Nintendo Switch: Um console para adultos

Nintendo Switch: Um console para adultos

Com uma biblioteca repleta de títulos indispensáveis da década de 1980 até os dia de hoje e um hardware versátil, o Switch tem lugar para todo mundo em seu coração.

Com uma biblioteca repleta de títulos indispensáveis da década de 1980 até os dia de hoje e um hardware versátil, o Switch tem lugar para todo mundo em seu coração.

Antes que venha um Sub-Zero brasileiro me dar uma voadora de hate, vale dizer que esse texto não pretende afirmar que os consoles da Sony ou Microsoft sejam para crianças, ou que o Switch seja exclusivamente para adultos. Pelo contrário, essa coluna vai mais no sentido de uma defesa da acusação de que a Nintendo fabrique jogos e consoles voltados para o público infantil. Infelizmente, a noção de que o ecossistema da Nintendo não acolha títulos voltados para um público maduro está presente não só nas perspectivas de consumidores, mas também de executivos responsáveis pelo desenvolvimento de jogos (como essa matéria mostrou).

Ao longo dos últimos anos, o lançamento de jogos voltados para um público mais velho, como os ports de The Witcher 3 e Doom, por exemplo, tem se mostrado um sucesso. Além desse tipo de game que possue gráficos mais realistas, violência, narrativas mais complexas, gameplay mais exigente, etc., a biblioteca do Switch apela ao adulto de outra maneira: a nostalgia. Os emuladores de Super NES e NES para quem assina Switch Online, assim como o sucesso da coletânea Super Mario 3D All Stars, são prova disso.

Mas o que é o adulto gamer?

Para entendermos por que o Switch é a casa mais adequada para um adulto, devo primeiro explicar o que entendo por adulto. Para nossa categorização, a idade importa menos do que outro fator: a legislação. Consideraremos aqui que adulto é aquele que pode ser responsabilizado legalmente por seus próprios atos, assim como tomar parte de toda atividade que possui barreiras etárias (como consumo de álcool)*. Nesse sentido, podemos dizer que ser adulto corresponde a ter responsabilidades.

Obviamente, há diversos tipos de adultos como há de gamers. Seria impossível contemplar todos nessa coluna. Console war e PC master race à parte, na tentativa de abrangermos o maior conjunto possível, vamos dizer que gamer é qualquer pessoa com grande interesse em videogames, que consome com certa regularidade conteúdo relacionado a isso e que joga games sempre que pode.

Pessoalmente, com a aproximação dos 30 anos, tenho me visto às voltas com essa questão há um bom tempo: “sou um adulto?”, “o que me diferencia de um adulto-adulto”, “posso me chamar de gamer”? Questões importantes, uma vez que gostaríamos de estender a categoria de jovem por tempo indeterminado e, em alguns casos, evitar o termo gamer. No entanto, percebi que faço parte desse famigerado grupo, mesmo que a contragosto no começo. Outra característica determinante de um adulto, em contraposição à jovens e crianças, é que ele se encontra na posição de cuidar, em vez de ser cuidado. Explico melhor: é aquele que, preocupado em cuidar dos outros (marido, mulher, filhos, mãe, pai, etc.), da casa, das finanças (e o que mais você quiser colocar aqui), não tem controle sobre os próprios horários. Ou seja, adulto é quem passa o tempo trabalhando, limpando, cozinhando, dando atenção, para os outros. Dizendo claramente: adulto é quem não tem tempo para si. E adulto gamer é aquele que, mesmo não tendo tempo para si, encontra esse tempo (e energia) para jogar e/ou consumir conteúdo relacionado aos jogos.

Nintendo Switch: Um console para adultos
“Play Anywhere”, propaganda da Nintendo de 2017.

Como o Switch ressuscitou o gamer em mim

Lá pelos meus 18 anos, em 2008, acabei abandonando meu Nintendo Wii e também o mundo gamer – talvez em uma tentativa de amadurecer. Embora nunca tenha sido um abandono completo, pois pontuado por jogatinas de Civilization e GTA no PC, o que antes era uma característica central em mim ficou escondido – porque, afinal, na saída da infância, estamos preocupados em sermos grandes, maduros, responsáveis, e convenhamos que, à primeira vista, ser fã de Pokémon parece não combinar com maturidade.

