[20 dias para o Switch 2] O marco de The Legend of Zelda: Breath of the Wild

[20 dias para o Switch 2] O marco de The Legend of Zelda: Breath of the Wild

É inevitável falar do Nintendo Switch e não lembrar imediatamente daquele jogo que o acompanhou em seu lançamento. É inegável: um dos maiores consoles de todos os tempos teve como seu título de estreia uma das maiores lendas da história dos videogames.

O dia 3 de março de 2017 marca mais do que o lançamento de um novo hardware, marca a reinvenção da Nintendo e a explosão de The Legend of Zelda em uma nova direção. O jogo, reconhecido até hoje como um dos maiores já feitos, não apenas revolucionou a indústria, como também foi essencial para o sucesso do próprio Switch. Seu impacto é tão profundo que ganhou o status de marco atemporal.

Mas esta não é uma review. Tampouco uma análise técnica. O objetivo aqui é entender como e por que Breath of the Wild atingiu um patamar tão elevado, a ponto de ser citado de forma única nesta contagem regressiva ao Switch 2. Por que não listar os 10 melhores jogos do console? Por que não destacar outros títulos igualmente aclamados? Porque Breath of the Wild é, por si só, um divisor de águas. E vale ser lembrado isoladamente.

[20 dias para o Switch 2] O marco de The Legend of Zelda: Breath of the Wild

Quando Zelda renasceu

É curioso pensar como a franquia Zelda se transformou após Breath of the Wild. A série sempre foi respeitada, amada e consagrada como uma das maiores da história dos games. Mas na época anterior ao Switch, muitos acreditavam que o auge criativo já havia sido alcançado com Ocarina of Time.

Mesmo entregando títulos memoráveis como Majora’s Mask, Wind Waker e Twilight Princess, havia uma sensação constante de que todos estavam, de alguma forma, presos à sombra de Ocarina. A fórmula, com dungeons, itens-chave e progressão linear, começava a dar sinais de desgaste (mesmo com sucesso dos jogos até então). Não que os jogos fossem ruins (longe disso), mas pairava no ar a dúvida: até onde a série conseguiria se reinventar?

A resposta começou a ser construída em 2011, logo após o lançamento de Skyward Sword. Ali nasceu a semente de uma mudança. Produtor da série, Eiji Aonuma ouviu atentamente o feedback dos jogadores, que pediam por um mundo mais aberto, interconectado, explorável. A primeira experiência com essa liberdade aconteceu em 2013, com o sucesso de A Link Between Worlds, um experimento bem-sucedido que apontava o caminho para algo maior.

A virada: um novo conceito de Hyrule

Liderada por Aonuma e pelo diretor Hidemaro Fujibayashi, a equipe começou a trabalhar em um projeto que abandonaria de vez as convenções tradicionais da franquia. A proposta era ousada: um Hyrule completamente aberto desde o início, com liberdade total de exploração, física realista, interações químicas detalhadas e uma narrativa que não limitasse o jogador.

Na E3 de 2014, Aonuma já revelava o desejo de reformular as dungeons e puzzles, dois dos pilares clássicos da franquia, e de criar um jogo que pudesse continuar sendo vivido mesmo após o término da história principal. Era o nascimento conceitual de Breath of the Wild.

O resultado dessa ambição criativa foi um jogo que não apenas atendeu às expectativas… como as redefiniu.

A equipe, então, se preparou para trazer à franquia o verdadeiro conceito de mundo aberto, algo que até se insinuava em títulos anteriores, mas que ainda carecia de definição e da escala necessária para realmente ser classificado como tal. A proposta era clara: cada parte do cenário deveria ser acessível, cada elemento do mundo deveria convidar à exploração. Tudo o que o jogador via deveria poder ser alcançado.

Breath of the Wild foi sendo moldado com esse objetivo em mente: proporcionar uma experiência de jogo verdadeiramente imersiva e libertadora. O resultado foi algo completamente diferente de tudo o que já se havia visto na série até então. Era épico, sim, e mantinha a essência da clássica jornada do herói de Hyrule em busca de salvar a princesa, mas havia algo a mais. Algo maior.

Era um novo ápice para a franquia. Um ponto que talvez se pensasse já ter sido alcançado, mas que se revelou como uma nova fronteira, o verdadeiro renascimento de The Legend of Zelda.

