Quando DOOM Eternal foi anunciado para todos os consoles inclusive o Nintendo Switch, já podíamos imaginar que um grande jogo estava a caminho, por todo legado da franquia. Um lugar na disputa da principal categoria do The Game Awards desse ano confirma isso. O que todos realmente se perguntavam, era como seria possível tê-lo de maneira satisfatória, já que estava sendo planejado para consoles de hardware superiores a plataforma híbrida. Será que esforços seriam realizados para alcançar tal façanha?
O fato é que DOOM Eternal ainda levantaria mais algumas dúvidas sobre sua possível chegada — tudo isso por chegar em outros consoles primeiro, e nem sequer se tinha uma data para que detentores do Switch pudessem finalmente desfrutar do título. Será que havia sido cancelado? O motivo é por que realmente não conseguiram otimizar o suficiente?
Tornar realidade um jogo que faz proveito de recursos técnicos, precisando apresentar ótimo desempenho para funcionar poderia ser um desafio e tanto. A espera finalmente acabou quando a Nintendo informou que DOOM Eternal chegaria em 8 de Dezembro. No final das contas todo receio se mostrou bobagem. Principalmente para quem sabe fazer bom uso do potencial de um console tão incrível e versátil. Com minha boa experiência obtida no DOOM anterior (2016), além do “hype” natural, um nome me fazia confiar plenamente que estava diante de um port que eu deveria respeitar: Panic Button.
A fantástica fábrica de ports
Desenvolvido pela ID Software e publicado pela Bethesda, DOOM Eternal aconteceu no Nintendo Switch graças a Panic Button — precisamos menciona-la, sendo fator crucial de experiências maravilhosas no console híbrido. Fundada em 2007 por ex-funcionários da Acclaim Entertainment e Midway, Panic Button é uma desenvolvedora singular, que resolveu um certo dia se empenhar na criação de ports de jogos AAA (Triplo-A). Seu nome começou a ganhar notoriedade ao portar Rocket League para o Switch em 2017. A partir daí tivemos também DOOM (2016), Wolfenstein II: The New Colossus e Wolfenstein: Youngblood, Warframe, Torchlight II, entre outros até chegarmos em DOOM Eternal. Não é a toa que ela aparenta dominar tão bem o console portátil. Em 2012, a desenvolvedora teve a oportunidade de trabalhar tecnologias de desenvolvimento inicial no Switch. Claro que também não é somente isso que a faz alcançar trabalhos excepcionais: tem muito talento, dedicação e visão. Essa visão enxerga o Switch de maneira clara e objetiva; tornando possível ports de muita qualidade, explorando o máximo de desempenho do console. É preciso sempre destacar a importância de uma desenvolvedora que não tem medo de desafios. Assim como DOOM Eternal, esperamos que mais títulos possam ser pensados para o console com todo esse carinho; que a Panic Button possa ter seu trabalho requisitado mais vezes no futuro, além de outras desenvolvedoras que seguirem pelo mesmo caminho.
A história
Contra todo o mal conjurado do inferno, toda a perversidade produzida pela a humanidade, nós enviaremos a eles só você. Estripar e lacerar, até o fim.
É com esse dizeres (dublado em português do Brasil) que podemos imaginar e sentir toda atmosfera selvagem que nos aguarda. O enviado no caso é DOOM Slayer. Destemido exterminador de demônios; a única esperança para uma Terra devastada por criaturas do submundo. Após 8 meses dos acontecimentos em Marte ocorridos no jogo anterior, a Terra agora passa a ser o alvo de implacáveis demônios, que ocupam 60% de todo território não dando sequer chances para os humanos que ali permaneceram. Por trás de cada demônio está a ser suprema; Khan Markyr — a governante do reino de Urdak, e líder dos Markyrs, uma raça antiga altamente avançada de seres alienígenas. Corrompido pelas forças do inferno Khan Markyr visa sacrificar toda humanidade, considerada indigna do seu mundo. Para tal ambição, três sacerdotes do inferno são designados para orquestrar todo ritual de destruição da Terra, são eles: Deag Grav , Ranak e Nilox. Apenas a eliminação desses três membros podem trazer de volta prosperidade, tal como chegar a Khan. DOOM Slayer por sua vez retorna a Terra em uma Fortaleza espacial comandada pela inteligência artificial VEGA — esta que guia nosso protagonista durante todo seu percurso. Para DOOM Slayer não há meio termo; sua implacável caçada aos sacerdotes infernais é o único objetivo que interessa, eliminando quaisquer demônios que possam aparecer em seu caminho. A franquia DOOM apesar de nunca ter sido focada em enredo, em DOOM Eternal fragmentos da história podem ser encontrados pelo caminho, contando um pouco da história antepassada do universo DOOM. Sendo opcional, você pode continuar dando seu tiros normalmente ou fazer uma pausa para entender melhor o que se passa.
