Jake e Júnia nasceram com apenas 1 minuto de diferença. Cada uma a seu modo tinham a própria opinião sobre o que esse minuto representava em suas vidas. Um minuto na frente ou um minuto atrás. Jakeliny era a primeira da turma, agitada e cheia de projetos. Júnia fazia tudo no seu tempo, não tinha pressa e estava tudo bem. Brigavam pelas coisas mais banais, disputavam cada migalha de atenção de seus pais, porém se amavam a ponto de comprar a briga uma da outra.
Irmãs, parceiras e rivais. Idênticas e extremamente diferentes em todos os aspectos. Duas peças imperfeitas criando uma dupla quase perfeita. Rivais eternas quando ligavam seu Nintendo Switch pra um desempate do Super Smash Bros. Ultimate. Não importava o número de vitórias e nem quem havia vencido no dia anterior. Toda glória ia pra quem vencesse naquele dia. Mãe e pai alternavam na plateia, sem favoritismo, porém cheios de apoio a quem fosse a derrotada do dia.
Primos, primas, tios e amigos não ousavam jogar contra as duas nas festas ou reuniões de família. Apenas uma por vez podia estar na partida e não valia escolher as princesas. Era muita apelação. Afinal todos queriam se divertir e a disputa das duas era algo especial só entre elas.
Não haviam brigas naquela casa. Nem discussões por coisas que normalmente uma família discute. Não se ouviam gritos, ofensas ou qualquer coisa do tipo. Apenas alguns Joy-Con’s quebrados. Eram unidos e toda desavença era “abraçada” com muito carinho e amor até que sumisse dentre risadas e o chocolate quente que a mãe fazia nessas horas.
Nenhum mal habitava naquele castelo.
Júnia chegou da psicóloga e foi ligando o Switch para testar os novos joycons, presentes de aniversário, e aquecer para a partida do dia quando Jake chegasse do ballet. Venceu dez partidas online e se deu conta que a irmã não chegara ainda. Ligou para a sua gêmea e não foi atendida. Tentou a mãe, que também não atendeu. Falou com o pai. Ele também não sabia de nada. Foi na praça em frente ao prédio. Ninguém a tinha visto. A mãe chegou. Nada também.
Ligaram para todos os conhecidos até acabar a bateria de seus celulares. Choraram abraçadas no mesmo instante que o pai abria a porta gritando impropérios ao irmão que tentava acalma-lo usando palavras de carinho e lógica. Desligou o telefone e sentou-se na poltrona desesperado. Chorou e sem forças abraçou as duas no sofá. Ficaram assim até recomeçarem as ligações.
Júnia precisava descansar e foi deitar no quarto da irmã.
Abriu a porta e caiu ao chão. Gritou. Jake estava linda deitada na cama. Maquiada e com um vestido roxo que usou no casamento da tia Lurdes. Seu rosto estava pálido, todavia seu semblante era sereno enquanto abraçava sua almofada de Yoshi com o Amiibo da Princesa Peach, favorita da irmã, na mão direita. O quarto estava perfumado.
Júnia pouco se lembra do que aconteceu depois. O choro dos pais. Pessoas chegando e saindo. Perguntas que ela não sabia e nem queria responder. Seu olhar fixo na Princesa Daisy, preferida da irmã, como se a pequena Amiibo pudesse lhe explicar o inexplicável.
O Switch não foi mais ligado desde aquele dia e logo foi vendido quando encontraram o bilhete que Jake deixara para Júnia.
Júnia nunca mais jogou e nem soube do bilhete que dizia:
Parabéns mana. Você venceu.
Bom domingo a todos. Fiquem bem.
É bom estar de volta…
Deixar uma resposta