A liberdade como linguagem

A empolgação dos fãs era enorme. Por mais que houvesse incertezas , afinal, a ideia de alterar as tradicionais dungeons e mexer na fórmula principal causava certo receio,, o conceito de mundo aberto era aguardado com carinho e expectativa. E então veio o trailer definitivo, aquele que parou a internet. O jogo estava diferente, isso era nítido. Link abandonara a clássica túnica verde, Ganon (ou Ganondorf) não tinha mais uma forma corpórea, Zelda e outros personagens passaram a falar. Os visuais apresentavam traços cartunescos, mas com uma beleza tão orgânica e real que causavam espanto. Quem nunca se deparou com o mar ao redor de Hyrule, ao pôr do sol, e se perguntou: como isso foi feito?

Ao mesmo tempo em que tudo parecia novo, a essência épica da franquia estava lá. Não apenas pela clássica luta entre o bem e o mal, ou pela jornada do herói para salvar a princesa. Aquilo era Zelda. Um novo Zelda. E finalmente, estávamos testemunhando um novo apogeu da série.

A grande revolução de Breath of the Wild não está apenas no mapa aberto, mas na liberdade absoluta. Tudo pode ser explorado, escalado, manipulado. Cada pedaço do cenário responde às ações do jogador. A física do jogo obedece leis reais: a chuva atrapalha a escalada; metais atraem raios; fogo, vento e eletricidade interagem entre si de maneira coerente e criativa. Você é um ser livre, selvagem — vivendo o verdadeiro “respiro da natureza” que o título sugere.

E tudo isso se encaixa perfeitamente na proposta. Não se trata apenas da história que é contada, mas de como o jogador se sente ao jogar. Curiosidade, descoberta, encantamento. Breath of the Wild foi criado para ser diferente. E se tornou uma lenda.

Um impulso sem precedentes para o Nintendo Switch

O impacto de Breath of the Wild também se refletiu diretamente nos números. Até então, nenhum jogo da franquia The Legend of Zelda havia ultrapassado a marca de 10 milhões de cópias vendidas. Esse cenário mudou radicalmente em 2017: o título vendeu 32,81 milhões de unidades, consolidando-se como um dos maiores sucessos da história da Nintendo.

A recepção crítica foi tão grandiosa quanto o desempenho comercial. Breath of the Wild venceu as principais categorias no The Game Awards 2017, incluindo Jogo do Ano, Melhor Direção e Melhor Jogo de Ação/Aventura. Também foi indicado nas categorias de Direção de Arte, Trilha Sonora e Design de Áudio. No DICE Awards, promovido pela Academy of Interactive Arts & Sciences, o jogo levou os prêmios de Jogo do Ano, Jogo de Aventura do Ano, Melhor Direção de Jogo e Melhor Design de Jogo.

A imprensa especializada foi unânime nos elogios. Publicações como IGN, GameSpot, Polygon, Eurogamer, Entertainment Weekly, EGM, GamesRadar+ e Game Informer elegeram Breath of the Wild como o melhor jogo de 2017. No Metacritic, liderou 18 listas de melhores jogos da década de 2010, mais do que qualquer outro título do período.

O jogo também se destacou em votações populares. Em uma pesquisa conduzida pela TV Asahi com mais de 50 mil jogadores japoneses, foi eleito o melhor jogo de todos os tempos, superando clássicos como Dragon Quest V. Já em 2023, uma votação da revista GQ, com jornalistas de toda a indústria de games, colocou Breath of the Wild no topo da lista de melhores videogames da história.

O legado: de fenômeno a referência

Mas o impacto de Breath of the Wild vai além de vendas e prêmios. O jogo se tornou referência absoluta em design de mundo aberto, narrativa emergente e liberdade de exploração. É estudado em universidades, reverenciado por desenvolvedores e celebrado por jogadores de todos os estilos e gerações.

Seu sucessor, Tears of the Kingdom, teve a proeza de expandir ainda mais essa fórmula, introduzindo construção livre, verticalidade extrema e múltiplas camadas de interação. No entanto, foi Breath of the Wild que rompeu as barreiras, que teve a coragem de destruir estruturas tradicionais para abrir caminho a algo verdadeiramente revolucionário.

Diversos estúdios e jogos assumiram Breath of the Wild como fonte direta de inspiração. Títulos como Genshin Impact, Ghost of Tsushima, Immortals Fenyx Rising, e Elden Ring, carregam traços herdados da obra da Nintendo. O que se via então, era que BOTW era o novo padrão com o qual todos os mundos abertos são comparados.

Mais do que um marco comercial, o game é um divisor de águas. Uma obra-prima que não apenas renovou a franquia Zelda, mas também foi fundamental para o sucesso e a identidade do Nintendo Switch. Ele é, sem dúvida, o símbolo máximo da era do console híbrido.

Um grande entusiasta da Nintendo, "fanZeldaboy" e confesso dono de um sofisticadíssimo sotaque nordestino visse?