Como Zelda Breath of the Wild influenciou o futuro dos games e se tornou seu próprio GÊNERO

Como Zelda Breath of the Wild influenciou o futuro dos games e se tornou seu próprio GÊNERO

Hoje nós vamos debater se já podemos chamar The Legend of Zelda: Breath of The Wild de sub-gênero, ou seja, será que nós já temos jogos “BotW-like“?

Essa matéria e esse debate ganharam vida devido a comparações cada vez mais frequentes de jogos com Breath of the Wild, incluindo o exclusivo de PlayStation Ghost of Tsushima! Será que já não é hora de assumirmos que todos esses jogos que tiveram comparações, não são cópias de Breath of the Wild, e sim, Breath of the Wild é que se tornou um sub-gênero? Ou ainda é cedo demais e nós podemos só dizer que alguns são cópias e outros apenas tem influência? Fica aqui com a gente para debater nos comentários.

Vídeo Original de 06/12/2020

Primeiro, vamos falar o que é um “jogo-like“, se você já sabe pode pular essa parte.

1- Jogo-Like

Chamamos de “nomedojogo-like“, uma classificação de estilo de um game, que é baseado em algum jogo muito influente. Aqui no Brasil são aqueles “ah, é um jogo tipo aquele” a palavra “like” significa realmente “como/tipo”.

Talvez o exemplo mais recente seja o “Soulslike“, que é um jogo estilo “Souls” se referindo à série de jogos da From Software Demon’s Souls e o mais famoso, Dark Souls. Esses jogos foram tão influentes, que começaram a ditar certas tendências, e muitos jogos, entre muitas aspas, “copiaram” seu estilo. 

Chamamos de sub-gênero porque Dark Souls ainda é um Action RPG, ele não é um novo gênero, e a maioria aí dos Soulslikes também ainda são Action RPGs, só que eles são claramente da mesma família. Mas calma, o próprio BotW tem algumas coisas que vieram da série Souls, e nem por isso ele é um Soulslike, não é porque o jogo tem alguma coisa em comum que ele já é um “jogo-like”.

Vamos resumir dizendo que o jogo precisa COMPARTILHAR a mesma ESSÊNCIA de um jogo referência para ser um representante de um “jogo-like”, e a partir do momento que MUITOS jogos fazem isso, podemos “cravar” que esse jogo se tornou um sub-gênero, ou um “jogo-like”.

Outros exemplos são “Roguelike” (esse aqui o sub-gênero ficou mais famoso que o jogo), “Diablo-like“, “Smash-like” entre outros. Alguns sub-gêneros ganham um nome próprio, como Metroidvania.

2- The Legend of Zelda: Breath of The Wild e seu impacto

Em 2017, o Switch foi lançado, e junto com ele, o aguardadíssimo “The Legend of Zelda: Breath of The Wild“, traduzindo, pois a tradução será importante no futuro, “A lenda de Zelda: O respirar da selva” .

O jogo simplesmente EXPLODIU as reviews mundiais, chegando a incríveis 98 de 100 no site Metacritic, que não opina, só reúne as avaliações mundo afora e faz uma média, então é, a média de avaliação do jogo era 9,8! Posteriormente, algumas outras reviews abaixaram a média pra 97, mas enfim, o jogo ainda tinha batido o recorde de notas perfeitas, ou seja, foi o jogo que mais tirou nota 10, ou, que tirou nota 10 em mais sites/revistas, canais, etc. 

O jogo teve um lançamento tão estrondoso que fez o feito bizarro de obter +100% de attach rate, ou seja, ele vendeu mais que a sua plataforma, o Switch, e não, estes números não foram obtidos pela soma da versão Switch com a versão WiiU, a versão Switch vendeu mais que o Switch mesmo.

Pra fechar o ano, ele ganhou o prêmio máximo de “Jogo do Ano” no The Game Awards, sendo que pra muita gente, 2017 foi o melhor ano da geração, pois tivemos:

Horizon Zero Dawn, Mario Odyssey, Persona 5, Players Unknow Battleground, NieR Automata, Cuphead, Hellblade, Splatoon 2, Xenoblade 2, ARMS, Mario Rabbids, Hollow Knight entre outros, foi o ano mais difícil pra um jogo ser Game of the Year, e a verdade é que todo mundo já esperava que Zelda fosse ganhar. 

Para muitas pessoas, Breath of the Wild é o jogo da geração e alguns ainda vão mais longe afirmando ser o jogo preferido de todos os tempos.

3- E o que seria um “BotW-like”?

Bom, qual seria a essência de Breath of the Wild? 

Um mundo aberto imenso, um ambiente paradoxal belo e perigoso com uma natureza viva e principalmente: um foco em liberdade do jogador!

Por que belo? O diretor Aonuma disse ao apresentar o projeto Breath of the Wild na E3 2015, que para ele, uma convenção da série que ele quis manter e explorar é a de que Zelda se passa numa ambientação paradoxal. É um lugar belo e calmo, mas que esconde criaturas perigosas e outros segredos, ou seja, ao contrário de um Metroid, um God of War, e outros adventures com perigos a enfrentar, a paisagem e mesmo as vilas e personagens de “The Legend of Zelda” deve passar uma ideia PACÍFICA. E em Breath of the Wild COMO ISSO FOI EXPLORADO! Você se esquece que tem lá o Ganon, que a Zelda está precisando da sua ajuda… Você fica só observando de cima da montanha como tudo é belo! 

