Bravely Default: Flying Fairy Remaster - O game que virou referência

Bravely Default: Flying Fairy Remaster – O game que virou referência

Bravely Default carrega consigo um peso muito interessante. Há cerca de 20 anos, a Square Enix buscava cada vez mais “ocidentalizar” seus jogos, questionando se o estilo clássico dos JRPGs ainda faria sucesso deste lado do oceano ou se esse gênero já estaria obsoleto. Com a ajuda da Nintendo, o game lançado para o 3DS, foi localizado e comercializado no Ocidente, tornando-se um sucesso de vendas, com mais de 1 milhão de cópias vendidas fora do Japão. Esse número surpreendente foi mais do que suficiente para mostrar(e motivar) a Square de que, sim, existe uma demanda forte por JRPGs tanto em terras japonesas quanto além delas.

É graças a esse marco que hoje podemos desfrutar de jogos como Octopath Traveler, Triangle Strategy e o retorno de clássicos com o belíssimo visual HD-2D, como o remake de Dragon Quest III. O sucesso de todos esses títulos mostra que a Square acertou em sua decisão.

Carregando toda essa bagagem, o game recebeu um remake para trazer um toque extra de vida a um dos títulos mais brilhantes da memorável biblioteca do 3DS. Mas, em 2025, ele ainda é capaz de encantar o jogador? Vamos descobrir

História

Bravely Default: Flying Fairy Remaster - O game que virou referência

Visando evitar spoilers para aqueles de primeira viagem, sera abordado apenas o contexto e o que esperar da história.

O game se passa no mundo de Luxendarc, onde quatro cristais elementais — água, fogo, terra e vento — mantêm o equilíbrio do mundo. Cada cristal é protegido por uma Vestal, uma espécie de sacerdotisa. Uma misteriosa força maligna acaba corrompendo esses cristais, e o mundo se vê à beira do caos.

Vítima direta dessa corrupção, Tiz, um simples fazendeiro que levava uma vida monótona na vila de Norende, vê tudo o que conhecia ser destruído diante de seus olhos em um cataclisma… e então desmaia. Ao acordar, Tiz descobre que foi resgatado e se encontra na cidade de Caldisla, que já estava em estado de alerta. Corriam rumores de que a Vestal do Vento estava sendo caçada pelas forças do Império de Eternia.

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Em fuga, Agnés, a própria Vestal do Vento, acompanhada da fada Airy, acaba cruzando seu caminho com o de Tiz. Ao ouvir sobre toda a história da corrupção dos cristais e entender que Agnés estava em uma missão tão honrada quanto perigosa para restaurá-los, Tiz se comove e decide acompanhar a garota em sua jornada, tomado por uma força de vontade inabalável e pela esperança de restaurar não apenas sua antiga vila, mas o mundo inteiro.

Mais adiante na história, os protagonistas encontram Ringabel, um misterioso galanteador que sofre de amnésia. Como se isso já não fosse estranho o suficiente, ele carrega consigo um diário capaz de prever com exatidão os eventos futuros. Espantosamente, o diário menciona não só Tiz, mas também Agnés. e todo o segredo de ela ser uma Vestal. Mesmo com certa resistência, Ringabel se une à missão de restaurar os cristais, na esperança de descobrir quem ele realmente é e qual é o verdadeiro significado daquele diário.

Antes parte das forças inimigas, Edea é uma guerreira corajosa. Ela se une ao grupo após discordar profundamente dos métodos de Eternia, tornando-se a quarta protagonista e partindo com o grupo em sua missão de salvar o mundo, purificando os cristais.

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Sendo um JRPG em seu estilo clássico, a história parece, num primeiro momento, se desenrolar de forma bastante linear. Mas, aos poucos, você percebe que a aventura não é bem aquilo que esperava. A cada vitória, novos mistérios surgem, enquanto o jogo vai “estourando” plots que, mesmo quando não são os mais imprevisíveis, conseguem ser chocantes e memoráveis.

A jornada, que já tinha tudo para ser épica, vai ganhando novas camadas que adicionam um novo sentido à aventura. É criativa e, somada aos elementos artísticos (que será abordado logo mais), o conjunto da obra se torna simplesmente fascinante.

Gameplay

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Bravely Default segue a fórmula clássica dos RPGs japoneses, mas com leves toques de modernidade que oferecem uma qualidade de vida extra ao gênero. A começar pela exploração dos cenários, onde sempre é positivo conversar com os NPCs e encontrar itens escondidos em elementos do ambiente.

As famigeradas batalhas por turnos estão presentes, e seus encontros, como de praxe, são aleatórios ao se andar por regiões perigosas. Todavia, o game permite que o jogador manipule a frequência com que esses encontros ocorrem, podendo maximizá-la, caso o foco seja aumentar o nível da party (acredite, você vai precisar), ou diminuí-la (podendo até zerar completamente mais adiante), caso o objetivo seja apenas caminhar tranquilamente até o próximo destino.

