Kingdom Hearts: Para você que ainda não conhece, passe por essa porta!

Kingdom Hearts: Para você que ainda não conhece, passe por essa porta!

A série criada por Tetsuya Nomura no início dos anos 2000, nunca esteve tão em alta como nos últimos tempos. Com a adição de Sora no Super Smash Bros. Ultimate, ficou claro que o interesse pela longeva franquia ascendeu-se, tanto por aqueles que só a conheciam por cima, quanto por aqueles que simplesmente se sentiram nostálgicos com o trailer de anúncio e assim se sentiram dispostos a matar a saudade, de talvez anos, sem controlar o nosso garoto da espada em formato de chave e viajar por mundos dos filmes da Disney.

No meu Twitter (@SoMatheusFurtad), eu fiz uma postagem onde perguntava para quem me seguia a opinião deles pela série e o que eles pensavam quando ouviam alguém referenciando Kingdom Hearts em um contexto geral. Com esses depoimentos, ficou claro para mim que muitas pessoas tem uma certa leitura rasa do que exatamente se trata a série e qual é o principal apelo dela. Muitos sempre se referenciavam ao quesito Disney, e outros no fato de que uma estranha espada em formato de chave era a arma usada pelo protagonista. Entretanto, poucos realmente entendiam a proposta da série e o que ela realmente entregava de diferencial. Por isso, preparei aqui este texto onde vai apresentar os pontos que você talvez precise saber para começar no primeiro título, agora que eles vão estar sendo disponibilizados no Nintendo Switch mesmo que seja, infelizmente, por nuvem.

NÃO É SÓ DISNEY

Kingdom Hearts 3: Re Mind traz alguns dos maiores desafios da franquia

Eu queria começar logo de cara com isso para você que talvez fique reticente por não se interessar muito pelos filmes da Disney. Ou talvez, até goste e cresceu vendo esses filmes, mas o apelo de Kingdom Hearts para você acabou soando como um jogo infantil que não tem muita substância para si mesma, parecendo mais um crossover mistureba do que realmente um projeto original.

Saiba você que, apenas hoje Kingdom Hearts é referenciado como algo exclusivamente ligado à empresa do rato mais famoso do mundo. Porque, na realidade, o objetivo principal era fazer um crossover dos universos Disney com a série de jogos Final Fantasy, tanto é que toda a franquia é um filho querido e totalmente controlado pelo famoso designer, diretor e produtor japonês Tetsuya Nomura, que ficou famoso no final dos anos 90 por revolucionar no desenvolvimento de design de personagens da série, chegando ao seu ápice em Final Fantasy VII. Com o sucesso deste título, Nomura, junto com sua turminha de Kitase e Nojima, basicamente se tornou um dos principais nomes da Square para o desenvolvimentos de jogos main line, ou seja, que teriam uma ampla divulgação e seriam um carro-chefe para publicidade da empresa.

Tirando IX, XII e os títulos online, Nomura esteve diretamente ligado com todos os jogos da franquia Final Fantasy, e que só mudou recentemente com o anúncio de que o próximo lançamento, Final Fantasy XVI, está sob o comando a equipe do Yoshi-P, diretor e produtor de Final Fantasy XIV Online. Nomura, sendo alguém tão importante para a empresa, teve essa oportunidade de não só dirigir, mas produzir e ser a mente criativa por trás do primeiro jogo de Kingdom Hearts, criando praticamente todos os conceitos que conhecemos como famosos pelas séries, bem como personagens, inimigos, mundos originais e também os confusos lançamentos de títulos novos.

A série basicamente surgiu de uma conversa de elevador, onde dois encarregados tanto da Square, na época Squaresoft ainda, quanto da Disney, entraram numa conversa despretensiosa que acabou resultando numa das franquia que viria se tornar a mais rentável para empresa nos anos seguintes. O elemento Disney esteve lá desde o começo, mas foi com a mistura dos elementos e personagens de Final Fantasy, como por exemplo o nome de magias, armas e até de alguns lugares e chefes, que foi fazendo a franquia ficar com uma cara esquisitamente particular.

Apesar desse ser um aspecto que permeia muito mais os primeiros jogos da franquia, talvez seja interessante para quem tem essa relutância com a série por conta dos elementos ligados às animações Disney que saiba o quanto a série é única na forma como ela mescla todas essa bagunça em algo natural e que, mesmo com a fama da série ter uma história enrolada e complexa, fica com uma sensação de coerência visual e conceitual. Ela se mantém assim em todos os títulos da série.