A gente pode observar essa característica nas cores vivas do jogo, naquela grama alta e absurdamente verde, que te passa a ideia que você está na floresta e é um lugar pacífico, é a natureza…

É diferente de um Pokémon que o ambiente é pacífico, pois o jogo é pacífico mesmo! Você não tem ali um grande mal ou criaturas perigosas que querem exterminar a humanidade…

É diferente de um Xenoblade, que tem uma ambientação maravilhosa, mas, ela não passa a ideia de um lugar pacífico, pois não é a ideia. O level design e ambientação de Xenoblade passam mais a ideia de curiosidade, vontade de desmistificar o lugar. Entenda, esse “belo” não tem a ver com qualidade gráfica.

O mundo aberto imenso serve também para ampliar e dar vida à essa natureza, te possibilitando criar ambientações diversas e diferenciadas, além de deixar a zona de perigo mais “escondidinha”.

Muita gente critica Breath of the Wild porque tem muito vazio, faltava preencher com mais inimigo, assim como a Wild Area de Pokémon Sword & Shield. Mas como é que você vai ter a sensação de ambiente pacífico se a cada passo brotar um inimigo? O mais importante do mundo aberto imenso é auxiliar na liberdade!

Por último, e talvez mais importante, a liberdade. Breath of the Wild é sobre não ter uma aventura linear, se você simplesmente pegou o jogo, foi para o pontinho marcando as 4 Divine Beasts, e depois foi zerar o game derrotando o Ganon, você provavelmente não gostou lá muito de BotW.

BotW é sobre fazer o que quer, na hora e na ORDEM que quer, é sobre não fazer o que não quer, e sobre não ter uma side quest te mandando ir para aquela área, mas você vai mesmo assim pois, TE DEU VONTADE DE IR, e o jogo não te cobra uma cronologia de tarefas, ao contrário de outros jogos que você pensa “eu vou explorar esse lugar quando o jogo me mandar vir aqui”, e você é bem-vindo naquele lugar novo, é diferente daqueles jogos que você olha e fala “vou ali explorar” e quando chega, só tem oponentes 30x mais fortes que você, e você dá meia volta “ih, deixa quieto”!

4- Quem seriam os “BotW-Likes”?

Um caso famoso, talvez o primeiro, foi o jogo Genshin Impact, que é praticamente um Hack and Slash de waifu situado em Breath of the Wild.

  • Natureza viva.
  • Ambiente pacífico.
  • Mundo vasto.
  • Liberdade de exploração
  • Perigos contidos no mundo belo.

Mas reparem também que o jogo não é só uma cópia, ele tem elementos que fazem dele um jogo diferente e interessante. O jogo, na verdade, COMPARTILHA a mesma ESSÊNCIA! Mas o jogo está incrível! Ele vem para Switch, para quem não está sabendo.

Decay of Logos 

Esse aqui já é mais sombrio, meio na pegada de The Witcher 3 também! Mas o estilo gráfico e o design de muitas áreas parecem tiradas de Breath of the Wild. E olha aí, outro jogo que ao menos não aparenta ser igual Breath of the Wild e nem The Witcher 3 e nem Genshin Impact:

Pine

Repara que aqui a gente tem um protagonista humano, ou ao menos que se parece muito com um humano (Link é humano ou elfo?). Mas ele interage, de fazer amizade mesmo, com seres animalescos bem fantasiosos como uma raposa. E no final do trailer a gente vai ver a coisa de ter seres imensos e amedrontadores escondidos no ambiente pacífico.

OK, alguns você realmente se sente vendo um Breath of the Wild 2, como esse Craftopia:

E tem 2 jogos que flutuam aí entre BotW-like e influência… E vem polêmica!

Ghosts of Tsushima

Um dos jogos mais hypados do PlayStation 4, Ghosts of Tsushima apresentou certas características que o colocaram em debate sobre ser um “BotW-Like”, além de prints bem similares. 

Como Zelda Breath of the Wild influenciou o futuro dos games e se tornou seu próprio GÊNERO
Como Zelda Breath of the Wild influenciou o futuro dos games e se tornou seu próprio GÊNERO
Como Zelda Breath of the Wild influenciou o futuro dos games e se tornou seu próprio GÊNERO

O que mais intrigou foram declarações de como o diretor de arte Jason Connel quer que o jogo funcione:

“Nós realmente queremos que você faça escolhas, como explorar uma floresta de bambus que te pareceu interessante. Queremos que você tenha vontade de explorar um local e realmente consiga isso. Por isso, não há pontos de referência no mapa. Não há nada que diga para literalmente ir e explorar a floresta de bambus.”

E outra, reparem no apelo ao ambiente e à liberdade de exploração:

“Quando estávamos na beira do penhasco na demo do State of Play, você pôde ver a floresta dourada ao fundo, as montanhas, as árvores únicas, uma árvore branca à distância, e todos esses lugares que você pode visitar.

