Sendo um fã de jogos que criam universos medievais e fantasiosos, não é difícil falar sobre Kingdoms of Amalur Re-Reckoning. O jogo, lançado em sua versão remasterizada para Nintendo Switch dia 16/03/2021, faz um excelente trabalho para criar um universo repleto de magia, raças, lendas e perigos que, apesar de não ser sempre impecável em sua execução, permanece sendo um jogo que merece ser comentado.
Antes de falar sobre o jogo em si, é importante esclarecer alguns pontos sobre o seu histórico:
Em sua primeira versão, lançada em 2012, Kingdoms of Amalur foi lançado para PS3, Xbox 360 e PC, e acabou se tornando um jogo que passou despercebido por muitos (provavelmente por ter ficado nas sombras de Skyrim, que havia saído apenas 3 meses antes e era tudo em que se falava na época).
O jogo fazia parte de um projeto mais ambicioso, cujo plano era introduzir os players em um universo expansível para, em seguida, lançar um MMO que se passaria nesse mesmo mundo. Em meio a problemas como o cancelamento deste MMO e o fechamento do estúdio envolvido, a série ficou perdida no tempo e durante muitos anos não ouvimos falar novamente no projeto.
Foi então que, ao final do ano passado, recebemos o remaster chamado Re-Reckoning, que trazia novidades em diversos aspectos como uma nova dificuldade (very hard), um novo sistema de cálculo para o level do personagem, novidades no sistema de loot, todas as DLCs lançadas anteriormente e balanços e adaptações nos gráficos e sistema de combate.
Conheci o jogo na época em que havia sido lançado, no Xbox 360, e ele acabou sendo uma grata surpresa que me rendeu 100 horas+ de diversão e me deixou instigado para conhecer mais do universo que eles estavam formando. Após os recentes anúncios sobre a série estar sendo revivida (já anunciaram estar trabalhando em uma nova expansão para o jogo), está sendo extremamente divertido reviver essa experiência em sua versão remasterizada.
Agora que já entendemos um pouco sobre o quadro geral do jogo, podemos nos aprofundar em seus detalhes. Vamos lá?
Construção do Mundo e História
O jogo possui foco em um dos Reinos de Amalur, Faelands, a terra de uma raça imortal chamada Fae. Esta raça, apesar de retratada como imortal dentro do universo do jogo, não possui a imortalidade da forma convencional como conhecemos. Eles vivem em um ciclo onde vivem, morrem e reencarnam para viver a mesma história novamente em um ciclo eterno. Suas vidas são contadas através de músicas, que funcionam como profecias envolvendo um ou vários indivíduos, e eles seguem essas músicas como uma espécie de religião.
Os acontecimentos principais do jogo tem como setup inicial um grupo rebelde de Faes denominados Tuatha Deoh, que se declararam adoradores de um novo Deus chamado Tirnoch e estão provocando guerras e ataques a todos os territórios ao seu redor
Os mistérios envolvendo o protagonista (personagem criado pelo player) e sua ligação com os Fae, suas baladas e a imortalidade surgem logo nos primeiros minutos do jogo e funcionam bem como uma premissa para segurar a atenção do player.
A forma de escrita do jogo se assemelha MUITO a leitura de um livro de fantasia clássico, então se você é fã do estilo já possui grandes chances de se familiarizar rápido com o mundo do jogo. Mesmo as side quests possuem sempre um enredo por trás e, muitas vezes, com a possibilidade de múltiplos desfechos, lembrando jogos como The Witcher e Dragon Age.
Os NPCs são todos dublados e, ao conversar com eles, encontramos opções de diálogos que vão revelando pouco a pouco as informações sobre o universo do jogo. Sem dúvida um dos pontos fortes de Amalur está justamente na forma com que ele constrói e apresenta seu mundo ao player. Os diálogos são interessantes, possuem sempre informações o suficiente para contextualizar o jogador e apresentam novos mistérios que cativam nossa curiosidade.
Ouvir lendas sobre um possível lobisomem aterrorizando um vilarejo próximo, boatos sobre uma bruxa controlando aranhas gigantes em uma floresta escura ou ser convidado por grupos de ladrões para explorar e saquear ruínas antigas são o tipo de evento que você poderá encontrar durante suas aventuras. E o melhor de tudo é que quase sempre o desfecho e as recompensas fazem os desvios da história principal valerem a pena.
Mas existem alguns problemas no funcionamento da história dentro do jogo. O primeiro deles é que, às vezes, a quest principal se divide em múltiplas missões que não possuem ordem específica para serem completadas. Se você é o tipo de player que prefere uma progressão mais linear na história dos jogos, isso poderá te incomodar bastante.
