Sea of Stars - Meu primeiro 90’s aesthetic RPG

Sea of Stars – Meu primeiro 90’s aesthetic RPG

Inspirado em Chrono Trigger e outros RPGs clássicos dos anos 90, Sea of Stars cria sua identidade própria e brilha em gameplay e direção de arte.

Sea of Stars foi anunciado em 2020 e rapidamente conquistou a atenção de muitos fãs de JRPGs. Para mim foi incrível, já que nunca havia jogado Chrono Trigger – sim, não me julguem – e pelo que me dizem se ele é ainda melhor do que Sea of Stars, então já pode dar o prêmio de jogo indie do ano para o jogo da Sabotage Studios. O jogo não só se inspira, pois sabemos que é fácil copiar, mas sim cria uma atmosfera original, uma história brilhante e um design que te deixa preso a querer explorar mais e assistir cada vez mais dele, bem, é isso que Sea of Stars te dá.

O título da Sabotage Studio, desenvolvedora canadense que estreou em 2018 com o game de ação e plataforma The Messenger, poderia cair na fórmula de ser apenas uma cópia levemente inspirada de títulos como Chrono Trigger, Super Mario RPG, Chrono Cross, Star Ocean: The Second Story, Breath of Fire e outros clássicos RPGs de turno dos anos 90, mas escreve de forma simples e incrível a sua própria história.

Por questões pessoais só pude começar a ter consoles e a jogar a partir dos 17 anos, e nasci em 1997 então não peguei o ápice dos RPGs de turno que se tornaram clássicos como os que já mencionei, nem joguei todos estes, apenas Star Ocean porque já havia me interessado pela franquia, meu primeiro console foi um PC, se é que podemos chamar de console – isso é uma briga para outro texto.

Então quando peguei algo como Sea of Stars, e me disseram que foi assim os anos 90, me senti numa maquina do tempo, como se pudesse visitar a infância dos meus amigos mais velhos que me diziam ‘joga isso e aquilo’, ou dos meus primos que tinham os consoles.

Sea of Stars - Meu primeiro 90’s aesthetic RPG

Com personagens carismáticos, um design de cenários belíssimo, direção de arte incrível, quebra-cabeças bem elaborados, excelente trilha sonora e um sistema de combate que une simplicidade e variedade, especialmente nas lutas mais desafiadoras, o RPG protagonizado por Zale e Valere, pelo cozinheiro guerreiro Garl e companhia já nasce como uma das experiências mais marcantes que tive com RPGs, um dos gêneros que mais gosto – se não o que mais gosto, depois dos de cozy games.

HISTÓRIA

No game, seguimos a jornada de Zale e Valere, os Filhos do Solstício, predestinados a tornarem-se os Guerreiros do Solstício. Abençoados com os poderes do Sol e da Lua, os jovens ainda devem aprimorar suas habilidades para dominar a Magia do Eclipse, a única força capaz de derrotar as terríveis criações do alquimista, The Fleshmancer.

A história de Sea of Stars começa sendo contada por um personagem identificado apenas como “O Arquivista“, um ser que atua como um observador externo da trama do jogo. Logo em seguida, mergulhamos no povoado de Berçolunar. Lá começamos com Zale, Velere e Garl ainda crianças e esperando pelo seu treinamento, contudo como crianças sapecas eles se metem em uma encrenca tentando entrar numa caverna proibida antes mesmos de concluírem os treinamentos de Zale e Valere, e Garl acaba perdendo um olho. Logo depois disso o trio se separa, Zale e Valere vão para a academia Zênite e Garl fica na vila abaixo da academia.

Apesar dos guerreiros do solstício enfrentarem diversas vezes o Flashmancer e seus residentes, eles nunca obtiveram uma vitória e nem cumpriram a misteriosa profecia da Ascenção. Mesmo que um mundo esteja passando por uma paz momentânea. Entretanto Zale e Valerie aparentemente possuem o poder para quebrar esse circulo. E então recebem a missão de partir para a Ilha Espectral, onde um novo Residente precisará ser detido durante uma noite de eclipse, quando essas criações do Fleshmancer ficam mais vulneráveis e os Guerreiros do Solstício, mais poderosos.

Sea of Stars - Meu primeiro 90’s aesthetic RPG

No inicio da campanha depois que mostra todo o crescimento dos guerreiros do solstício Zale e Valere, eles se reencontram com Garl que diz ter passado todos estes anos treinando na caverna proibida para poder sair e se aventurar com seus amigos, apesar de Zale e Valere temerem pela segurança de Garl, o mesmo os convencem de deixá-lo partir junto.

PONTOS BRILHANTES

Um detalhe importantíssimo para fã brasileiros de RPGs, o jogo está totalmente em português. O que é super importante, pois RPGs costumam ter muitos textos e eles trabalharam muito bem nessa tradução. Sem falar que a experiência se torna mais rica ao aprofundar nas historias do personagens que até mesmo não controlamos, descobrindo assim mais do mundo de Sea of Stars.