No entanto, mesmo distante, o lançamento do Nintendo Switch em 2017 não passou desapercebido por mim. Surgiu uma pontada de vontade de voltar ao mundo dos consoles. Curiosamente, foi só no ano seguinte que essa vontade se tornou avassaladora. Junto ao lançamento de jogos que mexiam com a criança dentro de mim, como Pokémon Let’s Go e Dragon Ball FighterZ, um fator externo chacoalhou ainda mais essa criança: descobri que me tornaria pai. De alguma maneira, ser pai, não ter escapatória da “adultez”, fez com que redescobrisse meus prazeres de criança.

Acho que uma das primeiras coisas que fiz depois de receber essa notícia foi baixar um emulador para jogar Pokémon Fire Red (porque sou nostálgico mas sei o que é bom) no celular. Após o nascimento, meu filho teve de ficar alguns dias na maternidade, e como eu não podia dormir lá, voltava para casa e ficava jogando Dragon Ball FighterZ no meu PC até não aguentar mais. Nos primeiros meses, enquanto colocava meu filho para dormir, escutava podcasts de games no fone de ouvido. Porém, nada disso satisfazia meu anseio gamer completamente – sentia que precisava de um console, mas Xbox One e Playstation 4 tinham pouco ou nenhum apelo para mim.

Foi só no começo deste ano repleto de desgraças que é 2020, que consegui comprar meu Nintendo Switch. Desde então, jogo sempre que posso, troco algumas horas de sono para fechar fases, guardo dinheiro para comprar jogos e fico animado com os próximos lançamentos (com mais motivo). O meu tempo (e dinheiro) gasto com conteúdo gamer aumentou, mas sinto que me reconciliei comigo mesmo.

Nintendo Switch: Um console para adultos
Crianças empolgadas por ganharem o Nintendo 64 no Natal. Imagem retirada desse vídeo do YouTube.

Por que o Switch é a escolha certa para o adulto gamer?

O argumento principal de que o Switch seja para crianças vem, principalmente, do preconceito relacionado aos jogos first party da Nintendo. A princípio fofos, fáceis. Claro, a narrativa de Pokémon Sword e Shield, por exemplo, é bem básica e completar o modo história é relativamente fácil – mas isso na verdade pode ser visto mais como uma qualidade. Isso significa que Pokémon também pode ser jogado por crianças. Por baixo dessa aparente simplicidade, que permite aos pequenos completarem e se divertirem com o jogo, há uma mecânica complexa que exige dedicação e estudo para ser compreendida em sua totalidade. As EP’s, IV’s, breeding, e muitos outros detalhes, são coisas que não domino perfeitamente até hoje. Compreender essas coisas importam muito para o modo de batalhas online, que além disso requisita um bom raciocínio na composição de equipes e escolha de ataques – eu mesmo perco quase sempre nesse modo.

Essa contradição aparente está presente em quase todos os jogos first party da Nintendo, e é o que faz deles nomes incontornáveis no mundo gamer.

Um bom console precisa ter mais do que bons jogos, o que tem de sobra no Switch. Um bom console precisa ter uma boa jogabilidade, e como estamos falando de hardware, isso se refere a tudo que facilita o ato de jogar.

Não podemos falar por todas as pessoas – há quem não troque os exclusivos da Sony pelos da Nintendo, e a eles só o tempo julgará (brincadeira! Até eu estou hypado para o Playstation 5). Porém uma coisa é certa: no contexto social e econômico brasileiro, são poucos os pais e mães de família que dispõem de uma televisão, na qual possam jogar quando e o que quiserem. Tampouco é possível, por enquanto, dar uma escapada para jogar Spider-Man ou Halo no banheiro.

Ter um Nintendo Switch significa ter a liberdade de jogar quando e como quiser. Significa ter conteúdo para quem é jogador casual e para quem é hardcore gamer. Quando preciso dar uma arejada, só saco meu console da dock (quase sempre em modo de descanso) e jogo algumas fases no Super Mario Maker 2. Tenho em minhas mãos uma seleção de jogos que vão da década de 1980 até os dias atuais. Não são só boa parte dos melhores títulos lançados para os consoles da Nintendo nas décadas de 1980 e 1990 (ainda estamos esperando pelo Nintendo 64 para o Switch Online!), como jogos impotantíssimos da última década que estão disponíveis nessa biblioteca. Quantas madrugadas não passei jogando Doom, ou zerando Super Mario World pela primeira vez, enquanto esperava a hora de dar mais uma mamadeira para meu filho?


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Editor de literatura, poeta e gamer, não necessariamente nessa ordem.