HÁ UMA HISTÓRIA DE FATO ROLANDO

➤ Kingdom Hearts Special - Uma revisão da história 🕹

Por mais difícil que fosse acompanhar todos os lançamentos da série, hoje ela se encontra muito acessível com todos esse pacotes em que são oferecidos basicamente todos os títulos da série. Mesmo com algumas coisas faltando com os jogos mobiles, você pode encontrar todo o conteúdo principal e que realmente faz diferença num só jogo que está disponível para Playstation 4, Xbox, PC e agora no Switch por nuvem.

Isso é importante, porque não recomendo ir, de forma alguma, atrás de títulos como 358/2 Days, Recoded e as versões originais de Chain Of Memories, Birth By Sleep e Dream Drop Distance. Estes são disponibilizados em remasterizações e um remakes nesses pacotes, e os outros dois são disponibilizados em forma de um filme em que todas as cutscenes são apresentadas para termos a ideia principal da história, que de fato existe.

Não vou entrar em spoilers, muito menos vou dar uma sinopse, porque esse não é meu objetivo aqui. Na verdade, o ponto que quero abordar nesse tópico é relacionado ao fato de que existe um enredo que progride conforme os jogos foram lançados. Os personagens também são divididos em personagens originais, não é só licenciamento das duas empresas envolvidas, fazendo com que o jogo ganhe um carinho muito grande por quem consegue realmente imergir naquele mundo, e você torcer e se identificar com eles.

A história é confusa e complexa diversas vezes, isso não há quem possa defender. Mas, eu devo dizer que ela ainda é emocionante, divertidas e muitas vezes surpreendente. Nomura pode não ser o melhor Storyteller da empresa, muito menos da geração. Entretanto, ele é um desenvolvedor muito criativo, com ideias bem interessantes e, apesar da falta de sutileza que definitivamente é o seu maior defeito, ele cria cenas e momentos sensíveis como poucos vistos antes. Então, vá esperando encontrar algo particular a Kingdom Hearts também. Não fique com receio pelos personagens achando que você vai viver uma forma simplificada, romantizada, infantilizada do que já vivenciou com as obras originais. Você pode acabar gostando e se apaixonado por uma mundo mágico de boas lições, amizades e relações lindas e personagens que guardamos no coração tanto quanto guardamos qualquer outro de Final Fantasy ou uma animação maravilhosa da Disney.

MÚSICA QUE VOCÊ SÓ VAI OUVIR AQUI

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Yoko Shimomura é a encarregada pelos arranjos da franquia e aqui foi onde ela atingiu seu Magnum Opus. A compositora tão conhecida por ter feito arranjos clássicos como de Super Mario RPG, Street Fighter II e tantos outros títulos, aqui teve a oportunidade de trabalhar na mesma empresa de alguém que ela admirava muito, Nobuo Uematsu, o principal compositor das trilhas mais clássicas de Final Fantasy, e definitivamente da história dos jogos como um todo. Ainda devo escrever um artigo sobre o véio.

Nossa cara Yoko então, com essa oportunidade à frente, não fez bonito. Não fez lindo. Ela fez divinamente o trabalho que qualquer obra que tenha com si músicas tão clássicas quanto dos filmes animados da Disney teria a obrigação de ter. O tema da tela de título, Dearly Beloved, é de longe sua composição mais citada como uma obra prima, e que constantemente foi refinada em todos os lançamentos, com arranjos e rearranjos sendo feitos para os títulos posteriores. Ela trabalhou em todos os jogos da franquia até hoje, tendo uma ligação muito forte com a série, fazendo questão de sempre estar presente.

Qual o diferencial dela? Ela basicamente fez o inimaginável. Criou músicas, temas, leitmotiffs e tantas outras faixas que acabaram deixando as músicas clássicas da Disney em segundo plano, muitas vezes parecendo músicas de fundo, enquanto suas composições originais são àquelas que nossa atenção simplesmente fica vidrada. Músicas de batalha, de temas, de momentos escatológicos, temas épicos, temas sensíveis. Yoko Shimomura não poupou nenhum esforço para realmente quer capturar nossas atenções aqui. A trilha sonora de Kingdom Hearts ficou tão marcada que, assim com Final Fantasy, a Square lançou um game de ritmo só com as músicas clássicas da franquia. Melody of Memories está disponível para Switch, inclusive.