O jogo deixa claro, a todo momento, que acima do heroísmo em ser um Guerreiro do Solstício, a missão de enfrentar os Residentes e o Fleshmancer é um fardo difícil de carregar. Aqueles que nascem nos solstícios são treinados desde crianças e carregam um fardo enorme de deixar o mundo seguro, passando por diversos sacrifícios e perdas, só olhar para a cara ranzinza do diretor da escola zênite. Mas ainda temos diversos pontos alegres onde é possível rir de forma boba porque são coisas absurdas como uma toupeira com poderes mágicos e seu pet ou piratas músicos. O equilíbrio entre leveza e momentos mais densos da história é o que torna o game tão agradável do começo ao fim.

Outro ponto brilhante é o protagonismo de Garl, seria muito fácil fazer do cozinheiro guerreiro o “alívio cômico” da história, mas a empatia e senso involuntário de liderança do Garl, principalmente com personagens comuns da trama que precisam de ajuda e algum tipo de orientação em momentos difíceis, é tocante. Em um momento da história, um evento trágico acontece, e é justamente Garl quem consegue ser o ponto de sustentação para aqueles que mais foram afetados e encontra para eles um caminho para recomeçar. Nem sempre são superpoderes que salvam o mundo. É a inteligência, carisma e liderança de Garl que formam um sustento para muitos personagens que precisavam não de um herói perito em combate, mas de alguém com empatia e força emocional para lidar com momentos difíceis.

Sea of Stars - Meu primeiro 90’s aesthetic RPG

PARA QUE GRAFICOS ULTRA HD?

Florestas, lagos, vulcões, cachoeiras, desertos, pântanos, cenários no fundo do mar, em montanhas de gelo e até mesmo no alto das nuvens são tão belos e distintos entre si que muitas vezes tive vontade de simplesmente revisitá-los. A melhor coisa a fazer é aproveitar ao máximo cada um desses ambientes, até porque itens extremamente importantes, de armas a técnicas especiais, podem estar escondidos nos segredos de cada cenário. Zale e Valere podem mudar o horário do dia para a noite, e vice-versa, e ver o quanto os cenários reagem de forma belíssima à iluminação é um deleite à parte. Essa técnica de manipulação do tempo também é fundamental para progressão nos cenários, por ativar diversos objetos que reagem à luz do sol ou da lua.

Uma coisa comum em RPGs que se inspiram em clássicos dos anos 90, da era 16 bits, é que eles são similares uns com os outros. Por consequência disso, títulos que conseguem ter uma identidade visual própria sem abrir mão de suas referências históricas acertam de forma extremamente boa, e Sea of Stars brilha também nesse aspecto. Cada vez que visitamos uma nova ilha no jogo nos deparamos com designs de cenários únicos, com paisagens coloridas, ricas em detalhes e diferentes. Os próprios inimigos que enfrentamos parecem casar com os ambientes que integram, e todo o trabalho de direção de arte é simplesmente de tirar o chapéu.

Isso se reflete também nos efeitos sonoros e músicas, que contam com a participação de Yasunori Mitsuda como um compositor convidado. Para quem não sabe, ele foi o responsável pela composição de sucessos como Xenoblade ChroniclesChrono Cross e o próprio Chrono Trigger. Também é fantástico como os arranjos mudam em tempo real dependendo do período do dia, e todas as outras surpresas que temos quando avançamos na história.

GAMEPLAY

Semelhante a Chrono Trigger, não há transições entre exploração e combates. Os inimigos são visíveis no mapa e podem ser evitados ou enfrentados. Além disso, o jogo permite que o jogador altere a ordem de qual personagem atacará durante cada turno, otimizando os resultados. Um ponto interessante nas mecânicas de gameplay de Sea of Stars estão nos artefatos e seus efeitos que trazem uma exploração recompensadora e na medida certa, dando uma verdadeira aula de game design.

Há vários baús e outros itens escondidos pelos cenários, e o jogador destrava novas mecânicas progressivamente que ajudam a alcançar caminhos diferentes e a resolver quebra-cabeças. Tem itens que deixam o jogo mais fácil a medir que você encontra eles, como um de regenerar sua saúde sempre que acaba uma batalha, ou outro de sempre acertar o segundo golpe que possível fazer no time certo.

Sea of Stars - Meu primeiro 90’s aesthetic RPG

Por sinal, os puzzles são bastante engenhosos, sem muita enrolação, alguns você tem que avançar na historia para adquirir um poder e depois voltar lá. As mecânicas de combate também são igualmente inventivas e progressivas, de tal modo que são uma excelente porta de entrada para iniciantes no gênero de RPG.

Os personagens controláveis no jogo atacam com diferentes atributos. Valere, por exemplo, consegue desferir dano com os aspectos lunar e de impacto, enquanto Zale machuca oponentes cortando-os ou com o poder do Sol. Naturalmente também existem inimigos com diferentes fraquezas e/ou resistências a esses atributos. Quando os inimigos se preparam para realizar ataques poderosos, uma lista de ‘travas’ aparece sobre suas cabeças: caso o jogador o golpeie com todos os atributos representados pelos ícones, ele consegue impedir tal ataque de acontecer, há itens que podem lhe ajudar com isso também, caso você seja iniciante e não tenha paciência para acertar, mas lhe aconselho a tentar, é o charme do jogo.

