Lost Dream Darkness – O valor do conceito

Lost Dream Darkness - O valor do conceito

Quando comecei a jogar Lost Dream para uma review, eu tive um tipo de expectativa comum quando inicio jogos indies com propostas mais intencionadas ao abstrato e experiências sensoriais. Achava que seria algo curto, muito imersivo em sua proposta mas com limitações técnicas na programação do jogo, comum em projetos com esse nível de orçamento.

O jogo mal abria quando tentei pela primeira vez. Na última, consegui abrir sem problemas, mas ainda não tinha a presença de efeitos sonoros, a prometida trilha que traria uma experiência talvez beirando o melancólico, e elementos em código congelados, como se não houvesse a menor vontade deste jogo realmente funcionar.

Dito isto, meu interesse se transformou em escrever uma análise puramente reflexiva, com pensamentos que adquiri ao pensar no porquê criei tantas expectativas tão moldadas, talvez tentar achar este significado tão improvável de ser correto sobre como o jogo deu errado.

Uma era das trevas

Lost Dream Darkness - O valor do conceito

Lost Dreams Darkness é apresentado em sua sinopse como uma narrativa silenciosa, onde uma raposa corajosa vai tentar recuperar um mundo engolido por trevas, enquanto temos noções de ambiente e personagens por meio de efeitos e trilhas sonoras de alta qualidade.

Não pude absorver absolutamente nada disso. O jogo não iniciou nas minhas primeiras tentativas, fechando e reiniciando durante bons minutos. Quando comecei finalmente, a tela congelava em vários momentos, criando uma frustração enorme por não conseguir observar absolutamente nada do que foi prometido.

Porém, o que foi prometido? De fato, nenhum dos arquivos de alta qualidade sonora estavam presentes. Mas a expectativa de ter uma boa ideia sendo bem executada, levou a quê? O que temos como principal objetivo num jogo hoje?

Lost Dream Darkness - O valor do conceito

É claro que Lost Dream Darkness não pode ser eximido de seus problemas técnicos ou qualquer redundância de falha comercial que observamos na indústria hoje. Porém, a discussão de jogos como arte se tornou tão abstrata, quase uma simples birra de ensino médio que perdemos o valor do conceito?

O jogo tem como principal motor artístico o contraste, onde sua raposa principal vem cercada de veios luminosos que a destacam naquele mundo sem vida e com apenas chuva, trevas e desolação. Andar por aquele lugar, de maneira nenhuma, tem seu valor perdido quando pensamos que só de observar o que era planejado, temos uma ideia plena do que era buscado artisticamente.

Ao vermos uma peça de arte como Virgem dos Rochedos, de Da Vinci, não podemos necessariamente andar por ali, ou interagir com os elementos em cena. Mas a busca artística de Leonardo nos cria sensações abstratas que geram o frio do mar, a solidão daquela encosta deserta e o medo do ambiente misterioso que aquela caverna, com figuras tão enigmáticas, pode transmitir. Como personagens divinas, deveriam representar luz e salvação. Porém, como personas do desconhecido e da realidade oblíqua, geram hesitação e medo.

Lost Dream Darkness - O valor do conceito

Um jogo tem sim muitas noções artísticas envolvidas nele. Mas será que as valorizamos? Ou buscamos noções de pura avaliação pueril, como se precisássemos dar uma nota cravada para tudo? Se não podemos aproveitar um aspecto de uma boa ideia, por que deveríamos exigir que ela seja bem executada e ainda nos conformes com tantos outros departamentos?

Não sei, acho que isso vai além do que jogadores estão propostos a refletir ao consumir uma nova aquisição, e muito abaixo das preocupação de uma equipe ao desenvolver um jogo novo.

Lost Dream Darkness - O valor do conceito

[Nota do Editor: Lost Dream Darkness foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Ultimate Games S.A. para avaliação.]

Um fã de Da Vinci e Miyamoto. Não me pergunte quem é quem.