O sol nascia quando G@byGamer2006 terminou aquela fase do Mario Galaxy 2 do Wii, sabe aquela que você tem que rodar o planeta todo para acertar o chefe antes dele se recuperar totalmente? Ela odeia essa fase. Não é justo que alguns chefes de fase de qualquer jogo possam recuperar suas vidas sem nenhum esforço enquanto temos que cavar corações e salvar qualquer pedacinho de vida. Também não é justo ter que jogar em um console emprestado de 2000 e sei lá quando só porquê seus pais acham que vídeo game é coisa de menino.
Se fossem só eles tudo bem, (ou não) talvez fosse pior se fossem só eles, porém o mundo todo pensa assim. Tá bom, não é o mundo todo que pensa assim, existem as maravilhosas exceções que por algum motivo inexplicável quase nunca aparecem para jogar na sua equipe. Ela dizia que as meninas tem que ralar o triplo para, não só passar dessas fases malditas mas, também superar todo descrédito e ódio apenas por serem mulheres e melhores no jogo que muito marmanjo cheio de si, mimado com todos os consoles que você possa imaginar.
Esses pensamentos antes de dormir eram sempre sobre coisas bem óbvias para a sua cabecinha cansada, só não eram para o resto do mundo, afinal se todo mundo já chama o jogo de Zelda quando vamos jogar apenas com ela? Quando a princesa vai salvar o Mario? Cadê o novo Metroid? Eles acham mesmo que menina só joga jogo de dança ou da Disney? E por fim, será que as Tartarugas Ninja são uma espécie em extinção por serem todos machos?
Vai saber. Da última vez que ela perguntou essas e outras coisas pra um garoto que conheceu jogando Fortnite ele disse que ia ao banheiro e não voltou até o filme acabar. Não foi o primeiro. O mais engraçado foi o guri que deixou todo o lanche na mesa alegando que a mãe tinha sido atropelada, depois que Gaby ficou mais de uma hora explicando as razões do Voldemort ser suicida por tentar matar o Harry Potter desde o primeiro livro e que ele só precisava de um abraço. Pelo menos levou pra casa o lanche que a mãe gostava.
As ofensas online causavam pequenas feridas no coraçãozinho gamer de nossa pequena guerreira. Se matasse era xingada, se morresse por qualquer motivo era “burra” e devia ir “lavar uma louça”, se fosse destaque era por pena, se falasse era assediada e que os deuses dos games a livrem de um dia abrir sua câmera para bate papo numa live, nem as meninas mais maldosas que já passaram pelo seu colégio foram tão criticas sobre seu peso e cabelo. Passou pela cabeça um dia se passar por menino. Não. Eu posso vencê-los, não serei como eles.
Ela considerava essas situações como buracos onde era obrigada a entrar para que mesmo se sujando um pouco encontraria alguma diversão e prazer. Era como tentar encontrar alguma razão para viver no meio de tiros, granadas e pedidos de “nudes”. Quando as coisas ficavam pesadas demais uma desconexão “sem querer querendo” vinha salvar o resto de paz para um sono mais tranquilo. Muitas lágrimas deixadas no travesseiro serviram de testemunhas de sua resiliência fundamentada no amor pelos jogos e busca por diversão. Lágrimas demais.
Acordou feliz. Subiu de nível. “Upou”. Venceu mais uma série de buracos sabendo que muitos foram dormir espumando de raiva após serem atingidos por suas balas precisas. Lembrou de todos os abates, “headshots” seguidos de dancinhas e até da menina que caiu na sua equipe lá pela terceira ou quarta partida. Foi a melhor das vitórias. Duas sobreviventes. Apenas as duas. Contra o resto. Que vitória. Duas meninas, dez dedos e corpos caindo. Que vitória. Trocaram números de celular e combinaram de jogar de novo, juntas, uma rápida ligação. Voz bonita. Ah, que vitória.
Nossa menina dizia que ainda tinha muitos degraus á subir nessa escadaria sem fim e sem destino chamada vida, (palavras dela). Não importavam quanto buracos tivesse que entrar e os degraus que tivesse que subir. Seu objetivo estava traçado e nem o pior dos chefes de fase iria lhe tirar o caminho escolhido. Estava feliz. Voltando do curso de programação viu um casal discutindo, o cara gritava com a mulher. Agressivo. Quis ignorar. Um bruto. Parecia o Zangief pra cima da Chun Li. Todo ignorante e marrento. Não ignorou. A moça não sabia lutar como a Chun e só chorava encolhida. Gaby tentou apaziguar. Sem sucesso. Pegou a moça pelo braço. Marina, ela disse. Puxou a moça para longe do perigo como faria com qualquer companheiro caído no Fortnite. Ele puxou a arma. Gaby faria 15 anos. Não terminará o Mario Galaxy 2. Nem retornará a mensagem de seu pai no celular. “Headshot”. Derrota. Que derrota.
Até semana que vem…
Mega abraço …
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