Recentemente realizei um pequeno sonho antigo de trabalhar nos Jogos Olímpicos. Para alguém que trabalha na indústria dos esportes, conhecer toda aquela estrutura e atuar junto aos melhores atletas de todo o mundo e aos altos funcionários das diversas organizações já era por si só uma grande realização. No meu caso, além disso havia o desejo de vivenciar de perto aquele espetáculo que ocorre a cada 4 anos e do qual me lembro acompanhar desde Barcelona 92. Para ainda é clara a imagem da minha mãe esperneando com a conquista do ouro no vôlei masculino contra a poderosa Holanda. Na minha cabecinha de moleque do Terceiro Mundo, era algo surreal demais um Brasil vencer grandes potências olímpicas num esporte coletivo. Acho que foi primeira vez que vivenciei orgulho por ser brasileiro. Na época, eu sequer poderia sonhar que, anos mais tarde, eu teria a oportunidade de conhecer pessoalmente e trabalhar com o técnico responsável por aquele feito.

Sempre fui um nerdzinho sem jeito para atividades físicas, apesar de sempre ter gostado de brincar com bola. Creio que até o mais “nerd padrão” tenha uma história para contar sobre algum game de esporte. Antigamente, muito antes da franquia Fifa ter se tornado o fenômeno que é hoje, o típico consumidor de joguinhos era um cara se aptidão alguma para esportes. No entanto, esse sujeito fatalmente tinha no currículo algumas horas acumulados no California Games, Superstar Soccer ou em algum dos milhares jogos de esporte do Mario, sem contar o maior hors concours de todos: Mario Kart, que agrada qualquer público, mesmo quem nunca se sentou num banco de motorista.
Pessoalmente, uma das primeiras memórias que ainda tenho sobre games de esporte era um arcade dos anos 80 da Konami chamado Track and Field. Que jogo gostoso! Como o nome sugere, eram competições de atletismo, nas quais havia um índice mínimo para se classificar para a próxima prova. Além da boa variedade de provas, o gameplay era quase uma experiência física, já que a gente precisa apertar o botão de correr freneticamente, achando um equilíbrio de ritmo e força: nem devagar, nem muito forte.
Numa época em que localização em PT-BR era apenas um sonho distante, ou game esportivo que me conquistou foi uma fita japonesa do Hyper V-Ball, clássico do Super Famicom. Trata-se de um game de vôlei que, além de times masculinos e femininos de diversas seleções, havia também uma liga composta por equipes de ciborgues com movimentos especiais. Os malucos faziam saques em trajetórias impossíveis, pancadas que desmaiavam o adversário, bolas que ficavam invisíveis ou triplicavam por uns segundos… Uma zueira sem fim! Havia também a função de criar times, editando a bandeira da equipe e tudo mais. O problema era a necessidade de dar nomes aos jogadores. Como na época eu ainda nem sonhava em aprender japonês, escolhia os caracteres aleatoriamente e ficava brincando de imaginar o que cada letra doidinha daquela queria dizer. Mal eu sabia que, anos mais tarde, passaria a conviver diariamente com aquela escrita maluca. E mais do que isso: passaria a fazer do voleibol meu ganha pão.

Tantos os games quanto o voleibol me trouxeram muitas alegrias, memórias que carregarei para o resto da vida. Hoje vivemos num mundo altamente competitivo, com os grandes eventos movimentando quantias indecentes de dinheiro: sejam competições de esportes ou eSports. Eu próprio deixei de ser apenas espectador para trabalhar na indústria esportiva, com todas as pressões e cobranças que o ramo exige.
Mas quero registrar meu desejo de que nunca nos esqueçamos sobre o games e esportes realmente são: experiências de desafio dos nossos limites físicos e mentais, atividades de socialização e entretenimento, competição e celebração de grandes feitos humanos, um exercício de disciplina e respeito aos adversários. Seja dentro de uma quadra, ou em frente a uma tela com o joystick na mão.
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