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É justamente dentro das batalhas que as principais implementações do game brilham. Em Bravely Default, temos a típica batalha por turnos, com seleção de ataques, magias, itens e até um golpe especial poderoso (que pode ser customizado!) caso um pré-requisito específico, dependendo do golpe equipado, seja alcançado. Mas o diferencial vem com a implementação criativa de um sistema de “economia de turnos” através dos comandos Brave e Default.

Basicamente, no canto inferior da tela durante a batalha, abaixo dos ícones de cada personagem, é possível observar um número de “ações” que pode ser manipulado e que, ao fim de cada turno, sempre aumenta em +1. Usando o comando Brave, o personagem pode realizar até 3 ações extras no mesmo turno. Ao fazê-lo, esse número é reduzido, e, caso ele fique negativo no início do turno seguinte, o personagem ficará totalmente imóvel até que o saldo de ações volte a 0.

Em contraparte, o comando Default funciona como uma evolução dos típicos comandos de defesa: você opta por não agir naquele turno, sofre menos dano e, de quebra, acumula um ponto de ação para usar futuramente com o Brave.

Só essas duas mecânicas já tornam as batalhas muito mais dinâmicas e estratégicas, exigindo do jogador planejamento não apenas do turno atual, mas também dos próximos.

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Ainda falando de combate (agora no aspecto de desenvolvimento dos personagens) temos os chamados jobs, que nada mais são do que as classes dos personagens. Diferentemente da maioria dos RPGs, em Bravely Default os personagens não possuem uma classe fixa ou exclusiva. Durante a campanha, seja na rota principal ou realizando missões secundárias, o jogador terá acesso a Asteriscos, que nada mais são do que classes específicas para atribuir aos seus personagens, cada uma com estatísticas, habilidades ativas e passivas, suportes e proficiência com armas diferentes.

Cada personagem evolui o nível de cada classe individualmente, conforme vai utilizando-a. É uma barra de XP separada daquela do personagem em si. E aí vem o pulo do gato: é possível equipar até dois jobs diferentes por personagem. Dá pra ver que os criadores queriam mesmo oferecer uma vasta gama de teambuilding ao jogador, incentivando que ele explore todas as possibilidades. Portanto, use e abuse da sua criatividade e das sinergias entre as classes para montar um time imbatível do seu jeito!

Durante a gameplay, ao explorar as cidades de Luxendarc, é possível se deparar com “espíritos” de outros jogadores, que você pode coletar para invocá-los em batalha ou para ajudar na reconstrução de Norende — onde eles se tornam mão de obra para construir e evoluir instalações em troca de recompensas.

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Uma das poucas novidades que o remaster traz em relação ao jogo original são os minigames que utilizam a função de giroscópio/mouse dos Joy-Cons. Um deles é um jogo de ritmo, onde é preciso realizar as ações nos tempos certos; o outro é uma demonstração hilária da verdadeira complexidade que é para o Ringabel pilotar aquele dirigível.

São minigames divertidos por si só, até oferecem algumas recompensas e progridem junto com a história, mas dificilmente serão lembrados como um fator decisivo na hora de alguém pensar se vale a pena comprar Bravely Default. São uma adição simples (e só) que deixa aquele gostinho de “Poxa, será que não dava pra terem adicionado mais coisas novas?”

Com todos esses elementos criativos em jogo, uma boa fluidez durante a exploração é essencial para que o game não pareça travado. E, em Bravely Default, o sentimento de harmonia e amizade da party é tão bem construído, dentro de suas dificuldades, que as interações entre os personagens, mesmo fora das missões, sempre reacendem aquela chama da jornada.

Dicas do Dudu:

  • Não abuse tanto da redução dos encontros aleatórios, pois o jogo exige certo nível de grinding.
  • Acumule sempre alguns Defaults com o personagem destinado a ser healer, para casos de emergência.
  • Contra monstros de nível baixo, geralmente usar o Brave 4x com cada personagem resolve o problema antes que eles possam se mover — mas cuidado, porque a retaliação pode vir muito forte caso algum sobreviva.
  • Atribua uma função clara para cada personagem, assim fica mais fácil direcionar quais classes vão combinar melhor com cada um.
  • A habilidade Examine, do Freelancer, é muito útil.

Arte

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A direção de arte do game passa ao jogador a sensação de estar jogando dentro de um livro ou melhor, dentro de uma pintura em movimento. Os cenários são extremamente criativos e bem elaborados, e as cutscenes são dignas de admiração. O remaster trouxe apenas alguns toques extras de beleza ao game, mas nada que realmente impressione ou mude drasticamente a experiência original.