O jogador dispõe de até três personagens simultâneos em campo, mas há um total de seis até o fim da campanha principal. Diferente de muitos jogos do gênero, o usuário pode substituir os membros do grupo a qualquer momento nos combates. É interessante notar que os combates acontecem sem transição, posicionando os personagens onde eles estiverem no cenário, e não há encontros aleatórios com inimigos.

Além disso, diferentemente de outros JRPGs de turno onde você tem uma equipe, aqui os personagens não evoluem de forma individual. Toda experiencia ganha em batalha vai para todo o grupo. Sendo assim, a evolução dos personagens é simultânea, independente de qual você utiliza mais no jogo. Outra mecânica que achei bem interessante em Sea of Stars é que, a cada nível alcançado, o personagem ganha pontos bases relacionados àquele nível, mas também pode escolher uma opção aleatória para melhorar ainda mais um atributo específico.

O jogo também introduz na narrativa um recurso que chama de Usar Magia sem Usar Magia, através de Mana Vital. Basicamente, em todo ataque regular, os inimigos dropam cargas, que os jogadores podem usar para Reforçar os ataques, além de algumas vezes ganhar mais um atributo para quebrar travas.

Sea of Stars - Meu primeiro 90’s aesthetic RPG

Uma coisa meio original para o jogo, é que não há poções de pontos de vida e mana. Garl é um cozinheiro, e você pode ficar pegando alimentos ou comprando pelo jogo e quando acampar criar pratos deliciosos que irão regenerar sua vida em batalha. E podemos pescar! Sim, além de conseguir frutinhas pelo mapa ou alimentos já prontos, podemos realizar pescaria em algumas áreas especificas para isso.

Outra coisa é que o game obriga o jogador a diversificar suas ações em combate, os heróis recuperam MP ao usar ataques básicos, e com o MP sendo um recurso escasso, é preciso sempre alternar entre magias e golpes mais fracos. O jogo se repete algumas vezes em batalha, porque possui um ritmo lento para conseguir outras magias e montar combos entre os parceiros que estão em jogo.

CONCLUSÃO

O jogo é belíssimo, e para mim foi uma experiência magica incrível, pois sinto que nasci pra jogar coisas assim. Você tem um combate satisfatório que se repete enquanto você tenta alcançar mais magias, há profundidade em personagens simplesmente carismáticos. Coisas feitas com tanto carinho, bem trabalhadas e tudo feito por um estúdio indie, não foi uma Square Enix da vida.

Sem falar que tudo nele é fácil de entender, você não perde tempo ou horas numa fase só, o jogo tem cerda de 30 horas, e você consegue se manter bem até o final e é estimulado a fazer mais! Eu amo Xenoblade Chronicles – sem querer comparar os dois – mas tem horas que eu fico cansado pela quantidade de textos, e muitos dos recursos de gameplay eu esqueço quais são, sem contar que ainda não esta em português, então bate só o desespero… Eu jogo apertando botões como se não houvesse o amanhã.

Enfim, Sea of Stars entrega tudo aquilo que os fãs esperavam e ainda mais, se tornando facilmente como um dos melhores e mais divertidos RPGs de todos os tempos.

Sea of Stars - Meu primeiro 90’s aesthetic RPG
Sea of Stars - Meu primeiro 90’ aesthetic RPG.
Veredito
Para um fã de JRPG, e dos clássicos do gênero, Sea of Stars se torna uma aventura nostálgica moderna que você deve considerar jogar, seja pela sua trilha sonora, sua arte ou carisma que proporciona uma experiencia completa. Você pode até pensar: "será mais uma copia de outros clássicos" mas eu digo que não, ele te entrega originalidade e entretenimento por toda a sua gameplay. A Sabotage Studios soube o que fazer ao criar um novo clássico do gênero, entregando um RPG com todas essas qualidades, onde qualquer um consegue jogar e gastar horas, seja você iniciante, ou atá mesmo se você é um pai e espera introduzir seu filho num jogo clássico, mas acha difícil para ele, Sea of Stars pode preencher lacunas como essa.
Design
100
Trilha Sonora
100
Diversão
90
Gameplay
100
Custo x Benefício
100
Reader Rating7 Votes
60
Prós
Personagens carismáticos
Excelente sistema de batalha por turnos
Direção de arte impecavel
Trilha sonora que diverte e emociona
Contras
Um pouco fácil demais
Dificuldade em movimentação, por falta de um item que ajude a revisitar locais ja vistos.
98
Nota Final


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Olá me chamo Emanuel ou só "Nuel", sou Game Designer e nasci na cidade mais quente do Brasil, tento de tudo para ficar longe e relaxar em jogo competitivo, mas meus favoritos sempre são os jogos de farming e narrativa/ação.