Outro problema é que por vezes os desenvolvedores pareceram ter se preocupado mais em utilizar side quests e diálogos com NPCs para introduzir o player ao universo do jogo do que em contar uma história com um começo, meio e fim bem amarrados. Caso você entre no clima das side quests e saiba aproveitar a jornada enquanto desvenda os mistérios de Amalur, terá muito o que aproveitar. Caso contrário, provavelmente irá se perder em meio a quantidade de quests e ficará confuso com alguns acontecimentos da história que farão mais sentido para o player que investiu mais tempo em conhecer e explorar o mundo do jogo.
Jogabilidade
A jogabilidade é mais um dos pontos fortes do jogo, onde os elementos da exploração e o sistema de combate se encaixam e tornam a experiência dinâmica e divertida.
Para explicar os diversos aspectos da jogabilidade, irei dividi-la em diferentes categorias.
Customização
A customização do jogo é ampla e pode alterar consideravelmente a forma com que o combate e a exploração do jogo funciona.
O principal aspecto de customização do personagem funciona através dos sistemas de Talentos e Destinos.
A começar pela árvore de talentos, o jogo possui três árvores distintas:
– Might – Especializa o personagem como um guerreiro, que poderá ser focado em dano físico com espadas, espadões e marretas ou na utilização de escudos, para uma gameplay mais defensiva.
– Finesse – Desenvolve o personagem como “Assassino” (ou ladrão). Permite ao jogar utilizando Adagas, Arcos e permite a utilização de um estilo de combate mais furtivo. É possível também aprender a utilizar veneno em suas armas para enfraquecer os inimigos.
Sorcery – Estilo mago Clássico, que possuirá diversas habilidades elementais, que podem controlar o campo de batalha e causar considerável dano em área.
Ao evoluir, o player irá adquirir pontos que podem ser distribuídos livremente dentre essas árvores. É possível, inclusive, criar classes híbridas misturando os pontos em árvores diferentes.
O segundo aspecto da customização do estilo de jogo do personagem está nos “Destinies”, que funcionam como se fossem o sistema de classes do jogo.
A medida que o personagem alocar pontos em determinada árvore, classes são desbloqueadas e podem ser selecionadas livremente pelo player. É um sistema divertido e você realmente irá sentir uma grande diferença ao alterar dentre os estilos de jogo. Um ponto de destaque aqui é a possibilidade de criar classes híbridas, que podem ser desbloqueadas misturando os pontos em diferentes árvores de talentos.
Ao final do jogo, você poderá ser um poderoso Archmage, que é a especialização focada em Sorcery, um Nightblade caso tenha se especializado em Assassino ou mesmo um Shadowcaster, que funciona como uma mistura entre Mago e Assassino. São diversas possibilidades e é certo que você irá encontrar algo que se encaixe no seu estilo de jogo.
É possível resetar os pontos distribuídos na árvores de talentos pagando uma taxa para NPCs chamados Fateweavers, já para os Destinos é possível transitar livremente pelos que você tiver desbloqueado. Considerando que o jogo é bastante generoso com seu Gold, é fácil alterar livremente entre as árvores e classes do jogo, fazendo ser possível alterar e experimentar as diferentes formas de gameplay que o jogo oferece.
Comecei minha jornada sendo um puro mago e ao final do jogo minha Build era uma mistura de Finesse e Sorcery, se tornando meu estilo favorito dentro do jogo com sua mistura de adagas, venenos, Stealth e magia. Apesar disto, ao logo de todo o jogo foi possível experimentar bastante entre diferentes tipos de Build e todas elas ficaram funcionais e divertidas, especialmente ao final do jogo onde eu tinha acesso as habilidades mais poderosas de cada uma das árvores.
Combate
O jogo é um RPG de ação, e seu sistema de combate é composto por combos básicos que podem ser feitos com a arma escolhida pelo player e habilidades que podem ser ativadas apertando o botão associado a ela.
Nesta última playthrough joguei na nova dificuldade, Very Hard, para poder experimentar ao máximo o sistema de combate e a experiência foi mais divertida do que antes. Apesar da IA dos inimigos não ser das melhores, a falta de recursos nos momentos iniciais do jogo me fizeram ser mais estratégico ao escolher meus equipamentos e habilidades, já que era fácil morrer para os grupos maiores de inimigos.
É importante ressaltar que o jogo possui uma leve tendência para ficar muito fácil à medida que o player evolui e adquire novas habilidades e equipamentos, fazendo com que, nas dificuldades mais baixas, seja possível destruir até mesmo os bosses sem muita estratégia. Felizmente é possível alterar a dificuldade livremente a qualquer momento abrindo o menu do jogo.
O combate não é perfeito e eu gostaria que o ritmo e a velocidade das animações fossem mais ágeis, no estilo Platinum Games, mas ainda assim é um excelente sistema de combate principalmente durante o end game, onde é possível fazer poderosas sequências de ataques e habilidades.
Equipamentos
O jogo também possui um sistema de equipamentos robusto, que funciona semelhante a alguns MMOs. Os equipamentos possuem requisitos mínimos para serem equipados e seus status são aleatórios. Eles também possuem um sistema de qualidade (semelhante a Diablo 3) e conjuntos, que oferecerão efeitos diversos ao equipar 2 ou mais peças do mesmo conjunto.