E isso faz parte do nosso design, e nossa filosofia para o mundo aberto é que queremos criar uma experiência, uma experiência real, onde você possa se perder no Japão feudal. E se você conseguir enxergar algum lugar, você pode alcançá-lo. Queremos que você veja aqueles penhascos, e queremos que você consiga alcançá-los.”

Hum… Achou que estamos forçando a barra? Pois depois o diretor de fato assumiu que a inspiração veio de Shadow of The Colossus e Breath of the Wild, até porque eram 2 dos jogos preferidos dele.

E sabe qual jogo também assumiu ter inspiração em Breath of the Wild? God of War de Playstation 4! Por mais que não seja um “botw-like”, ele teve inspiração no game em algum grau.

Se não acreditam, eu pessoalmente perguntei para a pessoa responsável pelo design do Kratos, e vocês podem ouvir o bate papo no nosso episódio conversando com o Rafa Grasseti no Final Level Cast, o podcast que apresento no spotify (clique aqui para ouvir).

Mais recentemente agora também tivemos o Immortals: Fenyx Rising que é basicamente descrito por todos que jogam, como o Breath of the Wild da Ubisoft.

A premissa é bem parecida. Vastos campos aparentemente pacíficos, mas se passando na Grécia, com muitos perigos e mistérios espalhados no mapa, e as “shrines”, que são as fendas vermelhas onde você é teleportado para uma área de desafio para conseguir uma recompensa que vai permitir aumentar sua vida. E depois de visitada uma fenda, você pode teleportar para ela posteriormente.

E por último, um que não chega a ser um candidato a “BotW-like”, mas que com certeza não seria o que é sem Breath of the Wild que é o Death Stranding!

O motivo da sua inclusão é o fato do criador e diretor do jogo Hideo Kojima, ter feito com que o gameplay seja totalmente não linear, assim como em Breath of the Wild, se você ver a gameplay de 2 pessoas diferentes, as gameplays são completamente diferentes, o caminho que elas fizeram, os inimigos que um decidiu enfrentar e o outro não, os recursos que um optou por gastar para explorar uma área enquanto o outro decidiu ir o mais reto possível etc.

Hideo Kojima também criou um mundo vasto e extremamente aberto para respeitar e recompensar as escolhas do jogador. Só que o mundo de Death Stranding é vazio por outro sentido, que é a solidão e a sua missão é reconectar as pessoas.

5- Conclusão e questionamentos comuns

Ah, mas The Witcher 3 também é jogo na floresta

A ambientação de Witcher 3 é totalmente diferente, é um universo muito mais amedrontador, frio. Fora que o jogo é mais realista, mais sério. E The Witcher 3 tem um baita apelo ao enredo, então os 2 são bem diferentes. Mas OK, talvez o sucesso de The Witcher 3 SEGUIDO pelo de Breath of the Wild, tenha ajudado mesmo, vai saber.

Mas Skyrim já era sobre liberdade

Sim, mas Breath of the Wild triplica ou quadruplica essa liberdade, em Skyrim você se desprende da main quest pra fazer side quest, no Zelda mal tem side quest, mal tem quest! Fora que o Link tem mais recursos para explorar a pé, ele escala qualquer coisa, atravessa qualquer lugar, nadando, planando com o paraglider etc.

Mas de novo, não estamos dizendo que Breath of the Wild inventou a liberdade.

Mas tem muito pouco jogo pra considerar ‘BotW-like’ só temos uma poucas cópias

Gente, Breath of the Wild saiu tem alguns anos! É muito pouco tempo pra ele influenciar e o jogo influenciado já sair. Na real já tem exemplo até demais pro pouco tempo que tem!

Obviamente Breath of the Wild não inventou a roda, assim como Dark Souls não inventou o action RPG medieval punitivo, mas, é fato que os 2 jogos trouxeram à tona tendências que estavam apagadas!

A geração estava sendo guiada por jogos futuristas como os Call of Duty‘s futuristas, Titanfall, Destiny, Overwatch, etc, além de jogos com foco em enredo/narrativa, como The Last of Us, Uncharted, The Witcher 3, etc, além de estética mais sombrias/cores não muito VIVAS, como The Witcher 3, Bloodborne e NieR.

Aí me vem Breath of the Wild, em um jogo numa floresta, tudo cor viva vibrante, e com a liberdade acima da narrativa. E a partir daí, muitos outros jogos também entram nessa contra-mão? Hum…..

A intenção aqui não é acusar de plágio, de falta de criatividade ou coisa do tipo, pelo contrário; assim como o próprio Breath of the Wild também herdou elementos de jogos como Skyrim, que é um dos pioneiros no open world, Dark Souls na câmera do combate, Hyrule Warriors que apesar de ser Zelda, foi feito pela Koei Tecmo e após o jogo sair, Aonuma disse que queria chefes ao ar livre.

A ideia aqui é mostrar que, talvez, nós tenhamos no futuro, muitas variações MUITO interessantes da essência que a gente tanto gostou de ver no nosso querido Zeldinha.


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]