Uma carta de amor aos jogos de plataforma, aos anos 1990, à era dos mascotes – e à tudo o que sintetiza videogame. Brasileiro e com valor acessível, Raccoo Venture é uma das mais boas surpresas de 2023, em especial aos fãs da Nintendo, que podem encontrar nele um alento pós Super Mario 3D World + Bowser’s Fury.
Desenvolvido por Diego Ras, da cidade de Americana/SP, e publicado neste mês de dezembro pela QUByte Interactive, além de estar completamente em português, o jogo é essencial, total e fundamentalmente brasileiro. E jogando é possível entender. Afinal, nas fases há um urubu de chapéu, Astuto Penacio (alô, Zeca Urubu!) que lhe propõe apostas que podem render muitas moedas (alô, jogo do bicho!).
Astuto Penacio cativa com malandragem tipicamente brasileira – ReproduçãoPara apostar, basta montar uma sequência de três peças de xadrez – Reprodução
O sistema de dinheiro, aliás, é muito parecido com o de Super Mario Odyssey: não há vidas, mas ao morrer, depois de ter sofrido três hits, você perde 50 moedas e retorna do último checkpoint. E caso fique com saldo abaixo do mínimo, aí sim será preciso retornar do início da fase a cada “game over”.
Mas vamos ao básico: Raccoo Venture é um jogo de plataforma em 3D que segue duas linhas muito claras, de plataforma e de coletaton. Como definido pelo próprio desenvolvedor em entrevista ao youtuber Guilherme Oss durante a Brasil Game Show (BGS) 2023, não há um modo fácil, um médio e um difícil. Mas a dificuldade pode ser definida pelo jogador.
Como um bom jogo de plataforma, Raccoo Venture começa em cenários verdes e repletos de natureza – Reprodução
Ou seja: passar as fases, indo do “ponto A” ao “ponto B”, representa um estilo de jogabilidade, mas para coletar tudo (campos e peças de xadrez e páginas de um diário) a cada fase, o player conhece outro gênero, no qual terá bastante trabalho pela frente. E ambos são divertidos.
Já citado anteriormente, Super Mario 3D World é uma das principais inspirações, o que fica claro já no início da aventura, quando a câmera se apresenta de maneira fixa, mas a jogabilidade é em três dimensões. E a esta altura, é hora de apresentar a história:
“Raccoo não é apenas um simples guaxinim, ele é o último herdeiro do Poder dos Guardiões, que por muitos anos protegeram a Relíquia Sagrada, mantendo a harmonia em Verta. Porém os malvados Tatus Tatuados a roubaram e agora Verta corre um grande perigo.
Assuma o controle de Raccoo e desperte a Força Sagrada para enfrentar inimigos, resolver enigmas e quebra-cabeças, enquanto explora as 5 regiões de Verta, descobrindo itens mágicos que ajudarão nesta jornada em busca das peças da Relíquia”.
É exatamente isso. Pular entre plataformas e desviar de perigos como em Super Mario ou Crash Bandicoot, decifrar puzzles como em Limbo, Fez e outros indies, e coletar itens como em Banjo-Kazooie e outros títulos da época do Nintendo 64, que inclusive é representado na casa de Racco, onde está o guarda-roupa do protagonista, que poderia, acompanhado de personagens interessantes como o pombo Pru (que é controlável), estrelar um filme de animação. O carisma, a história envolve e os visuais lúdicos já estão lá, afinal.
A casa do Raccoo conta com um Nintendo 64 interativo. Nostalgia que fala, né? – Reprodução
São, ao todo, cinco regiões e 17 fases únicas para explorar, mais de 140 itens colecionáveis para encontrar e diversos trajes para customizar o personagem, que vão desde roupas cotidianas, como um pijama e um traje de cozinheiro, a fantasias completas que deixam Raccoo com a aparência de um xamã, de uma caveira em homenagem ao Dia de Los Muertos e muito mais (experimente usar os códigos TAV e MRM no menu de códigos da tela inicial).
São muitas as opções de roupas, que podem ser coletadas dentro das fases, como forma de recompensar os jogadores que mais exploram – Reprodução
A experiência ainda é temperada com mini-games, como um de acertar alvos em troca de recompensas, empolgantes batalhas contra chefões e cenários variados, que começam com planícies verdejantes, como manda a cartilha, mas que eventualmente chegam a horizontes mais industriais e a ambientes mais desérticos e com lava.
