar pelas ligações. Acredite ou não, mesmo com revistas e a internet, esse serviço durou até 2005.
E você? Quais jogos poderiam ligar pra pedir a sua ajuda, que você conseguiria atender com os olhos fechados?
Fonte:
NETFLIX. High Score: GDLK – Temporada 1 / Episódio 2
NINTENDO LIFE. Ninterview: Learning Retro Secrets With A Former Nintendo Game Play Counselor.
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