Obras de arte marcam a história do mundo mesmo que anos depois as novas gerações não entendam ou não a apreciem da mesma forma de como foram concebidas. O mesmo acontece com contos, histórias e é claro, videogames. No gênese dos jogos digitais, no ápice da novidade, PAC-MAN desbravou o mundo e criou uma das mais famosas marcas de todos os tempos, que assim como a premissa anterior, hoje não possui a mesma aderência com a nova geração.
Porém, para manter a marca sempre viva, a Bandai Namco vêm lançando jogos de diferentes gêneros com a “skin” de Pac-Man em datas comemorativas para alcançar jogadores fora da bolha da nostalgia, e nessa estratégia tivemos como comemoração de 45 anos não apenas o jogo Shadow Labyrinth, mas também um episódio da série Secret Level (Prime Video) que se relaciona ao jogo e nos mostra uma outra faceta da charmosa bolinha amarela.

Referências
Embora inicialmente não pareça, Shadow Labyrinth é sim uma releitura do que poderia ser a história de Pac-Man em um contexto sci-fi dando novas roupagens a diversos elementos desse clássico. Além de, a nível de jogabilidade, termos referencias a diversos Metroidvânias do mercado, a história traz também elementos do gênero literário ISEKAI, muito comum em mangás e animes no Japão e participações de elementos de outras franquias clássicas da Namco (chamada de Bandai Namco após sua fusão). Muitas das quais exigem que tenhamos jogado tais jogos que podem não ser tão claras para todos os jogadores.
História
Ano de 2025, alguém está sentado em alguma caçada jogando algo em um portátil.
Data Estelar ano 3333, Robôs gigantes.
Seguindo os protocolos de segurança da UGSF, e a bordo de um grande robô azul chamado GAIA, começamos nossa aventura em meio a uma batalha de robôs gigantes onde vamos contra invasores sem nenhum medo de qualquer dano que pudesse levar e então surge um outro robô maior e de cor magenta que fica sobrevoando o local. Após a pequena batalha contra esse que nitidamente exala um ar de chefe sirenes começam a tocar e após o disparo de um raio de ondas todo o local explode.


Enquanto isso uma consciência transita entre planos astrais com diversos portais e então, em algum lugar inóspito e sem nenhuma memória ou capacidade de fala despertamos dentro de uma máquina envolto de uma capa com capuz e em uma forma que apesar de ser humanoide, não se assemelha muito a um ser humano. Diante de nós está um objeto redondo e amarelo que flutua e se comunica conosco abrindo e fechando um apêndice mecânico imitando o funcionamento de uma boca. Ele nos chama de oitavo espadachim, se autodenomina PUCK (que nos é extremamente familiar, não é mesmo?) e seguindo seus comandos levantamos da cápsula caminhando nesse que parece ser o subterrâneo de algum lugar abandonado.
Sem saber quem somos, aonde estamos e pra onde iremos, damos nossos primeiros passos nesse mundo hostil em silencio e sempre obedecendo ao que PUCK nos diz, não que tenhamos muitas outras opções, afinal há uma linearidade a ser cumprida aqui e a menos que você sobreviva aos inúmeros labirintos espalhados por esse mundo, jamais saberá quem é ou o que está acontecendo.



Após algumas instruções PUCK nos pede para pegar uma espada que estava fincada no chão mas um escudo de força não deixa e quando até mesmo PUCK parece perder as esperanças uma entidade se revela e nos entrega uma manopla chamada ACTIV e com ela podemos agora abrir caminho através de labirintos, biomas e os mais diversos monstros que nos esperam.
Seguindo por ambientes escuros, repletos de perigos e referências a outros jogos, Shadow Labyrinth não entrega a história para você e sim te instiga a explorar e avançar cada vez mais para descobrir o que está acontecendo, quem é você, o que é PUCK, qual a missão de vocês, de quem são os fragmentos de memória que coletamos e quem são os personagens que encontramos no decorrer do caminho.

