Essa semana está chegando no Nintendo Switch Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin, o segundo capítulo da série paralela da cada vez mais amada franquia Monster Hunter, cuja série principal também recebeu um capítulo recente, Monster Hunter Rise lançado em Março.
A decisão de lançar 2 jogos da mesma série em tão pouco tempo de diferença (pouco mais de 3 meses) parecia um tanto quanto estranha, afinal, ‘’ué, o cara mal terminou de jogar um e já vai jogar o outro? Não era melhor deixar cada um num ano diferente?” era o lógico a se pensar….
Acontece que Stories 2 é tão distinto de Rise, que somente após jogar você vai entender o porque essa decisão fez sim sentido, afinal, as duas séries são como uma esfiha salgada e uma doce, ao mesmo tempo que opostas, ambas são o conteúdo do mesmo produto e se complementam de forma que você quer consumir um depois do outro.
Senhoras e senhores, hoje eu quero contar a vocês porque Monster Hunter Stories 2 é o exemplo a ser seguido de série paralela!
Intro – A função de uma série paralela
Bom, muitas franquias possuem séries paralelas. Elas são usadas pra mudanças mais drásticas de jogabilidade ou somente enredo. Existem algumas com mudanças sutis como Megaman e Megaman X, existem séries onde a essência é a mesma mais em perspectivas diferentes, como Metroid 2D e Metroid Prime – neste caso, apesar da troca de visão entre outros elementos, a essência ainda é “explorar um mapa nada linear enquanto se enfrenta perigos galácticos”, existem séries paralelas que boa parte do público nem sabe que são a mesma série, como Persona e Shin Megami Tensei, séries que não tem absolutamente nada a ver além de compartilhar o mesmo universo, como Mario e Mario Kart, e claro, não dá pra deixar de citar Pokémon que tem todos os itens acima no seu catálogo de spin offs.
Com tantos exemplos distintos, fica evidente que é impossível responder definitivamente algumas perguntas como: o que se deve buscar ao criar uma série paralela? Qual o limite do que deve ser em comum e diferente? Entre outras. Mas talvez uma das perguntas mais interessantes quanto é isso é: Essa nova série deve atrair o mesmo público, ou buscar justamente o oposto? Em termos de mercado, para a produtora, talvez esta seja a pergunta mais importante! Pois ‘’público-alvo certo” é a grande charada que uma produtora precisa desvendar.
O mercado gamer é um amontoado de gente com gostos distintos, grupinhos que se reúnem e recomendam jogos que gostam pra membros do seu grupo, pois são eles que vão dar atenção pra essa recomendação. É por isso que Story of Seasons e Ys são franquias que possuem décadas de existência, mesmo nunca alcançando marcas expressivas de vendas: o seu público é fiel e todo mundo que quer chegar nesse grupinho vai ser apresentado a essas séries, vai jogar, e vai virar um novo fã dela.
Mas e se anunciam um novo Story of Seasons que em vez de um jogo de fazendinha, é um shooter em terceira pessoa, frenético igual Doom? Provavelmente a molecada fã de tiro vai querer dar uma olhada, mas os fãs clássicos vão passar longe… Isso é ruim? Historicamente sim, ou seja, os exemplos que temos de jogo que traíram completamente sua essência não costumam dar certo, os fãs se sentem traídos, abandonam a franquia e independentemente da qualidade, o jogo já chega ao mercado sendo mal falado. Fanbases constroem e destroem séries, acreditem. A gente deu um exemplo extremo, até cômico, mas a verdade é que não precisa de muito pra esse “abandono” acontecer, uma troca de protagonista, uma série de novidades consecutivas, jogabilidade muito diferente, as empresas sabem que precisam escolher entre “inovação x tradição” na hora de fazer uma sequência.
E aí que muitas vezes entra a série paralela, um jeito de mudar completamente uma franquia, sem matar a sua base, o seu legado e o seu público. Com esse recurso, as produtoras tem um plano B, onde tudo que ela quer colocar numa série mas pode ‘’dar ruim’’, pode ser colocado lá.
Assim, ela pode:
- Expandir comercialmente a franquia pra novos públicos.
- Expandir a profundidade de uma franquia, adicionando temas complementares sem mexer na estrutura base de uma série.
- Experimentar as possibilidades de uso de uma franquia em várias situações, preservando a essência da série original.