É possível também inserir jóias em alguns destes equipamentos para potencializar seus status e efeitos.
É um sistema funcional, mas há espaço para melhorias aqui principalmente no que diz respeito a progressão dos equipamentos, que as vezes é lenta. Existe também o fato dos equipamentos serem dropados aos montes, sendo a maioria deles equipamentos ruins que você só irá coletar para destruir (transformá-lo em matéria prima) ou vender. Devido a alta aleatoriedade dos status dos equipamentos, é possível jogar por horas sem encontrar um item sequer que seja bom, o que torna o sistema frustrante as vezes considerando o estilo do jogo.
Existe também um sistema de crafting, que possibilita criar equipamentos através de Blacksmithing e poções através de Alchemy. Não há muita profundidade aqui, mas ambos os sistemas ganham mais utilidade durante os momentos finais do jogo onde será possível criar gemas e equipamentos poderosos que ajudam a compensar em situações onde a sorte não permite bons drops dos monstros.
Exploração
Outro aspecto que complementa de maneira positiva a gameplay, é a exploração.
O jogo irá oferecer muito o que fazer enquanto você o explora e devido a sua natureza de mundo semi-aberto, é possível vagar por horas enquanto se esquece da missão principal e coleta equipamentos em dungeons, baús secretos e side quests.
Os mapas são interessantes, mas pecam um pouco pela falta de diversidade visual. Apesar de áreas diferentes serem desbloqueadas ao avançar na história, a progressão é lenta e é possível que você comece a se cansar de cenários com a mesma aparência caso esteja fazendo todas as side quests.
Explorar também oferece diversas recompensas, já que o jogo possui tesouros secretos, dungeons opcionais, monstros de elite e uma infinidade de pontos de coleta de reagentes e baús para serem encontrados, e isso faz com que toda tentativa de exploração seja recompensada. O único problema aqui acontece devido a aleatoriedade. O player poderá se sentir frustrado ao passar 20 minutos enfrentando uma dungeon e seu mini boss opcional para encontrar um baú com o mesmo tipo de recompensas aleatórias que ele encontrou durante todo o trajeto. Isso pode se tornar um pouco frustrante com o passar do tempo, mas já que é possível vender ou destruir os equipamentos para transformá-los em reagentes, as atividades de exploração nunca deixam o player de mãos vazias.
Alguns aspectos da exploração também podem ser afetados pela customização do personagem, como poder aumentar sua capacidade de detectar baús e portas secretas pelo mapa do jogo, ter mais facilidade para destravar baús trancados, liberar novas opções de diálogo com NPCs que podem alterar o andamento de missões e assim por diante. É mais um elemento interessante de gameplay que aumenta a sensação de customização do personagem.
O sistema de Fast Travel existe também e auxilia bastante na exploração também, já que é possível revisitar livremente quaisquer cidade ou vilarejo previamente desbloqueados.
Apresentação, visual e trilha sonora
Aqui talvez esteja um dos elementos mais fracos de Kingdoms of Amalur. Apesar da remasterização, o visual do jogo não possui muitos destaques positivos e por vezes deixa a desejar.
O estilo de arte não tenta ser realista e pende mais para uma mistura com Cartoon. Em sua base é um visual interessante, mas não é raro encontrar bugs visuais como texturas que carregam lentamente ou grama e elementos do cenário que aparecem apenas ao se aproximar muito. Como o rosto do nosso amiguinho aqui:
A animação dos NPCS também deixa a desejar, fazendo com que a maioria deles se mova de forma robótica durante os diálogos e quebre um pouco a imersão do player.
Apesar de ser compreensível um jogo de 2012 passar por esse tipo de problemas, já existem exemplos de remasters que tratam muito bem este tipo de detalhe visual. Eles não atrapalharam tanto minha experiência, mas players que se importam muito com detalhes gráficos poderão ficar decepcionados.
A trilha sonora também não possui um destaque positivo. Apesar de não ser ruim, jogos deste estilo são famosos por muitas vezes terem trilhas épicas e bem elaboradas, o que definitivamente não é o caso aqui. As músicas são funcionais e irão embalar bem as aventuras enquanto o player explora, mas esse provavelmente não será um daqueles jogos que você irá buscar a trilha sonora no YouTube para ouvir após terminar.
Para encerrar, alguns pontos aleatórios:
– Existe conteúdo post game no jogo, mas ele não chega perto de ser tão longo e substancial como eu queria.
– É importante salvar com frequência. Por vezes selecionei uma resposta em uma quest cujo desfecho não me agradou e a única solução era voltar ao Save anterior.
– É possível cometer alguns crimes como roubar ou atacar NPCs, mas caso seja pego será necessário pagar fiança para ser libertado.
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