New rhythm-action game KINGDOM HEARTS Melody of Memory announced | Square  Enix Blog

Os destaques, que não podem ficar de fora quando falamos de composições de trilha, além da já citada Dearly Beloved, um tema lindo e emocionante para a tela de título, fica para Traverse Town, com sua canção relaxante e nostálgica que nos captura em sua forma sutil de criar uma faixa doce, leve e que nos faz apenas querer ficar rodando por aquela cidade que sempre é noite. Além desta, Twillight Town, é outra que já fez muito burro velho chorar por conta de tudo que a gente viveu nessa cidade, que é uma tema bem sereno como uma cidade em que não acontece nada demais, e podemos brincar e tomar sorvete para o resto das nossas vidas. Há muitos outros que vocês podem achar disponíveis no Youtube.

UM ÓTIMO RPG DE AÇÃO

Kingdom Hearts 3 mostra seu gameplay em novas imagens - NerdBunker

Quando falamos de RPG de ação hoje, principalmente de um vindo do Japão, constantemente ouvimos falar da série Souls, desenvolvida pela From Software, que inclusive tem sim muitos méritos e um bom background para elogios e aclamação. Porém, Kingdom Hearts também se encontra nesse gênero, sendo inclusive muitas vezes referenciado como um ótimo representante.

Apesar das críticas de alguns, que às vezes não fazem muito sentido, Kingdom Hearts tem um sistema sólido de gameplay baseado em um menu de comando, retirado diretamente de Final Fantasy e seus sistemas de turno, em que você seleciona uma ação e ao apertar X (pensando nos controles clássicos de Playstation 2), Sora realiza a ação em tempo real. Porém, esse menu se restringe a Atacar, Itens, Magias e Summons (Outro aspecto retirado de Final Fantasy que não vou explicar aqui). Além desse menu ter alguns recursos especiais muitas vezes, como ataques especiais, Quick Time Events, interagir com o cenário entre outros aspectos.

Porém, toda a movimentação de Sora é feita por outros botões, com você podendo pular, defender, mirar, desviar e por aí vai. Isso cria um combate divertido, mas estratégico, onde você necessariamente precisa ter o foco não só em acertar seus golpes, mas desviar de investidas de inimigos, além de é claro saber quando usar itens de cura, magias ofensivas e dar perrys em momentos certos. Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, exigindo uma capacidade de atenção que é muito satisfatória por Kingdom Hearts apresentar um desafio equilibrado, onde dificilmente você ficará preso em algum Boss ou algo assim, mas sempre vai haver aquele em momento em que você fica olhando estaticamente para TV, sem nem piscar, não querendo dar um passo em falso.

Além, é claro, do aspecto de RPG. Sora começa o jogo como um simples menino que brinca de lutar com seus amigos na praia. Conforme o jogo progride, mais habilidades vão sendo aprendidas e o menino fica mais forte com o tempo, com você podendo desbloquear não só novas mecânicas, mas também aumentando atributos comuns em RPG’s, como HP, MP entre outros. O jogo te permite montar Builds, que são uma forma bem específica que você quer jogar, podendo ser voltado para ataque físicos, ou ataques mágicos, ou uma mistura dos dois, mas que nem um, nem outro, acaba se sobressaindo e você podendo jogar de formas diferentes sem se sentir com mais dificuldade durante o gameplay.

PASSE PELA PORTA

Eu literalmente cresci com Kingdom Hearts, gradativamente conhecendo todos os títulos até a conclusão do primeiro arco da série em Kingdom Hearts III em 2019. Há muito o que falar sobre a franquia, mas eu quero é que todos você se sintam convidados para encontrarem um novo mundo aqui, onde fantasia, amor, felicidade, amizade e todos esses temas que a maioria das pessoas ignoram por acharem clichê, são o objetivo central da série. Se posso ser sincero, para mim é esse o diferencial dessa série.

Ela me mostra que tudo isso que a maioria das pessoas, principalmente no entretenimento, costuma ridicularizar e mostrar como algo relacionado a fraqueza ou infantilidade, é, na verdade, lindo e uma ótima vida para se viver. E quando eu morrer, vou passar pela porta final da vida sabendo que as portas pelas quais eu passei antes, eram todas bordadas com belíssimas memórias de momentos bons que vivi com outros. E, com certeza, depois de uma dessas portas, eu estava lá. Brincando com Sora.

KINGDOM HEARTS III Re Mind DLC out now on PS4 | Square Enix Blog

[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Um fã de Da Vinci e Miyamoto. Não me pergunte quem é quem.