Todo gamer deve ter ouvido falar, pelo menos uma vez na vida, da fatídica parceria da Nintendo com a Sony para produzir um SNES com leitor de CD. Essa breve união tem toda uma história por trás, com muitas reviravoltas.
O início
Tudo começou entre o fim da década de 80 e começo dos anos 90. A mídia CD já começava a se popularizar e era, de fato, um modo muito mais barato e eficaz de produzir e armazenar os conteúdos.
O CD podia armazenar até 700mb em informações, diferente dos cartuchos, mídia mais utilizada nos consoles da época, que chegavam até 6mb. O contraste não parava aí, pois os cartuchos eram extremamente caros e ficavam mais caros ainda quanto maior o jogo fosse, porque ele precisaria de espaço extra. Já o CD poderia ser manufaturado ao custo de poucos centavos.
Vendo isso, a indústria dos games não ficou parada e começou a entrar de vez na “onda do CD”. Quem deu início foi a japonesa NEC, que utilizou o CD-Rom no PC Engine em 1988. Em 1991, a Sega fez uma parceria com a JVC e lançou, no Japão, o Sega CD.
A Nintendo não poderia ficar parada, concorda? Ela sabia disso. Quem também tinha esse conhecimento era a Sony, que procurava um meio de entrar de vez no mundo dos games como um grande nome. Então vamos voltar algum tempinho para recordar algo que a Sony fez para a Nintendo.
O chip de som SPC-700 foi criado por Ken Kutagari (guardem esse nome), engenheiro da Sony. Esse chip foi utilizado no Super Nintendo e o seu resultado é simplesmente maravilhoso. A qualidade do áudio do SNES é uma coisa inegável e tudo isso é graças ao Kutagari e seu chip.
A Nintendo procurou Kutagari e a Sony quando resolveu planejar o CD-Rom para o SNES. Tudo parecia que ia dar certo, afinal, a Sony era uma das maiores, se não a maior, empresa do mundo dos eletrônicos, enquanto a Nintendo era líder no ramo dos consoles. Será que deu tudo certo?
Dois reis não podem mandar no mesmo local
As duas gigantes, desde o começo da união, não se batiam. A Nintendo tinha Hiroshi Yamauchi, seu presidente e um business man que levou a Big N de uma empresa de baralhos japoneses e brinquedos à uma gigante dos vídeo games.
A Sony, por outro lado, era uma das maiores empresas do Japão. Conquistou renome internacional com seus eletrônicos, principalmente TVs e aparelhos de som. A Sony queria a todo custo se tornar um nome forte na indústria dos jogos e não iria abaixar a cabeça para ordens de outra empresa.
Inicialmente, o acordo era a fabricação de um anexo de CD-Rom para o SNES, igual o Sega CD fazia com o Mega Drive. A Sony aproveitaria a oportunidade para inserir seu novo padrão de CD-Rom, o Super Disc. Assim sendo, os jogos seriam feitos nesse formato e a empresa ganharia taxas de licenciamento.
Esse mesmo acordo, deixaria a Sony criar seu próprio console, que agruparia o anexo de CD-Rom já com o SNES, ou seja, seria um console único com tudo junto. Algo semelhante ao que a JVC fez com o Wondermega. E, sim, o nome desse console que a Sony fabricaria seria: Super Nintendo PlayStation.
Yamauchi não gostou muito dessa ideia, pois as taxas de licenciamento da Nintendo eram uma importante fonte de renda e ele não estava disposto a compartilhar isso com a Sony.
Mas não só isso, Yamauchi também estava preocupado em como a Sony poderia aproveitar essa união para ganhar mais força e virar uma concorrente. O esperto presidente da Big N, então, fez algo na surdina.
Em junho de 1991, durante uma conferência na Consumer Electronics Show (CES), a Sony anuncia ao público o seu console, o Super Nintendo PlayStation. Porém, antes de pularmos para o próximo dia, voltemos ao Yamauchi.
Um pouco antes dessa conferência da Sony, o Big Boss da Nintendo, insatisfeito com o acordo feito, pediu para o presidente da Nintendo of America, Minoru Awakawa, ir à Holanda.
Na Holanda, Awakawa forjou uma parceria com a Philips, a fim da empresa holandesa produzir um anexo de CD-Rom para o Super Nintendo. Sim, a Nintendo fez isso.
Agora voltemos ao dia seguinte à conferência da Sony. Apenas um dia, após a gigante dos eletrônicos anunciar seu próprio console numa união com a Nintendo, a Big N faz um anúncio a todos revelando sua parceria com a Philips.
Hiroshi Yamauchi humilhou a Sony, mas isso não foi suficiente para encerrar a parceria entre as empresas, apesar da relação ter esfriado. Ambas, Sony e Nintendo, concordaram que o SNES PlayStation ainda poderia ir pra frente e fizeram um novo acordo, dessa vez com um licenciamento mais favorável à Big N.
Foi nesse processo que foram fabricados os protótipos que ficaram famosos na internet. Mas, esse pequeno gás na relação durou pouco, pois em 1992 houve um novo racha no acordo.
Boatos diziam que a Nintendo apenas estava enrolando a Sony para que ela não entrasse no mercado. Isso acabou de vez com qualquer tentativa de colocar o projeto para frente. Também foi nessa época que a gigante vermelha quebrou outro contrato, mas dessa vez com a Philips. Como consequência, tivemos o Philips CD-i com alguns jogos de grandes franquias da Nintendo. Pérolas eternizadas como meme em toda a internet.
A vingança é um prato que se come frio
Lembra daquele Kutagari citado anteriormente? Ele não ficou satisfeito com o fim do projeto com a Nintendo e resolveu pedir à Sony para por tudo em prática.
Norio Ohga, presidente da Sony, foi relutante em gastar mais dinheiro nas ideias de Kutagari, mas resolveu, no fim das contas, apostar nessa nova empreitada.
Kutagari então passou a trabalhar com a tecnologia de 32bits, pois ela era muito mais poderosa e o hardware poderia renderizar gráficos em 3D de forma parecida aos jogos de arcade recentes, como Virtua Fighter.
Em 1994 é lançado o PlayStation, ou PlayStation 1, como é conhecido aqui no Brasil. O console foi um sucesso, ultrapassando a marca de 100 milhões de cópias vendidas. O primeiro vídeo game a chegar a esse número.
A Nintendo, por outro lado, resolveu continuar nos cartuchos e lançou o Nintendo 64. O novo console era mais poderoso que o Playstation, mas a Big N sofreu bastante com a falta de apoio de grandes aliadas do SNES, que partiram para o lado da Sony.
A partir daí, a Nintendo viveu altos e baixos, enquanto a Sony galopou na dianteira do mundo dos games com seu PlayStation.
Não sabemos o que poderia acontecer caso o Yamauchi não tivesse feito o acordo com o Philips. Ou até mesmo se continuasse o antigo acordo com a Sony. Mas uma coisa é certa, a batalha de egos entre Sony e Nintendo mudou para sempre a indústria.
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