Um título considerado por muitos como um dos maiores e mais importantes games da história, Final Fantasy Tactics – The Ivalice Chronicles marca o ressurgimento do lendário RPG tático da Square Enix para os dias atuais, provando ao mundo dos games que quem foi rei nunca perde a majestade. Mas afinal, o que faz um jogo tão antigo ainda ser capaz de oferecer uma experiência inesquecível, mesmo 28 anos após o seu lançamento e com apenas alguns retoques? Confira abaixo:
História

A começar pelo fator que traz a grandeza devida a muitos jogos do gênero RPG, com destaque para a franquia Final Fantasy: as suas histórias. E Final Fantasy Tactics, honrando o apelido de rei dos jogos táticos, não fica nada atrás.
É uma história épica em todos os sentidos. Ramza, o protagonista, nasceu em uma família bastante prestigiada e enfrenta todos os benefícios e malefícios que um sobrenome tão pesado carrega. Buscando fazer aquilo que acha justo e proteger quem ama, a trama se desenrola com um ritmo tão bom quanto o seu roteiro (que foi reescrito para se encaixar melhor na nova proposta, com diálogos dublados), algo bastante raro de se obter. Traições, manipulações, busca desenfreada por poder, conflitos morais e tudo que uma boa história medieval tem direito. É realmente empolgante e imersiva.

O que torna esse game lendário e atemporal é o carinho pelo seu universo. Mesmo com as limitações que a época impunha, as, em média, 35 horas de história passam a sensação de serem o triplo, de tanto conteúdo que entregam. A cada capítulo, a história ganha mais profundidade; novos lados da mesma moeda surgem, e a trama começa a seguir por um caminho inesperado após a chuva de informações novas que são dadas ao jogador, que fica cada vez mais preso à trama. Para auxiliar o jogador a compreender tudo, estão disponíveis, nos menus, diversas anotações e replays sobre os eventos ocorridos.
Arte

O grande diferencial da versão enhanced. Apesar das melhorias serem apenas alguns retoques para que não houvesse um estranhamento nos dias atuais, esses pequenos aprimoramentos são o necessário visto que não há motivo para mudar algo que já é considerado perfeito por tantos.
O game está lindo. Foram feitas melhorias manuais em todos os desenhos do game, incluindo a cutscene inicial que se tornou um verdadeiro colírio para os olhos. A trilha sonora, considerada por muitos como a melhor (ou uma das melhores) da história, permanece intacta e impecável, sendo uma das grandes responsáveis pela ambientação épica que o game carrega. Os menus e a interface estão mais modernos e agradáveis, mas o maior destaque em relação à versão original está, sem dúvidas, na dublagem do game (infelizmente não disponível em PT-BR). Ouvir os personagens falando não apenas traz mais personalidade a eles, como também torna os diálogos muito mais impactantes e leves de acompanhar.

Tanto as vozes em inglês quanto em japonês têm ótimas interpretações, e o texto, como é de praxe por parte da Square, é muito bem escrito, com escolhas de palavras que expressam perfeitamente o cenário em que o game se passa. A atmosfera medieval e grandiosa é reforçada pela linguagem arcaica, que constrói frases dignas de uma peça teatral, algo que a Square adora fazer. Todavia, mesmo que o resultado seja majestoso, o uso dessa “linguagem morta” acaba afastando os jogadores brasileiros que não dominam uma segunda língua, ressaltando novamente a importância da localização em vários idiomas. Algo que, infelizmente, não ocorre em The Ivalice Chronicles.
Gameplay

Corroborando com a atmosfera de batalhas grandiosas que a narrativa propõe, o estilo de combate tático casou perfeitamente com a proposta, já que as lutas aqui são infinitamente mais complexas e imersivas do que o famoso combate por turnos padrão da franquia.
No início de cada batalha, o jogador pode escolher até cinco unidades para entrar em campo e posicioná-las de acordo com a estratégia planejada. A ordem dos turnos de cada personagem é determinada pela sua velocidade e pode ser observada na valiosa linha do tempo exibida no canto esquerdo da tela.
Em seus respectivos turnos, cada personagem pode se mover e realizar uma das seguintes ações: atacar, usar alguma habilidade de classe ou esperar estrategicamente (o que faz seu próximo turno chegar mais rápido). Durante o desenrolar da história, Ramza contará com o apoio de personagens especiais que não podem ser controlados pelo jogador, algo que também é possível configurar na própria party através do auto-battle, sistema que faz o personagem seguir uma ordem específica e agir conforme ela.
Interessante para iniciantes… mas quem realmente quer perder o controle do próprio boneco?

No que diz respeito aos personagens em si, entramos em mais um dos aspectos geniais do game: a customização. Literalmente qualquer personagem pode aprender qualquer classe e desempenhar a função que o jogador quiser, abrindo espaço para infinitas combinações e estratégias. Isso permite que cada jogador jogue do seu jeito, explorando ao máximo a sua criatividade.
Cada personagem deve escolher uma classe primária, da qual recebe os devidos stats e habilidades, e uma secundária, cujas habilidades também ficam disponíveis. Mas o pulo do gato está no fato de que é possível equipar habilidades passivas e de movimento de qualquer classe, mesmo que ela não esteja selecionada como primária ou secundária, o que abre um leque ainda maior de possibilidades para o teambuilding.
Para adquirir tais habilidades, os personagens ganham, além de XP, pontos de classe ao realizar ações úteis em combate. Esses pontos podem ser trocados para desbloquear novas habilidades, mas apenas da classe primária equipada. Novas classes são liberadas conforme o jogador atinge certos níveis em classes anteriores. Ramza e outros personagens especiais possuem classes exclusivas e poderosas, mas também podem ser trocadas livremente caso o jogador deseje.

