É curioso pensar que uma das franquias japonesas mais celebradas do mundo dos games jamais havia dado as caras em um console da Nintendo, uma das maiores potências da indústria justamente do Japão. Por anos, a série Yakuza ficou restrita aos sistemas da concorrência, sustentada por suas icônicas cenas de ação, humor marcante e uma mistura irresistível de drama e diversão.
Cinco anos após o próprio criador da série declarar que o Nintendo Switch era “infantil demais” para receber um título da franquia, eis que o impensável acontece: Yakuza 0 não só chega à plataforma da Big N, como também inaugura o lançamento do novíssimo Nintendo Switch 2 (e com uma edição exclusiva).
Yakuza 0: Director’s Cut é uma versão totalmente repaginada do jogo lançado originalmente em 2015 para o PlayStation 3. Otimizado para rodar em 4K e 60fps, o título traz novas cenas, dublagens em inglês e chinês, suporte a múltiplos idiomas (incluindo francês, italiano, alemão, espanhol e chinês simplificado) e até um modo multiplayer online inédito, o “Red Light Raid”.
Motivos não faltam para considerar esse jogo uma escolha certeira no seu novo Switch 2. Vem com a gente descobrir o porquê.

Começar do começo
A SEGA acertou em cheio aqui. É claro que muitos jogadores esperam títulos ainda mais grandiosos (como um Like a Dragon: Infinite Wealth da vida), mas por uma questão estratégica (afinal, uma geração de consoles dura anos), a Big N precisa manter o desejo pelo Switch 2 sempre em alta. E não há jeito melhor de fazer isso do que lançando os grandes nomes aos poucos, com aquele senso de progressão que só a Nintendo sabe conduzir. Por ora, começar pelo começo nunca fez tanto sentido.
Yakuza 0 é, sem dúvidas, uma das melhores portas de entrada para essa lendária franquia. E não apenas por causa do “zero” no nome (o que já entrega bastante, né?), mas porque o jogo foi criado exatamente com esse propósito: apresentar o universo da Yakuza para novos jogadores, enquanto ainda oferece profundidade, drama e carisma o suficiente para agradar aos fãs veteranos.

Uma história de origem com peso e personalidade
Essa é uma história anterior do primeiro jogo da série, ambientada cerca de duas décadas antes, na vibrante e exagerada década de 1980, um período de crescimento econômico explosivo no Japão que influencia diretamente o ritmo, o estilo e o tom da narrativa.
Aqui, acompanhamos dois protagonistas em momentos distintos da vida: Kazuma Kiryu, novato no mundo do crime organizado e futuro ícone da franquia; e Goro Majima, seu futuro rival, ainda antes de se tornar o infame “Cachorro Louco” do clã Tojo.
A história de Kiryu começa com ele realizando uma cobrança para um agiota. A missão dá errado, e o homem que ele havia confrontado aparece morto pouco tempo depois. O local do crime? Um pequeno terreno baldio no coração de Kamurocho, disputado ferozmente entre facções da Yakuza e com potencial de se tornar a cobiçada Torre do Milênio. A partir daí, Kiryu se vê no meio de uma conspiração muito maior do que imaginava, precisando deixar a família Dojima para proteger seu mentor, Shintaro Kazama, e limpar seu nome.
Enquanto isso, Goro Majima vive em Sotenbori, Osaka, administrando um clube de cabaré cinco estrelas. Ele foi expulso da Yakuza e agora está preso em uma rotina de controle absoluto, sendo constantemente vigiado por superiores. No entanto, quando recebe a chance de retornar à organização, precisa decidir até onde está disposto a ir, e o que está disposto a sacrificar, para reconquistar sua posição.
Com duas narrativas entrelaçadas que exploram lealdade, ambição, redenção e insanidade (às vezes tudo isso numa única cena), Yakuza 0 entrega uma experiência cinematográfica que te prende do início ao fim.

Não é só um port: é uma reestreia em grande estilo
A versão de Yakuza 0 para o Nintendo Switch 2 está longe de ser apenas uma simples remasterização gráfica, e isso precisa ser dito com todas as letras. Trata-se de uma reestreia com pompa e circunstância. O jogo foi cuidadosamente retrabalhado para tirar proveito da nova geração da Big N: roda em 4K e 60fps, traz cutscenes remasterizadas, novas cenas e dublagem em inglês (embora o ideal, de acordo com esse humilde redator, continue sendo jogar com o áudio original em japonês).
O game, que já era excelente, ficou ainda melhor nesta versão. As cutscenes impressionam qualquer Nintendista, com uma riqueza visual que serve como uma amostra do que o Switch 2 é capaz de entregar. Mas não estamos aqui para falar só das cutscenes cinematográficas e sim, de uma das marcas registradas da franquia Yakuza: o combate.