Gameplay no geral
DOOM Eternal é um jogo de tiro em 1ª pessoa, com exploração de níveis e customização de armas e personagem. Sua jogabilidade frenética impõe a necessidade do jogador de sempre estar em constante movimento, para conter a aproximação dos inimigos. DOOM Eternal apresenta gameplay imersiva, e características bem únicas. Toda carnificina conhecida em jogos anteriores continua presente, trazendo corpos dilacerados e eliminações chocantes. Durante os níveis enfrentamos combates por hordas, com demônios mais fortes surgindo a cada execução. Agora podemos explorar fraquezas que cada demônio apresenta, utilizando a arma certa — para isso a troca de arma deve ser realizada de maneira precisa. Em muitos casos devemos ter paciência, principalmente para derrubar algum chefe. Enfrentá-los de frente não é uma opção, muitas vezes temos que correr, derrubar demônios mais fracos para recuperar energia e ir drenando a vida do chefe aos poucos. O jogador tem que pensar rápido, com varias coisas na tela acontecendo ao mesmo tempo. Elementos de plataforma como saltos, acertar interruptores e escaladas de parede, complementam a jogabilidade eletrizante. Mesmo não sendo minha partes favoritas, são necessárias para não se ver em intensos combates a todo momento. DOOM Eternal é um jogo difícil, mas nada injusto — pelo menos na sua dificuldade recomendada. Tudo é questão se de se adaptar. Para se dar bem, praticar é o único meio, até que você possa dominar os comandos ou aumentar os status do seu DOOM Slayer. São várias opções de dificuldade que estão acima do modo normal, essas são realmente insanas. No mais acima por exemplo está o ultra pesadelo, que além de ter inimigos que causam muito dano, você só tem uma chance; se morrer todo o progresso é perdido.
DOOM Eternal é fascinante, e pode passar diferentes sensações em um curto espaço de tempo. Podemos ficar intimidados no começo em ter que lidar com hordas demoníacas estando só; mas é uma sensação que dura apenas alguns segundos. Isso por que logo em seguida descobrimos quem DOOM Slayer realmente é — determinado o suficiente para fazer explodir qualquer besta com poucos tiros de escopeta. A partir disso a sensação é de poder, satisfação e empolgação. Lugares secretos guardam colecionáveis como bonecos, disquetes, e discos musicais; além de itens espalhados pelo mapa que melhoram o personagem. Seu arsenal continua repleto de armas poderosas, algumas já conhecidas que continuam sendo eficazes pelas modificações e upgrades a serem feitos. Entre as adições para começar, DOOM Slayer dispara granadas ou lança chamas (este libera armadura) por um canhão equipado em seu ombro esquerdo. Em certo momentos do jogo DOOM Slayer assumi o controle de um demônio e suas habilidades — causar destruição com tal criatura é um aparato divertido de vivenciar. Existe uma preocupação maior na mobilidade de DOOM Slayer, trazendo a possibilidade de dar dois impulsos para se alcançar lugares mais altos a partir do pulo, ou se afastar das bestas em combate (realmente ajuda). DOOM Eternal apresenta a adição da vida extra, fazendo o jogador renascer instantaneamente, sem a necessidade de voltar ao checkpoint. Promovendo ainda mais encontros com as criaturas maléficas temos o ataque corpo a corpo (soco sangrento). Com eles podemos executar múltiplos demônios inferiores próximos um aos outros, ou causar dano considerável em demônios mais fortes. A moto serra retorna como opção para recuperar munição. Todas essas ações recarregam, portanto é necessário aguardar o tempo preciso para poder utilizar novamente. Como mais formas de combates opcionais, na campanha acessamos confrontos secretos e portal do Slayer (abertos com chave Slayer). Os confrontos secretos te coloca para vencer uma horda com limite de tempo, já o portal do Slayer são confrontos intensos e perigosos que recompensa o jogador com três pontos para upgrade de arma e uma chave Empírica — juntar várias delas desbloqueiam uma recompensa em um momento avançado da campanha. Um outro recurso são os Totens, buffs que favorecem os inimigos próximos a ele com mais resistência, poder e velocidade. Somente a destruição do Totem desfaz o feitiço, voltando tudo a normalidade.
Entre a conclusão de níveis acessamos nossa fortaleza espacial, uma espécie de “QG”. Ali estão nossos colecionáveis, e áreas que são desbloqueadas de acordo com o progresso e coleta de baterias sentinelas. Um dos colecionáveis, o disco musical, é muito interessante. Selecionados durante sua estadia na fortaleza, a música correspondente aquele vinil começa a tocar — são canções de jogos clássicos da franquia na “pegada” Heavy Metal, que podem ser escutadas enquanto você passeia pela base. No menu principal, sempre somos convidados a acessar os servidores da Bethesda.net, a fim de prolongar a jogatina com recursos online. O Deathmode, é a experiência multiplayer online que coloca dois jogadores no papel de um demônio, e um terceiro jogador no papel de Slayer para se enfrentarem. Minha experiência online foi divertida, apesar de ter perdido na maioria delas (por própria incompetência) não foi constatado nenhum tipo de lag ou algo que pudesse atrapalhar durante o combate, fluiu bem. Talvez o contra seja na hora de encontrar partidas — para mim elas demoraram um pouco. Ainda no menu principal, podemos customizar um perfil de jogador que é utilizado no online, com alteração de avatar e ganho de experiência. Alguns eventos ficam disponíveis mensalmente no jogo, divididos em quatro semanas consecutivas separadas, oferecendo recompensas. Fazendo parte dessa interação online, demônios que derrotam outros jogadores podem invadir sua campanha. Esses demônios tem uma força fora do comum, rende uma quantidade maior de espólios e aparecem com o nome do jogador assassinado demarcado. No geral, a experiência online é bem-vinda; particularmente ficarei feliz em explorar mais.
