Quem diria que entre exclusivos como o encanador de vermelho, monstrinhos de bolso ou o garoto sem fada da floresta teríamos um serial killer de adolescentes?
Sim, estamos falando de Emio: The Smiling Man, um Visual Novel intrigante, desenvolvido pela Nintendo e produzido pelo lendário Yoshio Sakamoto, o mesmo que ajudou a moldar o universo de Metroid. Este é o terceiro capítulo da série Famicom Detective Club, mas não se preocupe: você não precisa jogar os títulos anteriores para se perder no suspense de Emio.
Uma Jornada Sombria na Nintendo
A narrativa é o coração pulsante deste gênero e Emio não decepciona. A história começa quando um garoto de 15 anos é encontrado morto em uma estação de esgoto. A cena é chocante: marcas de estrangulamento e um saco de papel sobre sua cabeça com um inquietante rosto sorridente desenhado à mão.
Esse mistério sombrio leva a Utsugi Detective Agency a se unir à polícia numa investigação que promete abalar a cidade. Você assume o controle de dois protagonistas de 19 anos: um jovem detetive, cujo nome você escolhe, e sua parceira Ayumi Tachibana, ambos aprendizes da renomada agência de Utsugi.
Ao longo da trama, nos deparamos com personagens que transbordam carisma e até aqueles que, de forma curiosa, conseguem ser encantadoramente irritantes. É raro ver uma Visual Novel com personalidades tão marcantes que não acabam se tornando cansativas para o jogador.
Emio é uma verdadeira exceção no portfólio da Nintendo, uma diferença que só se intensifica à medida que o jogo avança.
Depois de alguns capítulos, quando você já se familiarizou com a mecânica de gameplay, conheceu melhor os personagens e começou a juntar as peças do mistério, fica claro por que Emio: The Smiling Man é o completo oposto do que estamos acostumados a ver da Nintendo.
Uma Experiência Visual Rica com Desafios de Jogabilidade
A estética de Emio: The Smiling Man é impecável. Tanto o design dos personagens quanto os cenários oferecem uma ambientação que te envolve profundamente na história. Até mesmo o menu inicial do jogo transmite uma nostalgia, remetendo aos clássicos da série, talvez como uma homenagem aos títulos antigos.
As cenas utilizam sprites levemente animados, evitando a típica sensação de “PNGs” estáticas com caixas de texto, um erro comum em jogos do gênero. Essa sutil animação adiciona fluidez e conforto à experiência. Além disso, as cenas são enriquecidas por uma dublagem em japonês com atuações de alto nível, o que eleva a imersão e torna a história ainda mais cativante.
Infelizmente, a trilha sonora de Emio: The Smiling Man não é um ponto forte. As músicas presentes nas cenas do jogo são repetitivas, cansativas e seguem um estilo MIDI que parece deslocado. É uma pena, considerando que a Nintendo é famosa por trilhas icônicas que ecoam por gerações nos ouvidos dos fãs. A ausência de boas composições é tão marcante que, curiosamente, os momentos mais impactantes são aqueles em que o silêncio toma conta, destacando elementos do roteiro e fazendo com que as demais características do jogo ganhem ainda mais vida.
A jogabilidade também pode causar incômodo para alguns jogadores. Com opções que mudam raramente, o leque de ações consiste basicamente em:
- Chamar alguém
- Perguntar/Ouvir
- Observar algum ponto específico ou o entorno
- Pensar
- Utilizar o telefone
Essas funções poderiam ser melhor otimizadas, como a inclusão da tela touch no modo portátil, o que traria maior conforto durante a jogatina. Apesar disso, as limitações não chegam a prejudicar a experiência como um todo.
Embora essas poucas opções possam parecer restritivas, à medida que o jogo avança, fica claro que a escolha por uma jogabilidade minimalista pode fazer mais sentido do que aparenta. As funções limitadas de gameplay focam na investigação e na interação com os personagens, o que é essencial para o desenrolar da história.
No entanto, o maior problema de Emio é sua narrativa linear, com pouquíssimas variações, o que pode ser frustrante para aqueles que esperam influenciar diretamente nos acontecimentos. Em muitos momentos, você se verá apenas assistindo à história, sem a possibilidade de interferir. Ainda assim, é importante lembrar que essa linearidade é uma característica do gênero Visual Novel e não uma falha específica do título.
E um ponto importante, especialmente para o público brasileiro, é o preço elevado do jogo, mesmo sem localização para o português, o que torna a experiência ainda mais inacessível para muitos.
Outro aspecto que merece ser digerido com calma é o ritmo dos 12 capítulos. Emio: The Smiling Man apresenta cenas lentas, diálogos que demoram a avançar e conversas que, por vezes, parecem não agregar tanto valor à experiência. Mas, na verdade, esse é o grande segredo do jogo: você se conecta tão profundamente com os personagens que, ao final, sente falta até dos momentos mais triviais, como comer tiramisu na cafeteria durante um interrogatório.
No entanto, é importante lembrar que este definitivamente não é um jogo para crianças. Os capítulos finais prendem a atenção, elevando a narrativa a um patamar inesperado e intensificando o desejo de solucionar todo o mistério que se desenrolou até então.
E um último conselho: assistam aos créditos até o final. Pode acreditar, vale muito a pena.
Emio: The Smiling Man – Famicom Detective Club is a Visual Novel with a very rich story, an engaging mystery, and many hours of enjoyment, which unfortunately are hindered by a tiring soundtrack and a lack of accessibility regarding localization.
[Nota do Editor: Emio: The Smiling Man – Famicom Detective Club foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Nintendo para avaliação.]