Jogos de ritmo merecem muito mais reconhecimento do que recebem. Em um cenário dominado por experiências de ação frenética e altas doses de adrenalina, é natural que nossos hábitos como jogadores sejam moldados por esse ritmo intenso. Especialmente em uma era de soulslikes e roguelikes, onde a dificuldade e a ação estão sempre em evidência, outros gêneros acabam ficando em segundo plano.
Não me entenda mal. adoro um bom jogo de ação e admiro profundamente o quão incrível Elden Ring é, por exemplo. Mas o ponto aqui é simples: não devemos fechar os olhos para outras formas de diversão, acreditando que videogame precisa estar sempre atrelado ao excesso de intensidade. No fim, cada jogador tem sua própria opinião, e dificilmente ela será transformada apenas por debate. O verdadeiro caminho para expandir horizontes é experimentar novos estilos, provar outros “sabores” e descobrir que existem experiências igualmente valiosas fora da nossa zona de conforto.
E é exatamente nesse espírito que Patapon, uma joia inesquecível do nostálgico PSP, chega pela primeira vez às plataformas Nintendo. Com Patapon 1+2 Replay, temos não apenas o retorno desse clássico, mas também um frescor para os tempos atuais: remasterizações gráficas, trilha repaginada e a chance inédita de jogar essa peculiar mistura de ritmo e estratégia no ecossistema da Big N.

PATA PATA PATA PON!
Lançados originalmente em 2007 e 2008, os dois primeiros capítulos da franquia retornam em uma coletânea remasterizada que mantém intacto o espírito tribal do jogo. Visual em alta definição, desempenho suave a 60 fps e novos recursos de acessibilidade servem apenas como pano de fundo para o que realmente importa: o compasso dos tambores.
Aqui, o jogador é um deus tribal que comanda uma legião de guerreiros Patapons. Não há espada na mão, nem feitiço na ponta da língua. Há apenas quatro sílabas, Pata, Pon, Don e Chaka, que, repetidas em sequências específicas, transformam-se em ordens de ataque, defesa ou avanço. É um mantra digital. Uma dança entre comando e resposta. Um ritmo que não se esquece.
Se o primeiro título já era marcante por sua originalidade, Patapon 2 ampliou a experiência de forma significativa. Introduziu o “Herói”, um personagem com maior vitalidade e ataques especiais, além de um sistema de progressão que permite personalizar e evoluir suas tropas em diferentes formas e atributos. O resultado é uma jogabilidade mais robusta, colorida e estratégica, sem perder o encanto da simplicidade.

Estética que conquista
Patapon sempre se destacou por seu visual inconfundível. Um estilo cartunesco, minimalista e ao mesmo tempo cheio de identidade, que agora retorna com contornos mais definidos e cores vibrantes. Há algo quase hipnótico em observar aquelas pequenas silhuetas marchando em uníssono, como se cada traço fosse parte de uma partitura visual cuidadosamente desenhada.
Mas engana-se quem pensa que o charme está apenas no fator “fofura”. O que impressiona é como um design aparentemente simples consegue transmitir tanta emoção e carisma, sem precisar recorrer ao realismo ou a explosões gráficas. A experiência é quase nostálgica, lembrando animações estilizadas dos anos 2000 — algo entre Cartoon Network e uma vinheta experimental — só que agora polida pelo brilho de uma remasterização bem cuidada.
E se o visual é marcante, o som é simplesmente a alma do jogo. Cada comando entoado, cada resposta dos guerreiros, cada batida de tambor se mistura para formar uma melodia tribal que vai além da trilha sonora: é o próprio gameplay. O resultado é uma experiência sonora hipnótica, viciante — e uma vez que você entra no transe do “Pata Pata Pata Pon”, dificilmente consegue escapar.

Nem tudo é o compasso perfeito
Entretanto, nem tudo segue no compasso perfeito. Há um detalhe que pode incomodar — e muito — os jogadores mais atentos: a latência de áudio.
Como a jogabilidade depende diretamente do som para guiar os comandos, qualquer atraso entre o que se ouve e o que acontece na tela compromete a precisão. Dependendo do modelo da TV ou do sistema de som, esse descompasso se torna perceptível, já que não existe uma ferramenta interna de calibração para ajustar o timing. É como tentar dançar em sincronia com uma música que chega atrasada — frustrante para um título cuja essência é justamente o ritmo.
Vale destacar que, no modo portátil, o problema praticamente desaparece, permitindo jogar sem maiores dores de cabeça. Então, se a sua TV insiste em estragar o batuque, a solução pode ser simplesmente levar os tambores para a palma da mão.
Mas não é só o som que tira o jogo do ritmo. Há também uma decisão de design que pode surpreender os desavisados: a ausência de salvamento automático. Sim, em pleno 2025, ainda é preciso lembrar de salvar manualmente na vila entre uma missão e outra. Descobri isso da pior maneira possível, ao perder horas de progresso simplesmente porque me esqueci de apertar o botão. Que minha tristeza sirva de aviso: salve sempre, especialmente depois de conquistar um item raro ou vencer uma batalha complicada. Adquira esse hábito, ou corre o risco de transformar a sua jornada em uma verdadeira sinfonia de frustração.

Vale a pena buscar a batida perfeita?
Apesar dos tropeços técnicos, Patapon continua sendo uma experiência incrivelmente divertida — mesmo para quem costuma torcer o nariz para jogos rítmicos. O início desta análise já apontava para isso: abrir a mente para novas formas de jogar. E Patapon é talvez a melhor porta de entrada para expandir o seu repertório gamer.
Mais do que um simples revival, o jogo é um lembrete poderoso de que os videogames também podem ser poesia em movimento, música transformada em jogabilidade.
Para os novatos, é a chance de descobrir uma experiência verdadeiramente única. Para os veteranos do PSP, é como revisitar uma velha canção que ainda faz o coração acelerar.
No fim das contas, a lição que Patapon nos deixa é simples: não é preciso grandiosidade para ser marcante. Às vezes, tudo o que precisamos é de um ritmo constante, uma batida tribal, e a coragem de seguir o compasso.
Patapon 1+2 Replay is much more than a simple revival: it’s a celebration of the creativity that only rhythm games can deliver. Between tribal marches, precise commands, and strategic battles, the game proves that intensity isn’t measured solely by explosions or relentless enemies.
Even with minor technical issues — audio latency on certain TVs and the lack of automatic saving — the experience remains hypnotic and captivating. The charming visuals, memorable soundtrack, and innovative gameplay make this title a perfect gateway for those looking to explore new styles and rediscover a classic.
For newcomers, it’s a chance to fall in love; for PSP veterans, it’s a reunion with an old melody that still pulses with energy. In the end, Patapon reminds us that video games can also be poetry in motion, rhythm, and music turned into gameplay.
Nota do Editor: Patapon 1+2 Replay foi analisado no Nintendo Switch 2. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Bandai Namco para avaliação.]
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