Gameplay
Shadow Labyrinth é um metroidvânia puro com muito foco em exploração contendo diversas mecânicas de combate, colecionáveis e melhorias tanto trocando recursos obtidos quanto enfrentando chefes.
Vida, Ação, Cura
São os elementos do canto superior esquerdo da tela. Nele temos uma barra azul que é a nossa vida, uma barra vermelha que é a barra de ação e um ícone que representa a poção de cura. A vida é auto significativa, conforme sofremos dano, ela reduz e caso reduza por completo morremos. A barra de ação se auto regenera com o tempo e com ações de combate e é usada para golpes especiais, esquivas e algumas outras habilidades especiais.
As poções de cura são usadas ao pressionar o botão ZR e curam de vinte a trinta porcento da sua vida total. Porém são limitadas (iniciamos o jogo apenas com uma) e só podem ser recuperadas ao passar por um ponto de salvamento.
GAIA, o robô indestrutível
Abaixo desse conjunto temos o símbolo de GAIA, o robô que controlamos na intro do jogo. Esse símbolo translucido será preenchido consumindo inimigos e após determinado nível ele se torna “iluminado” indicando que a transformação em GAIA está liberada. Nesse modo uma barra rosada aparecerá e será consumida com o tempo ou a cada golpe que levar, enquanto isso você assumirá uma forma robótica com garras que é invulnerável, ou seja, qualquer dano nessa forma não tira sua vida. Além disso essa forma é capaz de andar por espinhos e outros perigos do ambiente além de ter um “dash” que cobre uma distância muito maior.
Enquanto “pilotamos” GAIA, podemos atacar com as garras e novas possibilidades são liberadas conforme se avança no jogo. E quando um inimigo é derrotado, podemos consumi-lo pressionando L3 e R3 juntos. Porém consumir recupera a energia do ícone de GAIA, e não a barra caso estejamos nesse modo.
Comer é viver, e viver é melhorar a si mesmo
Fora do robô também podemos consumir inimigos derrotados pressionando os mesmos botões (L3 e R3 juntos) e uma silhueta do robô aparecerá e consumirá os inimigos. Isso não apenas aumentará sua reserva de energia para transformação em GAIA mas também te renderá alguns itens que servem para melhorar nossa chance de sobrevivência nesse lugar.

Miku SOL, Checkpoints e Ora
Há dois tipos de pontos de salvamento aqui, um básico que serve apenas para salvar seu progresso e te recuperar (checkpoint), já o outro possui mais funcionalidades como a viagem rápida entre os mapas gestão de habilidades e melhorias. Nesse é onde podemos trocar itens que obtivemos via consumação dos inimigos por melhorias em dano da arma principal, mais energia para barra de ação e outros mais. Conforme avançar no jogo ganharemos mais habilidades e aqui também podemos selecionar qual habilidade estará ativa.

Além desses itens mencionados, os inimigos também derrubam um mineral amarelo quando derrotados (se lembra das bolinhas amarelinhas do Pac-Man?) e esse mineral chamado Ora é a moeda desse jogo. Moeda essa usada aqui no ponto de salvamento e também com alguns NPCs que nos vendem equipamentos e até mesmo algumas habilidades. Assim como na maioria dos metroidvânias há um limite de quantas melhorias equipáveis conseguimos colocar inicialmente (como os broches em Hollow Knight).
Batalha e Movimentação
Em Shadow Labyrinth devemos abrir caminho através de armadilhas e monstros que não nos darão trégua e por esse motivo o jogo está repleto de desafios. Tanto monstros como o próprio ambiente causa dano em determinados biomas então lutar é sobreviver.
Logo no começo temos acesso a principal arma do jogo, uma espada com a qual podemos atacar em diversas direções usando o botão Y e para portar tal arma ganhamos junto uma manopla que nos permite também dar um golpe capaz de atordoar alguns inimigos pressionando para baixo + Y ao mesmo tempo.
Conforme avançar na história, algumas habilidades de combate serão liberadas como um golpe de onda de choque e um escudo capaz de nos proteger de projéteis. Essas habilidades são acionadas pressionando o botão L e elas consomem um pouco de energia da barra vermelha. Também é possível esquivar de golpes e algumas ameaças do mapa usando o botão R e caso esteja abaixado isso se transforma em um slide, mais a frente utilizamos o mesmo botão para dar dash enquanto no ar. E claro, como mencionado acima, no modo GAIA podemos atacar com as garras do robô usando Y.
Sempre que possível, e quando estiver próximo de um chefe, revise as melhorias e habilidades equipadas pois isso certamente fará a diferença.
Wakka-wakka-wakka
Há em diversos locais espalhados pelo mapa certas salas onde possuímos um piso diferente e metálico que após um evento se revelam ser trilhos adaptados para outra grande referência pois, ao entrar em contato, nos faz mudar de forma para o Mini Puck e andamos no clássico estilo Pac-Man. Caso tenha comprado a DLC ou esteja jogando a versão Deluxe, os sons do arcade de PAC-MAN poderão ser ouvidos nesse momento.
Enquanto encolhidos e dentro do Mini Puck, o movimento padrão é automático seguindo sempre na direção que está olhando, mas isso pode ser alterado pressionando L que muda para o modo de movimentação manual. Para atacar continuamos usando Y, porém o ataque segue com um golpe de espada giratório e retornando ao Mini-Puck.
Dificuldade e Chefes
O jogo possui uma dificuldade baixa nos inimigos em geral e todos sinalizam antes de atacar com uma luz vermelha ou azul. A primeira é possível bloquear e com isso aproveitara brecha em um contra ataque, já a luz azul não é possível ser bloqueada então cuidado!
Após reconhecer o padrão de alguns deles, fica muito fácil derrotar ou se esquivar. O mesmo acontece com os chefes, porém esses possuem uma barra extra além da enorme barra de vida que quando reduzida a zero deixa o chefe atordoado por alguns segundos. Talvez não sobreviva a alguns dos muitos chefes de primeira, mas nada que pegar o ritmo dele não resolva.

