Certos jogos encantam de tal forma que chega até ser difícil fazer uma analise mais racional. Isso não vale apenas para quem trabalha analisando jogos ou critico de algo, mas é levado até para o âmbito mais informal, seja numa roda de amigos, seja até mesmo em debates mais comuns do cotidiano. É normal do ser humano se deixar levar pela emoção para julgar algo, para determinar, escolher e de fato dissertar sobre a qualidade daquilo que acabou de ter como experiência.
Aglutina-se a isso a famosa agitação do cotidiano atual, em que aflora ainda mais nossa percepção de mundo, tornando cada situação ainda mais sensível e de difícil compreensão imediata. Confesso que após encerrar Planet of Lana, com pouco mais de 6 horas jogadas, tive que refletir, realizar meus afazeres do dia-a-dia, trazer a consciência para si. Preferi me acalmar, deixar a poeira baixar para trazer aqui para o portal o que de fato significou essas horas de jogatina. Será isso mesmo que estou pensando? Ou será um exagero causado pelo clímax da adrenalina causada pelo jogo?
Passado então esse sentimento, resolvi então aqui trazer por escrito, de maneira formal, evitando o uso da primeira pessoa para falar sobre o game. Então, vamos seguir para a review de Planet of Lana, um dos melhores indies que já tive a experiência de jogar.
Planet of Lana, jogo desenvolvido pelos suecos da Wishfully e publicado pela Thunderful Group, originalmente foi lançado em 23 de maio de 2023 para PC’S e os consoles da Xbox, chegando ao Nintendo Switch e Playstation em 16 de abril de 2024. Caso você seja familiarizado com a história de A Guerra dos Mundos, escrita por H.G Wells e que teve duas versões adapatadas para o cinema, uma em 1953 e outra em 2008, certamente irá ver vários elementos da obra no jogo, tanto em sua narrativa quanto até mesmo nos aspectos dos vilões.
No jogo, você assume o papel de Lana, uma jovem que de repente se depara com uma terrível catástrofe que atinge não apenas seu vilarejo, mas em todo lugar habitado. Terríveis máquinas alienígenas aterrizam no planeta para aprisionar a vida terrestre ali. Nossa heroína consegue escapar, mas acompanha seus entes queridos todos sendo levados pelos hostis extraterrestres que acabaram de chegar, incluindo sua irmã Ilo.
Após os eventos iniciais, Lana parte em busca de sua irmã sequestrada em um lugar que foi totalmente dominado pelas máquinas e nesse meio do caminho, ela encontra uma das criaturas mais especiais que tive o prazer de ver em um jogo, Mui, um gatinho que acompanha a protagonista e sinceramente?! as vezes rouba o protagonismo diante do seu carisma. É importante analisar, a primeira grande virtude do jogo.
Planet of Lana não possui diálogos, possui sons emitidos pelos personagens, interações marcantes, mas tudo de maneira subentendida. Aparentemente pode causar estranheza, mas é justamente na linguagem não falada que esta o tocante do jogo. Mas não faz falta os diálogos? NÃO! O game tem a proeza de contar uma história de maneira sensível e sendo linear do começo ao fim e trazendo coesão em cada momento. Não a toa, em diversos momentos a emoção toma conta do jogador e isso apenas por gestos ou pela própria interação que a personagem tem com Mui ou um momento de aflição causado na fuga ao se deparar com alguma máquina.
E essa leveza ao contar sua história reflexiva resulta na imersão que o jogo causa. Ao mesmo tempo que passa a sensação de um jogo simples, em que consiste sendo um game de plataforma com puzzles e obstáculos a serem superados, sem terem confrontos diretos com as máquinas diante das limitações da personagem e do seu animal (afinal, Lana é apenas uma adolescente), o game prende na busca pela resolução da história e pela tensão causada por você ser justamente uma menor de idade, que não luta, que não tem poderes e que esta incumbida de achar não apenas sua irmã, mas de qualquer vida que ali se encontra.
Mas com licença caro redator, por não ter um dialogo sequer, não há confusão na história? De verdade ela não é vazia? Ai mais uma vez a já mencionada proeza dos nossos amigos(as) suecos(as) em conseguir contar tudo sem exigir tanto da perspicácia do(a) jogador(a). O que é mostrado acaba sendo suficiente para entender o porque as máquinas estão ali, o que vieram fazer. Puxando isso, o jogo usa dessa percepção para tornar sua jogabilidade tranquila, sem grandes problemas. É tudo muito fluido. Os puzzles são dos mais variados, há alguns que exigiram um certo esforço mental para serem resolvidos, além de agilidade para que tudo desse certo. E sem ao menos trazer a sensação da mesmicee, do cansaço, do mais do mesmo.
Falando um pouco agora dos aspectos técnicos, é preciso exaltar a arte desse game. Como tudo é lindo e brilhantemente desenhado. Cada cenário tem seu tom único e é com uma maestria que encanta. É aquele desenho que por mais que não puxe para o lado realista, traz sua beleza justamente por ser uma releitura com seus traços da própria realidade. Não a toa, o game teve como forte inspiração o icônico Studio Ghibli e isso é perpectivel apenas vendo as cores utilizadas.
Não distante dessa qualidade, o jogo possui uma trilha sonora que engrandece o jogo. Nos momentos de calmaria, traz aquela paz serena nas notas musicais e nos momentos de tensão e adrenalina, aquele mix perfeito de acelerar o coração. O trabalho concretizado em algumas cenas é de tirar o folêgo (eu que o diga, que tive que jogar com minha bombinha de asma do lado).
A sensação que foi concluir tudo, é única. O prazer de ter vivenciado esse jogo, de ter visto cada momento, é daqueles que denotam o prazer de ser gamer. O jogo é uma história de fuga e de busca pelos entes queridos e facilmente traz a sensação de querer ser abraçado e concretiza essa emoção. O game custa R$ 74,95, tem localização para o português brasileiro (apesar da já mencionada falta de diálogos). Fica muito difícil chegar aqui, como revisor do jogo, buscar qualquer palavra negativa ou qualquer bug que possa evidenciar algo que possa ser criticado.
O jogo tem uma história de começo, meio e fim. É tocante em sua simplicidade, encanta na sua narrativa, diverte em sua jogabilidade e se consagra sendo um gigante com pequenas ambições. Palmas aos Suecos(as). Vocês conseguiram fazer uma obra prima.
[Nota do Editor: Planet of Lana foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Wishfully Studios para avaliação.]
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