Toda história tem um início, um meio e um fim. É o padrão e isso se aplica a qualquer conto ou narrativa, com ou sem seus detalhes e nuances, e dificilmente nos é contado o que acontece após o fim da história. Pois bem, com base nisso a desenvolvedora Galla Games a publicadora Fellow Traveller lançaram um conto que mistura diversas crenças latinas e que começa justamente no fim de uma jornada onde controlamos Kulebra que acaba de morrer e se encontra no Limbo, o mundo dos mortos.

Referências
Rico em referências caribenhas, imerso na cultura do Dia de los Muertos mexicano, com muito humor e fortes referências visuais de Paper Mario, Kulebra and the Souls of Limbo nos conta um pouco do que pode ser o pós vida em algumas culturas e mostra ainda o valor de se doar em prol dos outros. Aqui devemos guiar almas presas no Limbo para seu descanso eterno ao mesmo tempo em que buscamos descobrir quem realmente somos e nosso papel nesse mundo, mas tudo isso tem que ser feito rápido, cause um bom impacto nas almas ou caso contrário tudo será desfeito no final do dia pois estamos em um loop temporal e todas as almas perdem a memória a cada amanhecer, bem no estilo The Legend of Zelda: Majora’s Mask de ser.
História
O Limbo é uma palavra de origem tanto no latim quanto na lingua teutônica onde em ambos os casos seu significado é de fronteira e também de incerteza. No cristianismo, sem se aprofundar demais, o limbo normalmente é relacionado a um local incerto para onde as almas vão quando não tem direcionamento, e é exatamente nesse “local” em que nos encontraremos aqui em Kulebra and the Souls of Limbo.


Ao acordar no Limbo, sem memórias do que somos, ou melhor, do que fomos, controlamos Kulebra, uma alma que se apresenta como o esqueleto de uma serpente com adereços em sua cauda e vistosos olhos que brilham em chamas azuis. Após explorar um pouco encontramos uma senhora presa em uma pedra e com a ajuda de uma tesoura localizada ali perto somos apresentados a principal mecânica do jogo, pequenas missões e suas recompensas.


Seguindo em frente conhecemos Krow e somos apresentados a Wing Union, uma empresa gerida por pássaros que fazem o elo entre o mundo dos mortos dos vivos ajudando no que podem à guiar as almas do limbo e na sequência somos direcionados à primeira “fase” desse jogo, o Vale da Morte.
Aqui conhecemos Rosa e Flora, duas almas que possuem uma floricultura e o sonho de sair dali e seguir em frente, porém apenas após venderem todas as suas flores. Mais pra frente, nos portões do vale, conhecemos Rocco, a principal atração deste local, que é uma pedra falante. Após falar com todos o tempo passou e provavelmente já está se findando o dia, então só nos resta sentar em um dos bancos disponíveis para descansar e é nesse momento que descobrimos que o Limbo não é um lugar tão calmo e tranquilo assim, pois sempre que o dia acaba o tempo retrocede vinte e quatro horas e quando o sol nasce o dia reinicia. Ou seja, há em todo o limbo uma maldição de loop temporal onde todas as almas ali ficam presas repetindo o mesmo dia para sempre mas nunca se lembrando do que aconteceu.

Quando o dia nasce novamente Krow percebe que você é diferente, pois você ainda retém todas as suas memórias e com isso diz que Kulebra pode ser um tipo raro e especial de alma, uma Alma Brilhante (Bright Soul). Essas almas são raras no Limbo e normalmente são almas generosas que ajudam as outras almas a resolverem seus conflitos e seguirem em rumo a paz eterna, e para isso devemos ajudá-las com as pendências, ressentimentos ou rancores que os prendem ao limbo criando um evento de tal impacto que gere uma marca na alma capaz dela não esquecer sua ajuda. Já os pássaros não são afetados por essa maldição pois são seres vivos, a maldição afetam apenas os mortos.
Com essas novas informações voltamos ao vale e à floricultura e temos como dever ajudar Rosa e sua filha a encontrarem a paz, porém após algumas missões e alguns dias repetidos fica claro que não é tão simples assim pois as trevas se alimentam de rancor e ressentimento e elas mudam a pessoa e a alma que serviu de alimento.
O limbo sempre foi assim, sempre houve essa maldição e as trevas sempre estiveram à espreita consumindo aqueles entregues aos sentimentos negativos, mas por alguma razão as trevas estão mais fortes e mais vorazes que nunca e é nesse meio em que nós, sem saber ao certo quem somos, devemos guiar Kulebra e ajudar as Almas do Limbo.
Gameplay
Kulebra and the Souls of Limbo é um clássico jogo de aventura com diversos puzzles e algumas missões secundárias. É um jogo fácil em sua totalidade mas dosa bem as dificuldades com a temática de tempo curto para resolução das mesmas pois ao final do dia tudo reinicia.
Movimentação e Ação
Como estamos em um jogo de aventura mais simplista, não há combate nem golpes então tudo se baseia na exploração e algumas ações possíveis, seja de itens ou de interação com ambiente. Mas não ter combate direto não significa que não há perigos no limbo, afinal as trevas sempre estão à espreita.
As principais ações são a de movimento comum e a corrida, no qual Kulebra se enrola e se transforma em uma roda aumentando bem a velocidade, fato que muito agradeci pois a estética Paper Mario me fez achar que a exploração seria mais demorada. E é com a corrida que podemos colidir com objetos do cenário muitas vezes derrubando vasos suspensos ou derrubando itens estratégicos, para isso basta estar correndo e se direcionar ao objeto que deseja colidir.