Fora de combate, o game conta com um mapa-múndi que serve tanto para localizar a história quanto para selecionar qual fase jogar. As fases que acontecem em regiões selvagens, fora das cidades, podem ser rejogadas para treinar suas tropas e acumular XP e pontos, algo essencial, já que o game exige um certo grinding.
Após missões bem-sucedidas em cidades, elas ficam disponíveis no mapa para visitar lojas (cada classe possui categorias específicas de equipamento; um Black Mage, por exemplo, não pode vestir uma armadura de placas), recrutar novas unidades e acessar tavernas para ouvir rumores. Esses que servem tanto para expandir ainda mais o universo do game quanto para desbloquear side quests. Também é possível enviar tropas em expedições para ganhar experiência e recompensas, mas cuidado: elas ficarão indisponíveis durante o tempo in-game exigido pela missão.
The Ivalice Chronicles possui três modos de dificuldade: Squire (fácil), Knight (normal) e Tactician (difícil). A dificuldade normal já é um pouco exigente, então jogadores de primeira viagem podem sofrer um pouco até pegarem o jeito mas, depois disso, o combate se torna extremamente prazeroso de jogar.
Dicas do Dudu:
- Partir direto para a ofensiva nem sempre é a melhor alternativa. Principalmente com classes frágeis, mas de alto dano e mobilidade, como os Ninjas, esperar que o inimigo dê o primeiro passo pode ser uma ótima estratégia. Isso permite eliminar unidades mais importantes e ainda encerrar o turno em uma posição mais segura. Passar o cursor sobre os inimigos enquanto escolhe o movimento mostra até onde eles podem andar no turno deles, uma informação valiosa para se aproximar sem correr riscos.
- Nem sempre uma classe mais difícil de desbloquear é melhor do que as anteriores. Por exemplo, o Knight pode não ter as habilidades mais úteis, mas é capaz de usar os melhores equipamentos do jogo. Já os Chemists são excelentes healers, pois podem curar imediatamente nos próprios turnos, sem precisar esperar o tempo de canalização de uma magia curativa..
- Posicionamento é fundamental e o jogo pune severamente quando uma unidade frágil fica exposta. Tenha isso sempre em mente.
- É extremamente recompensador deixar a criatividade rolar na hora de montar personagens poderosos e se empenhar nesse processo. Ralar para desbloquear uma classe apenas por causa de uma habilidade passiva pode ser o diferencial que transforma uma unidade em algo exponencialmente mais forte. Por exemplo: treinar um Monk até ele desbloquear a classe Ninja faz com que possa atacar duas vezes por turno com seus punhos poderosos, resultando em uma unidade absurdamente forte que nem precisa de armas para causar estrago.
- Mas existe um jeito de upar uma classe rapidamente sem tornar o treinamento cansativo? Sim! Basta seguir estes passos:
- Treine a classe Squire na unidade desejada até que ela aprenda as habilidades Focus e JP Boost.
- Tenha ao menos um Knight na party com a habilidade de reduzir a velocidade de um oponente.
- Entre em uma batalha de treinamento selvagem e elimine todos os inimigos, deixando apenas um vivo.
- Fique repetindo a redução de velocidade nesse inimigo enquanto usa a habilidade Tailwind de Ramza na unidade que está sendo treinada.
- Aproveite os vários turnos consecutivos apenas usando Focus na classe secundária para acumular pontos na classe primária desejada.
Além da versão Enhanced, também está disponível a versão clássica, ideal para quem quer reviver a experiência nostálgica de 1997. Em relação ao game original, ela traz autosave aprimorado, correções de bugs e algumas melhorias vindas de War of the Lions.
Conclusão

O grande ponto forte de Final Fantasy Tactics – The Ivalice Chronicles está justamente em trazer de volta a possibilidade de jogar esse clássico lendário nos consoles atuais. As melhorias são simples mas extremamente bem-vindas, já que o game só precisava desses pequenos retoques para ser devidamente reapresentado aos novos jogadores.
A história é empolgante como um livro épico, e a dublagem adiciona uma camada extra de emoção, tornando o ritmo perfeito de acompanhar mesmo em meio às palavras rebuscadas e arcaicas. Somada à trilha sonora impecável, a experiência se torna imensamente imersiva a ponto de ser impossível não se sentir na pele de Ramza e estar completamente envolvido pela narrativa.
O sistema de batalhas é profundamente envolvente, exigindo e recompensando estratégias bem elaboradas. Aliado às infinitas combinações possíveis ao treinar personagens, o jogo apresenta um fator de replay surpreendentemente alto, mesmo sendo um título tão antigo. Afinal, dependendo das tropas levadas a campo, uma campanha pode se tornar completamente diferente da outra.
É um game que deve ser jogado por todos. A única ressalva fica por conta da falta de localização em mais idiomas, o que infelizmente priva muitos jogadores de vivenciarem plenamente uma história tão grandiosa.
Final Fantasy Tactics – The Ivalice Chronicles is the return of a timeless classic. With just a few necessary improvements, everything was done with care to preserve and reintroduce to the world the grandeur of its story and the emotional weight of its journey. The voice acting and soundtrack take immersion to another level, while the battle system and strategic possibilities ensure a very high replay factor. The only drawback is the lack of localization in more languages, standing out as a minor flaw in an otherwise impeccable work worthy of its legacy.
[Nota do Editor: Final Fantasy Tactics – The Ivalice Chronicles foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Square Enix para avaliação.]
Deixar uma resposta