Foi desse jeito que Monster Hunter nasceu e cresceu. O primeiro game da série estreou em 2004, ou seja, tem quase 20 anos! De lá pra cá, foi um longo processo de conquista de uma série bem aceita pelo público japonês, até se tornar uma série obrigatória por lá, e depois um big hit no mundo. Não foi rápido, mas foi sempre ascendente, um ciclo constante de repetição da frase “você já jogou Monster Hunter? Joga, é muito legal” até isso tudo acontecer.
Então, em 2016, a Capcom entrou nesse ramo de séries paralelas, trazendo para o 3DS o jogo chamado Monster Hunter Stories, e aí, qual dos caminhos de uma série paralela será que a Capcom tomaria?
2 – A Genialidade da série Stories
Monster Hunter Stories é um RPG de turno, num estilo visual extremamente family friend em cel shading, ou seja, estilo desenhado, e é sobre a união de humanos e monstros, e não sobre caçá-los. Se Stories fosse Monster Hunter 5, provavelmente uma legião de fãs da série estaria em frente ao prédio da Capcom, em protesto, até hoje.
Seria ele então o tal Harvest Moon estilo Doom? O jogo que trai totalmente sua essência? Não. Pois é aqui que entra a magia do gênero Role Playing Game, o RPG. Se você nunca soube o significado da sigla, a tradução mais bem aceita é “jogo de interpretar papéis”, uma fantasia, onde você finge ser um poderosos mago, ou um arqueiro ligeiro.
Monster Hunter é action mas é RPG, ele é sobre interpretar o papel de um caçador, um caçador que pode escolher uma dentre várias armas, que vai forjar e vestir armaduras, e vai superar todos os desafios para proteger sua vila. Mas eis que quem propôs o jogo agora lhe diz o seguinte: Agora você vai pegar esse universo, esses monstros que você caçou, e você será o companheiro deles! Parece o oposto, mas ainda é se trata do mesmo universo – o mesmo tabuleiro, e são os monstros conhecidos pelo jogador – os personagens da fantasia original.
Não é muito diferente de quando você e o seu amigo eram crianças e brincavam juntos, e aí vocês eram personagens fictícios poderosos, que lutavam um com o outro pra ver quem é o mais forte, mas aí seu amigo falava ‘’hey, olha ali, tem um monte de monstros vindo, vamos nos unir e derrotá-los” e aí os dois rivais que se gladiavam agora eram grandes parceiros. O que estamos dizendo é que em ambos os jogos você está brincando com o mesmo companheiro, o universo está lá e assim como um ator ora é um vilão ora é um galã, você tem o Rathallos uma hora temido, agora é o mais forte dos aliados. Stories é um grande ‘’e se agora a gente brincar desse jeito” que alguém chegou na grande fantasia Monster Hunter e todo mundo topou.
E talvez esse seja o melhor exemplo do caminho que uma série paralela deve tomar. Stories não é sobre ter a escolha de preferir jogar Mario em 2D ou 3D, ele é sobre jogar um role-playing diferente no mesmo universo, e um diferente que você QUER jogar, quer experimentar! E é por isso que Stories 2 não apaga Rise. Eles se complementam.
Quando se compara dois produtos do mesmo tipo, existe um claro vencedor: Você prefere Coca ou Pepsi? Fácil de responder. Assim como “você prefere Mario 3D ou 2D?”. Mas quando se tem dois produtos tão diferentes e que te marcam por motivos distintos, aí fica difícil deixar um de lado, e essa foi a mira da Capcom criando uma série paralela: criar um jogo que seja completamente diferente, mas que quem gosta de um, pode gostar do outro também de um modo diferente, mas também. E a prova de que ela aposta nisso é o lançamento tão próximo dos jogos.
Criar duas séries que se complementam, se fortalecem juntas, mostram a beleza de um universo versatilizando o mesmo, e que gera nos fãs a ideia de ‘’eu preciso jogar ambos”, essa é a função ideal de uma série paralela. Você precisa jogar Monster Hunter Stories 2 se gosta de Monster Hunter, é o seu universo amado em outra cara.
MAS você precisa jogar Monster Hunter Stories 2 se NÃO gosta de Monster Hunter também, mas gosta de seu estilo, porquê ele é excelente no que faz. A Capcom cercou o público, e isso é mercadologicamente genial.
