Lutar, morrer, repetir. Este é o loop de Lone Ruin, como deveria ser. Afinal, é um roguelike. Mas a experiência aqui é arcade, direta ao ponto e sem enrolações. O jogo que chega amanhã, dia 12 de janeiro, ao Nintendo Switch é um título de ação frenética, intensa, divertida e viciante, apesar de desafiadora, que brilha ao combinar efeitos retrô com jogabilidade moderna.
As comparações com Hades são inevitáveis. Enquanto o título da Supegiant Games é repleto de história e apresenta “runs” longas e com diferentes possibilidades de técnicas a se explorar, Lone Ruin, desenvolvido pela Cuddle Monster Games e distribuído pela Super Rare Games, que possibilitou acesso antecipado ao jogo à equipe do Project N, vai por outro caminho. Não há diálogos ou grandes explicações. Somente é apresentado o básico para que o gameplay seja introduzido. E isso já é suficiente.
Com cabelos azuis e usando chinelos, a protagonista precisa entrar em uma ruína enfeitiçada. Ela procura um poder oculto, e para chegar até ele conta com diferentes magias e combinações de poderes. É isso mesmo. Não há ataques de curto alcance, de espadas, machados e/ou outras armas. Aqui, o combate é de longa distância, com armas como um bumerangue ou um tiro de fogo.
Inclusive, o sistema de ação utiliza controles diferentes da maioria dos títulos deste estilo. Ao invés dos tradicionais botões de face (X, Y, A e B, no caso do Nintendo Switch), Lone Ruin, que aposta em belos visuais e trilha sonora eletrizante, trabalha por padrão com golpes exclusivamente nos botões de ombro (ZL e L / ZR e R). Mas é possível remapear os botões no menu, caso o jogador não se adapte.
Ação viciante
Um “spell-based roguelike twin-stick shooter” (ou roguelike de tiro com duas alavancas baseado em feitiços, em português) é a informação que consta na página do jogo na eShop. Isso explica muito. A movimentação é feita com o analógico (alavanca, ou stick, em inglês) da esquerda. E a mira se dá com o mesmo dispositivo, mas o da direita. É simples, mas precisa de um tempo para ser masterizado, já que vai na contramão do que é ofertado pelo mercado, com tiros que só acertam se o alvo estiver na mira e não podem ser lançados de qualquer maneira.
É possível complementar a frase que abre esta análise. Talvez “mirar, atirar, dar dash, morrer e repetir”, seja o verdadeiro loop de gameplay, que oferece partidas rápidas, mas intensas, se adequando ao estilo híbrido do Nintendo Switch, que pode ser levado a qualquer lugar.
“Lute em batalhas sangrentas e mais de uma série de inimigos e vários chefes em várias áreas distintas e infernalmente vibrantes. Não deixe que as criaturas horríveis tirem o melhor de você!”, convida a descrição do jogo, que dá detalhes da história.
“Uma cidade antiga envolta em magia. O que antes era uma civilização movimentada e as pessoas vivendo em harmonia com a magia que os cerca, há muito tempo enlouqueceu e ficou irreconhecível pela própria magia que costumava ajudar a sustenta-los. O que poderia ter corrompido esta cidade? Tendo ouvido as lendas, você, um talentoso explorador conjurador, chega a essas ruínas hostis um milênio depois com o objetivo de buscar esse antigo poder e finalmente limpar a cidade da corrupção que foi consumida por todos esses anos atrás. A resposta provavelmente está no centro de Lone Ruin… se você conseguir chegar lá”.
Como funciona
O jogador(a) é apresentado, logo de cara, a um sistema de hordas. A cada sala, cinco hordas de inimigos irão atacá-lo(a), e um marcador no topo da tela mostra a evolução das ondas. Inclusive há um modo “survival”, em que não se avança telas, mas sim é preciso sobreviver por 10 minutos. Mais uma vez, uma experiência essencialmente arcade, com grande foco em pontuação e direito a “leaderboard”.
Uma trilha sonora eletrônica acompanha o ritmo eletrizante da ação em tela, que acontece em pixel art com visão isométrica. E há clara influência de jogos clássicos. Na primeira interação com um NPC, surge a frase “It’s dangerous to go ‘lone. Take one of these”. Pegou a referência?
