Na vida, há momentos em que devemos reconhecer que estamos estagnados. Por melhor que tenhamos sido, chegará o tempo em que o caminho que trilhamos não tem mais por onde seguir. E ter a ousadia e humildade de reconhecer isso e tentar mudar, é algo que poucos fazem.
A franquia The Legend of Zelda fez exatamente isso. Ela se reinventou, deixou de lado uma fórmula que tinha desenvolvido ao longo de vários bons e excelentes jogos, mas que já estava batida e precisava de um ar renovado.
Breath of the Wild é um marco, e não só para a série Zelda como também para a Nintendo e toda a indústria dos games. Ele trouxe o ar fresco que a franquia pedia, foi o ponta pé inicial que uma Nintendo renovada com o Switch precisava e, também, foi uma aula de game design que deixou todo o mundo dos games perplexo.
Eu, particularmente, sempre tive The Legend of Zelda como franquia favorita. Ela significa muito para mim, pois o sentimento que tenho jogando cada novo game é de reencontrar um amigo de infância. Eu também passei por muitos momentos de felicidade e tristeza na minha vida e sempre tive no Zelda um refúgio para sair da realidade, para viver a alegria e melancolia de cada jogo. Jogar Zelda é algo intrínseco a minha pessoa, é algo involuntário, é algo que faço sem pensar, é viver.
The Legend of Zelda: Breath of the Wild, trouxe um sentimento misto de nostalgia e novidade. Eu me sentia igual quando joguei o Ocarina of Time pela primeira vez, algo mágico, cheio de tradição, mas que trazia coisas novas. Óbvio que são jogos diferentes, mas o sentimento é semelhante, ambos foram impactantes e trouxeram novidades, mas sem deixar de ser, tradicionalmente, um Zelda.
Mas voltemos a falar apenas de Breath of the Wild. O game traz um mundo aberto incrível, uma física refinadíssima e assustadora, além de uma direção de arte de tirar o fôlego. O foco não é o enredo, não é o Link, a Zelda ou Ganon. O foco é a Hyrule.
Jogar numa Hyrule abandonada, destruída e, encantadoramente, linda é, estranhamente, bom. Reconhecemos vários pontos importantes de Hyrule, mas todos estão abandonados e caindo aos pedaços. Ter a bagagem dos antigos jogos da franquia nos permite ter um sentimento agridoce de felicidade por reconhecer cada cantinho de Hyrule, mas triste por ver tudo acabado e esquecido.
Ao mesmo tempo que nos encantamos com essa Hyrule, conhecemos uma jogabilidade nunca antes vista na série. Uma física e controle afiadíssimos onde o jogador pode fazer praticamente tudo o que quer, inclusive, agora o Link pode pular.
Essa excelente jogabilidade alinhada à liberdade de narrativa torna o Breath of the Wild exatamente o que seu subtítulo diz: Um bafo do selvagem, um sopro de liberdade por esse mundo selvagem em que a Hyrule está tomada pela natureza.
A liberdade do game, com toda a certeza, é o ponto chave. A franquia voltou ao seu primeiro game, no Nintendinho, para buscar uma liberdade que jamais teve nos títulos seguintes. Ou seja, voltar às raízes para resgatar a essência do que o seu criador, Shigeru Miyamoto, imaginou quando criou a franquia: uma aventura de exploração.
Apesar de não ser o foco, o enredo do jogo também está longe de ser ruim. Ele é muito amplo e vai preenchendo várias lacunas com o tempo, mas seu ponto mais alto é mostrar de forma sutil a relação dos personagens, principalmente entre o Link e a Zelda. A narrativa do jogo quer que você crie sua história e dá a você toda a liberdade para escolher qualquer caminho, explicando os acontecimentos do jogo em cutscenes muito bem trabalhadas e que não tiram o sentimento de liberdade dado ao jogador.
Essa característica em que o jogador vai criar sua história combina perfeitamente com a imensidão de soluções para se resolver diversos puzzles, matar inimigos, escalar montanhas, etc. Os desenvolvedores pensaram muito nas diversas possibilidades e fizeram com que Hyrule seja vasta e solitária, mas nunca vazia, sempre terá algo a se descobrir.
Além da tradicional história em que o Link tem que salvar Hyrule e Zelda das mãos do Ganon, o game também inova e substitui as conhecidas dungeons por shrines, uma espécie de santuário com puzzles e desafios, e também por bestas mecânicas nas quais se exige um desafio maior do jogador. O jogo mantém parte de sua fórmula, mas também tenta o novo. Isso pode ter sido ruim para alguns, bom para outros, mas certamente foi um passo importante para o desenvolvimento dos futuros jogos.
The Legend of Zelda: Breath of the Wild é mais do que um jogo. Pessoalmente, acho que ele transcende a barreira dos video games e deveria ser apreciado por amantes de todas as artes. Ele não é só um dos melhores jogos da década passada, ele é um dos melhores jogos já feitos e uma obra prima que será atemporal.
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