Parte 3 – Stories 2: Um jogo que não deve ser ignorado
Mas, pra ela fazer isso, não é fácil, como dissemos, ela teve que criar dois jogos de excelência, e Stories 2 é excelente! Um jogo encantador feito com muita qualidade, só assim todo o texto faz sentido não é mesmo? Stories 2 é um GRANDE lançamento para o Nintendo Switch! Ele definitivamente não deve ser ignorado pelos donos do console ou pelos jogadores futuros no PC, e há muito o que destacar sobre ele:
- Seu visual é lindo – apesar de não ser tão impressionante quanto Rise, sua arte é incrível, os cenários cheios de detalhes, aliás, detalhes também não faltam nos monstros. Mas em termos de visuais, um grande destaque fica com as cut scenes, tanto as da história possuem uma ótima direção e trilha mas também as animações de combate, cada monstro vai ter um ataque especial de sincronia com o montador, e com direito a uma super animação relacionada àquele monstro, e é hype!
- Seu sistema de combate é bem único, trazendo uma experiência extremamente válida para os fãs de RPG de turno. Por ser um jogo onde se treina criaturas, muitos comparam com Pokémon, mas a verdade é que na maioria dos aspectos, não tem muito a ver e o combate é o que deixa isso mais evidente, pois aqui você tem uma party, ou seja, você luta ao lado do seu monstro ou ajudante (inclusive, pode ser jogado em cooperativo online) e ele é sobre sincronia, principalmente com os parceiros, mas também com os movimentos do inimigo, pois você contra-ataca seus movimentos para anulá-los e poder punir mais, ao mesmo tempo que enche seu medidor de sincronia com seu monstro e libera novas habilidades juntos, é um sistema de combate que representa bem o “NÓS” (você e seu monstro).
- Soube trazer elementos da série original de forma magistral. A variedade de armas está aqui também, Martelo, Berrante de Caça, Lançarma. Assim como o set de armaduras baseada nos monstros, isso não poderia faltar, e pra forjar essas armaduras, claro, você precisa de partes dos monstros, obtidas em batalhas, e os monstros tem partes específicas pra serem atingidas também, em várias batalhas você opta por atacar a cauda ou o chifre naquele turno.
- Sua história é boa, e a progressão dele auxilia bem no desenvolvimento dela, assim como as cut scenes que a gente já falou que estão maravilhosas.
Algumas coisas incomodam também: seu framerate baixo falha em ser despercebido, o combate mesmo tendo uma proposta diferenciada, às vezes é muito linear – “como assim?” – muitas vezes o jogador para não ser punido precisa fazer ações específicas, por exemplo, uma das mecânicas do combate são ataques básicos que funcionam como um jokenpô, tem 3 tipos (força, velocidade e técnica, e um ganha do outro, formando o triângulo de efetividade) e se o inimigo ataca com pedra, você precisa counterar com papel, porém em algumas batalhas isso acaba se estendendo às outras mecânicas e no fim, 70% da batalha foram de ações como essa, premeditadas. Mas a principal crítica é em relação aos saves, primeiro porque demora mais de uma hora pra você conseguir salvar manualmente, ao habilitar a opção, e ela só pode ser feito em pontos específicos, então se você está explorando uma caverna e quer salvar, vai ter que sair da caverna e ir para o ponto de salvamento ou chegar em algum ponto de salvamento automático.
Não é um jogo perfeito, mas é um dos jogos mais grandiosos do console, os famosos Triple A, no estilo “catch monsters” inclusive, talvez seja o maior deles. Inclusive, aqui vai um dado de suma importância: Stories 2 é um dos únicos JRPGs que está em português! Eu sei que muitos não jogam RPGs mais puxados para o oriental por causa disso, então AGORA É A HORA! E a dica final: o jogo tem uma demo, então, como nomeamos essa parte, não ignorem esse jogo! Afinal, como estamos dizendo ao longo de todo o vídeo, Monster Hunter Stories 2 é como uma série paralela ideal deve ser!
Tentamos não apenas analisar um jogo de forma tradicional, mas dissertar antes sobre algo que nos chamou atenção e criar ali um ponto de debate. Espero que ambas as partes tenham sido satisfatórias de se acompanhar e que ambas tenham sido complementares, essa foi a intenção.
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