No momento desta fala, é preciso escolher entre oito feitiços, e antes que a escolha seja definitiva, dá para experimentá-los em bonecos de treino. Assim como em Hades, a partir daí cada sala oferecerá duas opções de upgrade, novos ataques ou perks/habilidades passivas. O objetivo é “maximizar o poder destrutivo” para ir cada vez mais fundo nas ruínas, a partir de um caminho escolhido pelo jogador.
Há armas para todos os gostos. A “fireball”, por exemplo, dá hit kill no início, mas é lenta e exige muito da mira. Já o “chain lightning” atinge três inimigos com um tiro e é bom para mobs, mas ruim para chefes. E tem até mesmo um buraco negro que suga os inimigos, dando dano e deixando-os juntos.
Há bônus para certas armas ao iniciar uma run, como uma forma de incentivar o replay e uso de todas elas. E tem as habilidades passivas, que podem ser acumuladas em até cinco, como “berserk”, que zera o cooldown por um tempo, ou outra que maximiza a quantidade de corações. É preciso sorte, claro, mas também e principalmente estratégia, para definir a melhor build de acordo com o estilo de gameplay desejado.
Normalmente as skills são escolhidas de uma a uma, mas ao vencer um boss, três itens são dropados. Geralmente um deles é uma recuperação de HP, e os outros dois melhorias ou habilidades aleatórias.
Vale dizer que a trajetória será difícil. Na experiência do Project N, mesmo na dificuldade easy (tem também normal e hard) foi complicado passar de algumas telas. Após o primeiro chefe, que é uma árvore gigante que vive na área “infected gardens” (ou “jardins infectados”), o jogo passa a revelar semelhanças com shoot ‘em ups, em que é preciso mais fugir dos tiros do que atacar (entenda no trailer abaixo). Por isso, aqui vai uma dica: não venda o dash, que já vem equipado no início da partida.
Sim. A primeira habilidade selecionada é associada, por padrão, ao botão ZR. E já há um dash no ZL. Outras duas podem ser adicionadas, no R e no L, mas também é possível vender skills para colocar outras no lugar, a qualquer momento, pelo menu acessado no botão +.
Também há dinheiro no jogo, para que habilidades ou melhorias sejam adquiridas. A moeda se chama “currency” e mais uma vez exige estratégia. As “moedas” são dropadas pelos inimigos, que ocasionalmente também deixam recuperações de HP ao serem derrotados. Mas em certas salas é preciso escolher entrar na loja para de fato usar o que foi coletado, acumular mais dinheiro a partir de tesouros ou então apenas seguir em frente, com melhores ou novos ataques.
Desempenho
Pixel art com visão isométrica, inspirações neon oitentistas e inimigos rápidos com tiros abundantes e em tons vibrantes de rosa e roxo. Lone Ruin lida com tudo isso muito bem durante quase todo o tempo.
Por padrão, a opção SSAO (Screen Space Ambient Occlusion) vem desligada, e há um motivo para isso. Ao ativá-la, o desempenho cai consideralvemente, prejudicando a ação. Então, não mexa aí, mas fique à vontade para ativar os números de dano causados ao inimigo, o que pode trazer mais detalhe na análise das habilidades.
Em relação a bugs, durante a experiência do Project N, somente um foi perceptível. Em certos níveis, há buracos que representam perigo de queda. Normalmente, quando o jogador cai, há leve punição de perda de HP e então vem o retorno à posição original, dentro de poucos segundos. Mas, às vezes, cair é fatal, pois o personagem fica “preso” sob o cenário, sendo necessário recomeçar do zero. A dica, portanto, é evitar ao máximo cair.
Custo x benefício
Em relação ao custo benefício, Lone Ruin fica na média. Novamente, uma comparação com Hades é necessária. Na eShop do Brasil, Hades custa R$ 92,46, mas comumente entra em promoção e sai na faixa dos R$ 50. Já Lone Ruin chega por R$ 71,99.
Na comparação entre os preços sem corte, o título da Super Rare sai na frente. Mas quando comparado ao desconto ofertado por Hades fica atrás, pois oferece menor tempo de gameplay, em razão da ausência de história, diálogos e habilidades permanentemente desbloqueáveis.
A balança, no entanto, fica equilibrada já que Lone Ruin, por ter características arcade e retrô, estabelece um ritmo de gameplay mais viciante, que estimula o replay a partir de runs mais curtas e desafiadoras, que vão, pouco a pouco, mostrando que o jogador evolui a cada tentativa de decifrar o segredo das ruínas.
[Nota do Editor: Lone Ruin foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Super Rare Games via Ryan Brown para avaliação.]
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