Quebrando ossos com estilo (e dinheiro)
Cada soco, chute e voadora tem impacto de quebrar ossos, e agora, com os recursos aprimorados de vibração HD do Switch 2, essa sensação fica ainda mais intensa. É pancadaria que se sente nos dedos.
Tanto Kiryu quanto Majima possuem três estilos de luta únicos, desbloqueados gradualmente ao longo da história, refletindo suas personalidades de forma brilhante. Kiryu luta com firmeza, alternando entre Brawler (o estilo equilibrado), Rush (focado em velocidade) e Beast (brutal e devastador, ideal para usar objetos do cenário). Já Majima traz uma abordagem imprevisível: seu estilo mistura acrobacias, ataques malucos e uma certa teatralidade que casa perfeitamente com seu comportamento errático.
O combate é dinâmico, violento e, de certa forma, cômico. Cada vez que você derrota um inimigo, o jogo o recompensa com uma chuva literal de dinheiro. Quanto mais criativo e cruel for seu combo, maior o bônus. Derrubadas ambientais, finalizações estilosas e nocautes múltiplos são não só eficazes, mas incrivelmente lucrativos. Em Yakuza 0, dinheiro é poder, e você vai querer muito. (Bem, é uma máfia né?!)
Embora brigas em Kamurocho (ou Sotenbori) sejam tão comuns quanto encontrar vendedores ambulantes, o combate nunca se torna repetitivo. Isso porque o jogo oferece uma ampla variedade de inimigos, estilos de luta e interações com o cenário, mantendo o ritmo sempre fresco. Até sair para fumar pode virar uma batalha épica — porque basta virar a esquina para um grupo de encrenqueiros querer testar seus punhos.
Essa versão marca um ponto alto no combate corpo a corpo da série. Vale lembrar: Yakuza 0 foi um dos últimos jogos da franquia desenvolvidos originalmente para o PlayStation 3 e, sem exagero, representa o ápice do combate clássico da série. Posteriormente, muitos dos sistemas e recursos aqui introduzidos seriam reaproveitados no remake de Yakuza 1 (Kiwami), mas é neste jogo que tudo brilha com mais personalidade.

Uma pancadaria extra para quem quer mais
Falando em novidades, Yakuza 0: Director’s Cut também traz um conteúdo inédito para os fãs: o modo Red Light Raid, uma adição tanto offline quanto online que expande a ação para além da campanha principal.
A proposta é simples e divertida: você entra em locais icônicos da história principal e enfrenta hordas de inimigos em uma corrida contra o tempo. Seja sozinho, com amigos online ou ao lado de aliados controlados pelo sistema, o objetivo é descer a porrada em tudo que se move antes que o cronômetro zere.
O diferencial aqui é que os personagens vêm com seus estilos de combate separados. Em vez de alternar estilos em tempo real, como na campanha, você escolhe um personagem por estilo. Isso permite experimentar, por exemplo, o Kiryu versão Beast ou o Majima em modo Breakdance Insano, como lutadores independentes, cada um com suas vantagens e limitações.
Não é um modo revolucionário, nem tenta ser. Mas como bônus, funciona bem: é uma boa desculpa para voltar ao jogo depois de terminar a história ou para juntar os amigos em uma sessão de caos bem humorado. No fim das contas, é mais uma forma de aproveitar a excelente jogabilidade do título e agora com um tempero multiplayer.
Conclusão
Yakuza 0: Director’s Cut chega ao Nintendo Switch 2 não apenas como uma estreia da franquia na nova casa da Big N, mas como um verdadeiro presente para quem esperava ver essa mistura única de drama, pancadaria e humor absurdo rodando no novo console da Nintendo.
Mais do que um port caprichado, essa edição celebra tudo o que tornou Yakuza 0 tão marcante: um enredo envolvente, personagens inesquecíveis, combate visceral e uma ambientação riquíssima nos anos 80 japoneses e agora com gráficos turbinados, desempenho estável e conteúdo extra para esticar ainda mais a experiência. Uma pena não ter a localização em português brasileiro, o que realmente faz falta em um mundo de novidades para os Nintendistas tupiniquins, que começam a acompanhar cada vez mais a chegada do idioma nos jogos da big N.
O preço de R$ 249,90 para um jogo de estréia, em um mundo que cada vez mais encarece para os consumidores, é interessante, se tornando até um titulo chamativo para aqueles que desejam conhecer os exclusivos do Switch 2.
Seja você um veterano da série ou alguém prestes a conhecer Kamurocho pela primeira vez, esta versão é o melhor ponto de partida possível. E, com o Switch 2 mostrando do que é capaz, fica difícil não imaginar um futuro promissor para toda a saga Like a Dragon no console.
Começar pelo começo nunca foi tão satisfatório.
Yakuza 0: Director’s Cut is the perfect debut for the franchise on the Switch 2. With enhanced graphics, additional voice acting, and a new game mode, it goes beyond a simple port. The gripping story and impactful combat are just as good as before if not better. It’s an excellent entry point for newcomers and a worthy return for longtime fans. A promising start for the Like a Dragon universe on Nintendo’s platform.
[Nota do Editor: Yakuza 0 Director’s Cut foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch 2. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela SEGA para avaliação.]
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