Há um outro fator de dificuldade no jogo que pode frustrar muitos, assim como me frustrou um pouco, e ele está na quantidade de puzzles existentes no mapa. Não são puzzles difíceis, mas muitos te forçam voltar ao início da dinâmica ao receber dano e existem trechos de mapa repleto deles.
Design e Trilha Sonora
Aqui tenho duas boas noticias e uma bem ruim. A começar pelas boas, Shadow Labyrinth leva muito a sério seu nome e aplica labirintos em muitos de seus biomas. É fácil se esquecer de onde está ou pra tem que ir, mas isso não é inteiramente ruim. Se perder faz parte da ideia e, a menos que não fique muito tempo sem jogar, não será um problema.
Outra belezura está na trilha sonora que não cansa nem enjoa, essencial em ambientes labirínticos pois alguns biomas te farão gastar um bom tempo ali. Os efeitos sonoros soam muito bem e com uma ótima resposta aos comandos dados.
Legal e divertido, mas….
Agora vamos ao que azedou a experiência boa parte do tempo: Gráficos. Não costumo ser alguém que se importe com realismo gráfico, raytracing, 4k, 140hz e etc… Muitas dessas coisas eu nem mesmo sei sua real definição, mas notei (e me incomodei) com a baixa qualidade de alguns gráficos e animação dos personagens e inimigos em jogo.
A primeira impressão que ficou foi a de que é um jogo indie de baixo orçamento com poucos frames nas animações e alguns serrilhados em objetos redondos. Além de que o acabamento final passou também essa ideia de arte com muita I.A. envolvida. Pode ter sido a colorização ou estilo de cores.. não consegui achar o real culpado, mas isso me incomodou a ponto de perder a vontade de jogar por alguns dias.
“Poxa, mas só por isso, por um detalhezinho desses?” Infelizmente, esses detalhes estavam em todo o gameplay com animações rudimentares (minha principal estranheza) e somando com os menus do jogo, eram itens de uma qualidade inferior ao que se esperaria de um produto da Bandai Namco, ou pelo preço cobrado.



Tempos depois, após assistir novamente o episódio de Secret Level, voltei ao jogo pela curiosidade com a história, que é muito boa por sinal. Com o tempo o estranhíssimo diminuiu (mas não foi embora) e segui com a gameplay.
Edição Deluxe
A versão que nos foi concedida para análise foi justamente a versão Deluxe e nela contem de extras três itens:
- Pacote de Audio Fliperama PAC-MAN: Um pacote que adiciona alguns efeitos sonoros do fliperama de PAC-MAN ao jogo, como por exemplo, o som de “Wakka-Wakka-Wakka” do Mini Puck ao correr pelos trilhos.
- Trilha sonora e Livro de Arte Digital: Sendo acessado por uma opção no menu principal da tela de início do jogo, temos acesso ao Livro Digital, in game, com sessenta e quatro artes conceituais e esboços das primeiras ideias sobre Shadow Labyrinth e podemos degustar cada arte enquanto ouvimos a trilha sonora desse jogo separada em faixas.
Detalhes Técnicos
O jogo é bom, sim. A história é boa, sim. Mas parte da performance gráfica me causou um desconforto que não justifica o preço do mesmo. Ainda assim, é uma boa escolha aos mais velhos e nostálgicos. Está por R$ 149,50 reais na eshop brasileira tanto na versão Nintendo Switch quanto Nintendo Switch 2 e inclusive possui um pacote de melhorias gratuito para quem pegar a versão de Switch. Já a versão Deluxe está custando R$ 199,50 reais.

Shadow Labyrinth is a game celebrating 45 years of Pac-Man and offers a great “what if the game were like that?” possibility. Mysterious, labyrinthine, full of references, and with a deep, thought-provoking story. Unfortunately, the high price for the image quality delivered may scare off new players, but it’s certainly a full and refreshing dish for the old guard.
[Nota do Editor: O jogo Shadow Labyrinth Deluxe Edition foi analisado a partir de um Nintendo Switch 2 cuja chave foi gentilmente cedida pela Bandai Namco]
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