Você já sabe. Se o cenário fica assim, é porque a dificuldade aumentou! – ReproduçãoQue tal brincar de acertar ao alvo? – Reprodução
Há, porém, que se apontar uma das poucas frustrações do título, já que o combate, principalmente quando Racco Venture é rodado no modo portátil, é, em certa medida, confuso. Isso acontece porque, em determinados momentos, é difícil enxergar quais são inimigos que podem ser combatidos com o único golpe que pode ser desferido pelo protagonista (uma bundada, ao apertar B + Y) e quais são os que necessitam que uma “bomba” seja arremessada para vencê-los.
Adversários comuns podem ser facilmente vencidos com a técnica padrão ao melhor estilo Super Mario, ou seja, pulando sobre suas cabeças, mas outros possuem espinhos que te machucam ao fazer isso. E enxergar estes espinhos pode ser o maior desafio da jogatina, então é preciso ter estratégia.
No centro da imagem, entre as árvores, há um inimigo com espinhos nas costas., que não pode ser derrotado com o golpe B + Y – Reprodução
Situação semelhante acontece em outro indie brasileiro, ‘Kukoos: Lost Pets’, que apresenta premissa muito parecida ao entregar experiência de plataforma 3D moderna inspirada em clássicos, o que faz com excelência, mas com um combate que não empolga. E, aproveitando o espaço, Raccoo Venture também guarda semelhanças com o indie ‘Clive ‘N’ Wrench’, que referencia os bons tempos de coletatons. Essas duas indicações merecem ser jogadas.
De volta a Raccoo, ao longo das fases o guaxinim encontra plantas e frutas pelo chão, e pode segurá-las para atingir objetivos diferentes. Por vezes, é preciso colocar a fruta correta em um caldeirão, para resolver um quebra-cabeça e então avançar. Mas, às vezes, é preciso jogar um cogumelo explosivo em rochas para quebrá-las e abrir caminho, ou então em inimigos com espinhos, para destruí-los.
No início da campanha, as indicações do que fazer são claras, mas conforme a aventura avança, os jogadores iniciantes podem coçar a cabeça para descobrir o que fazer, enquanto os veteranos vão se dar melhor, já que é preciso observar atentamente cada cantinho do cenário, e também a movimentação dos inimigos, para decidir o que fazer e em que ordem fazer.
A vantagem é que não há tempo para concluir as fases, então aqui a calma é a melhor amiga – e nesse sentido a trilha sonora, com muita percussão e clima tropical que lembra Donkey Kong e Crash Bandicoot, ajuda – e muito. As músicas são mais um entre os muitos pontos positivos da produção, a exemplo do preço: R$ 49,99 na eShop do Brasil. Preço indie, experiência AAA, assim como muitos lançamentos da QUByte Interactive.
Como não se encantar com este cenário, as moedas flutuantes e os baús para destrancar? – Reprodução
A conclusão, portanto, é que sim, Racoo Venture vale a pena. Vale a pena para novos jogadores, que procuram experiências divertidas, lúdicas e instigantes. Vale a pena para jogadores mais experientes, que querem reviver os anos 1990. Vale a pena para todos os brasileiros, como forma de valorizar o crescente mercado nacional. E vale a pena para os Nintendistas, de forma especial, o que fica claro nesta afirmação do criador, Diego Ras:
“Os anos 90 foram marcantes para a história dos jogos de plataforma 3D. Quem viveu e jogou grandes clássicos como Mario 64, The Legend of Zelda: Ocarina of Time, Spyro, Banjo & Kazooie entre tantos outros grandes jogos que proporcionaram muitos momentos de diversão, sabe bem do que estou falando. Foi com a ideia de trazer novamente esta experiência para a nova geração que comecei a desenvolver Raccoo Venture.
Raccoo Venture tem muita influência e referências destes grandes clássicos que escreveram a história dos jogos 3D, e traz em sua essência a atmosfera lúdica e inocente que por muitas vezes acabou sendo deixada de lado pela nova indústria dos videogames.”
Raccoo Venture
Veredito
Design
90
Trilha Sonora
90
Diversão
95
Gameplay
95
Custo x Benefício
100
Prós
Desafios de plataforma divertidos
Experiência coletaton de excelência
Jogo brasileiro, 100% em português!
Custo-benefício
Visuais, trilha sonora e ambiente típicos de uma animação em 3D
Curva de aprendizado que favorece a exploração
Contras
Mecânica de combate um pouco confusa
94
Nota Final
[Nota do Editor: Raccoo Venture foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela QUByte Interactive para avaliação.]
[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]
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