Sobre texto e games

Sobre texto e games

Que a verdade seja escrita!

Que a verdade seja escrita!

Tenho uma lembrança muito particular com livros na minha infância e adolescência. Quem está beirando os quarenta anos conhece a Coleção Vaga-lume de livros, publicada pela Editora Ática entre os anos 70 e 90. Eram livros maravilhosos que contavam histórias cheias de aventuras, magia e mistério. Pois bem, menciono este fato porque sou um apaixonado por literatura e pela palavra escrita.

Vivi a minha adolescência nos anos 90, e foi nessa época, mais precisamente em 1998, que saiu uma das maiores obras da indústria dos video games: Final Fantasy VII, desenvolvido pela Square. Apesar de nunca ter jogado este jogo nessa época, via muito o meu irmão, fã de carteirinha da saga, jogar esta obra. Fiquei tão absorvido na história quando ele, que passava horas jogando. Uma coisa me marcou muito nesse jogo: o texto fazer parte tão importante e dar o tom nos diálogos. A maneira como o texto muda, desaparece, rola para continuarmos a ler, isso tudo faz uma diferença enorme no sentimento que aquela cena específica nos provoca. Este jogo foi relançado posteriormente para Nintendo Switch em 2018.

Sobre texto e games
Um lindo jogo com ótimo texto

À medida que o tempo passou, me interessei muito mais pelo texto e pela literatura. Me formei em Letras, me tornei professor e um amante da palavra escrita. Não é de se imaginar que jogos com muito texto sejam interessantes para mim. Mas qual é a real importância do texto nos games? Podemos contar uma boa história sem texto?

Posso responder estas perguntas citando alguns exemplos de games que usam o texto de formas diferentes. Comecei com Final Fantasy VII, que usa o texto quase como uma nova personagem, já que ele dá o tom e o peso ideal nas sequencias de diálogo e contextualização. Outro game que usa o texto de uma forma muito interessante é Hyrule Warriors: Age of Calamity, desenvolvido pela Koei Tecmo e lançado pela Nintendo em Novembro de 2020. Este é um exemplo interessante do uso do texto, porque podemos obter muito contexto nas telas de carregamento. Esta contextualização é muito importante porque, como sabemos, não se aprende muito do que aconteceu na Grande Calamidade em The Legend of Zelda: Breath of the Wild, já que o nosso herói silencioso simplesmente não se lembra de nada e tenta recuperar as suas memórias no decorrer do game. Em Age of Calamity precisamos dessa constante contextualização. E essa escolha por contextualizar o jogador nas telas de carregamento para mim saiu com uma ótima opção, já que durante o gameplay dificilmente podemos parar para ler o que está escrito.

Sobre texto e games
Ótimo texto para um game excelente

A indústria de games está a cada dia inventando uma nova forma de trabalhar com o texto nos jogos. E essa inventividade nos dá exemplos muito bons de jogos criativos e que usam o texto das mais variadas formas. Recentemente joguei Bastion, um indie desenvolvido pela Supergiant Games e lançado para Switch em 2018. Neste jogo você controla o personagem que é conhecido apenas como “The Kid”. Em um mundo de fantasia, você entra em ambientes pintados à mão, que aparecem aos poucos na sua tela. O mais interessante de tudo, no entanto, é a narração desse jogo. Uma voz externa sempre te acompanha no jogo, narrando exatamente o que o personagem faz na tela e tecendo alguns comentários também. É muito interessante a maneira como o texto foi introduzido nesse jogo, não através de textos de lore para se ler no menu, mas a simples narração do jogo já provoca uma sensação de que você está “assistindo” um livro.

Sobre texto e games
História narrada ao vivo

De qualquer forma, o texto inserido em um game pode aparecer de maneiras muito diferentes. Seja contextualizando o jogador, seja colocando lore em um menu, seja ele um personagem ou até mesmo seja contando a história ao mesmo tempo que ela se desenrola, o texto é muito importante para os jogos. Já se passaram mais de 20 anos desde quando abri o meu primeiro livro da Coleção Vaga-lume, mas desde então, e mais agora, divido o meu tempo entre ler os meus amados livros e o meu amado Switch. Todos tem o mesmo espaço no meu coração.


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Nintendista e professor. Mesmo shape do Mario, almejando o shape do Luigi.