Existem também algumas ações vinculadas a itens que podem ser acessados pelo inventário ou pelos botões de ombro L e R. Por fim podemos interagir com objetos usando o botão A e também lutar contra a escuridão segurando o mesmo botão, porém isso ocorre apenas em momentos específicos do jogo.
Dificuldade e Repetição
Conforme mencionado, Kulebra and the Souls of Limbo não é um jogo com grande dificuldade ou perigos, mas não significa que não haja como falhar em sua missão. Enquanto investiga o que aflige as almas atormentadas que irá encontrar ao longo dos capítulos do jogo alguns desafios, e até mesmo monstros, surgirão e a maioria deles não é possível combater diretamente, então só nos resta fugir.
Caso algum deles nos ache, seremos perseguidos e se nos pegar o medidor de trevas encherá, chegando em 100% temos nosso game over com as chamas de Kulebra se apagando. Após avançar na história teremos acesso a itens que podem nos ajudar, mas em geral é isso que ocorre. Mas não se preocupe, caso isso aconteça, basta recomeçar o momento ou até mesmo reiniciar o dia que terá uma nova chance.


E é juntando a dificuldade acima mencionada com a ideia de reiniciar o dia que temos a principal vilã do jogo, A Pressão do Tempo. Todo o jogo, de certo modo, ocorre no mesmo dia pois essa é a maldição deste lugar, o dia se repete eternamente e com isso todas as almas se esquecem do que foi feito e quem é você assim que o dia amanhece. Bem semelhante ao que temos em The Legend of Zelda: Majora’s Mask, a cada dia devemos refazer algumas ações para que seja possível prosseguir com a história.

Porém quando você consegue ajudar ou impactar uma alma, uma marca fica nela e essas marcas não somem na maldição do limbo. Essa é a chave para conseguir avançar na jornada, ajudar e impactar aqueles que precisam de ajuda para que enfim encontrem sua paz, mesmo que para isso seja necessário repetir várias vezes o mesmo dia.

Investigação e Quebra cabeças
Kulebra não é só uma alma bondosa, ela é uma Alma Brilhante, e por isso não é afetada pela maldição do Limbo. É papel dessas almas especiais guiar os demais para sua paz eterna e para isso você deverá ser um completo detetive e vasculhar toda e qualquer pista que te derem.
Para ajudar, informações chave são exibidas em amarelo na caixa de texto e ficarão armazenadas no seu caderno de anotações que poderá, e deverá, ser consultado a qualquer momento ao pressionar o botão Y. Diversos quebra cabeças que envolvem atenção aos diálogos estão presentes durante o jogo, e inclusive, reiniciar o dia fará parte de alguns deles.



Além de anotações sobre os personagens que encontrará em sua jornada, seu caderno também possui informações sobre quais missões estão ativas e quantas Mensagens Engarrafadas, que são colecionáveis, você obteve e seus conteúdos que muitas vezes falam mais com o jogador do que com o jogo.
Design e Trilha Sonora
Kulebra and the Souls of Limbo é um jogo bem amigável com seu gráfico estilizado em papel, cenários de papelão e piadas aqui e acolá, mas se engana quem acredita que por ter essa estética esse jogo seja infantil. Cada capítulo passado, cada conversa com os aflitos e principalmente cada resolução faz desse um jogo emocionalmente pesado e com gatilhos sutis sobre temas complicados da vida. Logo a faceta colorida, cômica e “infantil” contrasta muito bem e ajuda a aliviar o peso de cada história ali contada, exatamente como Spiritfarer também fez de forma magistral.




O equilíbrio não é apenas visual, mas os efeitos sonoros de cada ambiente é bem trabalhado e em cada momento da a sensação de multidão ou de vazio (de acordo com o contexto). Somado com as inicialmente divertidas vozes dos personagens (que após algumas repetições do dia já começam a cansar) que muito lembram a dinâmica de vozes de Banjo-Kazooie e a as musicas tocadas, principalmente quando está noite no jogo, temos um grande exemplo de intenção emocional bem executada. Calmaria e acalento, tensão e o silêncio do desespero… tudo está ali, bem dosado e no momento certo.
Detalhes Técnicos
Kulebra and the Souls of Limbo entrou sem sombras de dúvidas pro hall dos meus jogos favoritos. Leve e em um preço super acessível (R$59,99 reais no momento de escrita dessa matéria na eshop brasileira), esse jogo garantirá pouco mais de oito horas de diversão caso jogue de forma ininterrupta além de conter um epílogo que, ao meu ver, claramente induz a existência de um update com mais um capítulo ou uma DLC futura. Infelizmente não veio localizado em pt-br, o que pode cansar pois alguns diálogos são longos.



Kulebra and the Souls of Limbo is not just a fun game that instigates curiosity and plays with our imagination, it is a lesson in culture and production, balancing critical and sensitive themes with a colorful atmosphere that creates a subtle melancholy for each soul helped. Thanks to Kulebra and its story, I am sure that I will never forget the idea behind this game, after all, it left a mark on my soul.
Nota do Editor: Kulebra and the Souls of Limbo foi analisado em um Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Fellow Traveller para avaliação.]
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