A trilha sonora do game é impecável, de verdade, um dos grandes pontos fortes da obra.

As duas opções de dublagem presentes são boas, com destaque para a japonesa, que consegue refletir muito bem a personalidade das personagens, que, aliás, são um dos grandes destaques do jogo. Todos os protagonistas são únicos e carismáticos, cada um com seu próprio destino dentro da jornada conjunta. Ver as interações entre eles é sempre interessante.

Os diálogos são muito bem escritos, com um humor na medida certa. Dá pra ver claramente de onde Octopath Traveler tirou inspiração.

Conclusão

Bravely Default: Flying Fairy Remaster - O game que virou referência

Bravely Default: Fliyng Fairy Remaster HD Remaster é, basicamente, uma forma de recolocar os holofotes sobre o marcante jogo de 3DS, agora com alguns retoques visuais e dois minigames até que divertidos, mas que acabam passando a sensação de serem apenas uma demonstração da nova funcionalidade dos Joy-Cons.

O game entrega uma boa história com plots sólidos, trilha sonora impecável, cenários criativos, personagens carismáticos, gameplay envolvente, ou seja, um excelente JRPG em toda a sua essência.

As implementações no tradicional combate por turnos foram muito bem-vindas e trouxeram uma dinâmica e estratégia completamente diferentes, cada batalha tem o seu próprio ritmo. A possibilidade de teambuilding também veio muito a calhar, já que a sensação de ver os combos encaixando é extremamente prazerosa.

Ver as interações entre os personagens é sempre um prazer, de tão bem escritos que são, e isso dá ao game um ritmo excelente, algo essencial para que um JRPG tradicional como esse se torne um jogo de sucesso.

Recomendo bastante para todos os públicos: seja para os veteranos do gênero, seja para quem quer desbravar e conhecer o mundo dos RPGs japoneses. Todavia, realmente não vejo como recomendá-lo para quem já jogou no 3DS, já que as mudanças são mínimas, a não ser que o jogador realmente esteja com vontade de revisitar o game com esse pequeno upgrade visual.

Bravely Default: Flying Fairy Remaster - O game que virou referência
Bravely Default: Fliyng Fairy Remaster
Veredito
Bravely Default: Fliyng Fairy HD Remaster é, no fim das contas, uma forma de reacender os holofotes sobre um dos grandes JRPGs do 3DS, agora com retoques visuais e dois minigames simpáticos, mas que mais parecem testes de função dos Joy-Cons. A obra entrega tudo o que se espera de um bom RPG japonês: história sólida, trilha sonora impecável, cenários lindos, personagens carismáticos e um sistema de combate por turnos repaginado que adiciona estratégia e dinamismo a cada batalha. A liberdade de teambuilding e os diálogos bem escritos dão ritmo e personalidade à jornada, tornando a experiência cativante do começo ao fim. É altamente recomendável para quem quer entrar no mundo dos JRPGs ou reviver essa era dourada do gênero, mas para quem já jogou no 3DS, as novidades são poucas e não justificam o retorno, a não ser, claro, por pura saudade de Luxendarc.
Design
85
Trilha Sonora
100
Gameplay
90
Diversão
95
Custo x Benefício
80
Prós
Ótimo sistema de combate.
Trilha sonora incrível.
Personagens carismáticos.
Boa narrativa.
Contras
Não está disponível em português.
Não teve mudanças significativas em relação ao game original.
90
Nota Final

Bravely Default: Flying Fairy HD Remaster is, in the end, a way to shine the spotlight once again on one of the great JRPGs from the 3DS era, now featuring visual enhancements and two charming minigames that feel more like Joy-Con function tests. The game delivers everything you’d expect from a solid Japanese RPG: a compelling story, an impeccable soundtrack, beautiful environments, charismatic characters, and a revamped turn-based combat system that adds strategy and dynamism to every battle. The freedom in team building and well-written dialogues give rhythm and personality to the journey, making the experience captivating from start to finish. It’s highly recommended for those looking to get into the world of JRPGs or to relive the genre’s golden age. However, for those who already played it on the 3DS, the new content is minimal and doesn’t quite justify a return—unless, of course, it’s out of pure nostalgia for Luxendarc.

Nota do Editor: Bravely Default: Fliyng Fairy Remaster HD Remaster foi analisado no Nintendo Switch 2. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela  Square Enix para avaliação.]


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Apaixonado pela Nintendo, decidi colocar em palavras algumas das minhas aventuras em mundos com espadas, dados, magia, cartas, e de tudo um pouco. Já venci alguns torneios de Mario Kart por aí e acabei sendo o campeão brasileiro de Mario Strikers uma vez.