Durante o jogo, acessando o botão “-“, um menu guia aparece, onde é possível alternar abas selecionando R ou L. Nas abas temos acesso ao mapa, arsenal, traje, runas, códice e desafios. No mapa, lugares já visitados são representados na cor verde, com o objetivo marcado em amarelo. Para melhorar a visualização, botões “ZR” e “ZL” aumentam e diminuem o zoom, além de toques no analógico direito que acionam um giro panorâmico da câmera. Por ser um jogo frenético, ficar selecionando o mapa muitas vezes a procura de algum segredo ou melhoria, pode ser meio chato, porém necessário. Uma miniatura desse mapa no canto da tela facilitaria nesse quesito. Em contrapartida, agora temos uma viagem rápida desbloqueada momentos antes de chegar ao final da fase; com isso podemos retornar para buscar qualquer item que tenha ficado pra trás, sem a necessidade de revisitar Missões concluídas. No arsenal, é onde será realizadas as modificações de armas. Em trajes, aumentamos saúde, munição e armadura, através de cristais sentinelas que podem ser coletados. Runas adquiridas fornecem variações de habilidades que podem ser equipadas em três slots disponíveis; escolha da maneira que desejar. No códice está toda informação de armas, inimigos, tutorial e fragmentos da história — este último complementa todo o enredo, sendo importante para entender melhor a história, e conhecer mais sobre os lugares visitados. Por último os desafios de missão, armas e semanais são um aperitivo para coletar baterias sentinela e experiência para subir de nível seu perfil de jogador. O jogo contém uma lista de conquistas a serem alcançadas, podendo ser visualizadas no menu de pausa “+” ou em “extras” no menu principal, com mais recompensas para o perfil de jogador.
Design e Desempenho
O trabalho da Panic Button com o design impressiona. A transição para a imagem no momento de uma eliminação gloriosa, trás qualidade visual muito satisfatória. Mesmo que algumas baixas texturas apareçam (geralmente quando estamos parados e em modo portátil), nada impede DOOM Eternal de brilhar no Nintendo Switch. As Cutscenes melhoram ainda mais a experiência, principalmente em conjunto com a dublagem em português do Brasil. As vozes além de muito competentes, algumas delas são facilmente reconhecidas. O desempenho é outro fator que corresponde, com fluidez necessária para se sair bem em um jogo que se movimenta a todo tempo. Como uma forma alternativa ao controle tradicional, e para quem aprecia auxílio de mira por meio de giroscópio, os Joy-Cons fazem bem essa função. A respeito da sua relação custo x benefício, pode parecer meio salgado pelo preço “cheio” cobrado em um port; mas é justificado pela enorme quantidade de conteúdo apresentado. O que realmente se mostra lamentável é a ausência da mídia física, deixando elevado demais o preço praticado por uma mera cópia digital. Os loading não estão demorados, tantos para carregar algum nível ou após alguma morte. A trilha sonora é de arrepiar, com rifes pesados de guitarra e efeitos eletrônicos que remetem momentos de tensão. Mantendo seus 30 fps (modo dock e portátil), DOOM Eternal no Nintendo Switch é um exemplo de port bem trabalhado, de puro esforço, com final gratificante.
Conclusão
DOOM Eternal pode até causar um certo desconforto em algumas pessoas por abordar violência explícita, inferno, demônios e outros fatores que remetem a religião. O que não há como negar é como sua jogabilidade foi construída de maneira sublime, para agradar Gregos e Troianos. A diversão é infinita, mesmo que uma sequência de mortes possa aborrecer em alguns momentos. O replay então, nem se fala; a vontade de retornar ao game é absurda. DOOM Eternal “quebra” o conceito de que o Nintendo Switch não possui jogos FPS de qualidade, ou que o console não seja adequado para vivenciar o gênero. Enfim, uma obra tão boa quanto seu precedente, digna de reverências.
DOOM Eternal pode ser adquirido na eShop americana pelo valor de $59.99. Ainda não há previsão sobre a chegada da DLC de expansão The Ancient Gods – Parte 1 no Nintendo Switch, nem notícias de um possível lançamento em mídia física do jogo. Vale lembrar também que DOOM Eternal tem a classificação etária “M” (Mature: não recomendado para menores de 17 anos).
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[Nota do Editor: DOOM Eternal foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Nintendo para avaliação.]
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