Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção

Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção

Quem é míope vai entender. É uma sensação muito única experimentar um primeiro ou então novos óculos. As lentes tornam tudo mais nítido, menos embaçado, mais colorido, menos turvo. É como assistir a um vídeo em 480p e depois em Full HD ou até mesmo 4K. E jogar Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered é assim também.

Em celebração ao 25º aniversário de Soul Reaver, o título remasteriza dois jogos da série Legacy of Kain. São títulos que saíram originalmente em 1999 e em 2000 para PlayStation, PC, PlayStation 2 e Dreamcast, respectivamente. Sob muitos aspectos, é como se a desenvolvedora, Aspyr, colocasse uma nova lente sobre a experiência. Está tudo mais bonito, nítido e fluído, porém essencialmente igual antes.

Indo direto ao ponto: o pacote é excelente aos jogadores que já conheciam a série, mas pode ser pouco atrativo para quem não jogou na época. Por outro lado, a ausência de novos recursos reforça quão bons, inovadores e a frente de seu tempo eram os games originais.

Antes de entrar no “X” da questão, porém, vale esclarecer a história, que é um dos pontos fortes de qualquer jogo da série Legacy of Kain, lançada originalmente pela Crystal Dynamics.

Embora a trama seja bem escrita e desenvolvida, a versão remasterizada diz pouco na página da eShop brasileira, como pode ser visto a seguir.

  • Viva a história lendária
    Séculos após ser traído e executado por Kain, seu antigo mestre, você ressurge e parte em uma busca implacável por vingança.
  • Controle os poderes de um espectro
    Mate seus antigos irmãos vampiros com as próprias garras, raios de energia telecinética e a Lâmina Espectral elementar. Fique mais forte devorando a alma dos inimigos.
  • Desloque-se entre os reinos
    O Deus Ancião concedeu a você a habilidade de se deslocar entre os reinos Espectral e Material. Percorra os reinos para solucionar quebra-cabeças, revelar novos caminhos e derrotar seus inimigos
Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
A história é intrigante e os personagens, cenários e efeitos ajudam o jogador a entrar no clima – Foto: Reprodução

No entanto, no site da Crystal Dynamics consta uma sinopse mais elaborada das versões originais de ambos os jogos (vale lembrar que o primeiro título da série, Blood Omen: Legacy of Kain, não está incluso neste pacote):

Legacy of Kain: Soul Reaver se passa “1.500 anos após os eventos de Blood Omen” e narra a jornada do vampiro Raziel, que virou espectro e também tenente do senhor vampiro Kain. Raziel é morto por Kain, mas é revivido pelo Deus Ancião para “se tornar um capturador de almas e se vingar”. O protagonista “compartilha este título com a espada de Kain, a Soul Reaver, que ele adquire durante o jogo”.

Legacy of Kain: Soul Reaver 2 “continua as aventuras de Raziel”, que “embora inicialmente procure se vingar de Kain, seu assassino e antigo mestre”, logo passa a buscar por mais conhecimento. Assim, “viajando pela história, ele gradualmente expõe a verdade por trás de seu próprio passado e destino”.

Ambos os jogos – e também o predecessor e os que vieram depois – se passam em Nosgoth, reino fictício e antigo palco para a batalha entre duas espécies de poderes divinos (Ancients, que mais tarde se tornariam vampiros como Raziel, e Hylden).

Em determinado momento, os Hylden criaram uma arma tão poderosa que, para reestabelecer a ordem os Ancients criaram nove pilares que representam forças governantes do mundo: Morte, Conflito, Estados, Energia, Tempo, Dimensão, Natureza, Mente e Equilíbrio.

Com o passar do tempo os poderes dos Ancients foram enfraquecendo e os Hylden passaram a tentar destruir os pilares, dando origem a vários dos conflitos vistos durante os games, que mostram o vampiro Kain tomando controle e corrompendo tudo, tendo Raziel a seu lado.

Em um primeiro momento, Raziel tinha asas, porém com inveja, Kain as corta e o bane para o Abismo, até que ele é revidido pelo “Deus Ancião” e passa a transicionar entre os mundos espectral e material, em uma jornada marcada por vingança e muitas descobertas.

Como o jogo funciona

Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
Como em um bom jogo de aventura em 3D, é preciso arrastar caixas e empurrar objetos – Foto: Reprodução

Legacy of Kain: Soul Reaver é um clássico jogo de aventura em 3D com visão em terceira pessoa, mas com a movimentação livre e bem feita, distante do sistema de tanque que tanto se via na 5ª geração de consoles. Os conceitos valem para ambos os jogos incluídos no pacote: você pode andar para qualquer direção, pular, pular mais alto, voar (ou melhor, cair com estilo usando as asas cortadas do personagem) e lutar também.

Um dos principais recursos é alterar entre os mundos (ou realidades, se preferir) espectral e material. Enquanto em um deles você pode lutar, no outro segue o caminho da exploração e resolução de quebra cabeças e enigmas.

Tudo funciona muito bem, com exceção para o combate. A questão é que os golpes ficam “soltos” e parecem não encaixar muito bem. Há um sistema de trava de mira inspirado no que já vimos da franquia The Legend of Zelda que pode ser acionado ao apertar o botão R, o que ajuda muito, pois sem isso fica bem difícil acertar o inimigo.

Falando em inimigos, para recuperar vida é preciso absorver a alma das criaturas enfrentadas, enchendo assim a barra em formato espiral que fica no canto inferior direito da tela. Mas também há certos monstros que exigem uma “finalização”, que consiste em atordoa-los e depois agarra-los para arremessa-los em determinados pontos, como uma estaca na parede.

É interessante observar como a história é introduzida em favor do gameplay, principalmente quando o tema é o recurso de alterar entre os planos espectral e material.

Pontos positivos

Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
Raziel do “velho testamento” à esquerda e do “novo testamento” à direita. Ficou bonito, hein? – Foto: Reprodução

Sem sombra de dúvidas, o melhor de Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered é o trabalho muito bem feito de atualização de texturas, resoluções e modelagens, sobretudo a de personagens (clique aqui para ver detalhes das novidades).

Os jogos são essencialmente os mesmos, mas o tapa visual dado nessa versão faz com que a atmosfera noventista presente nos games, principalmente no primeiro, dê espaço a um clima ainda vintage, mas também moderno.

É como descrito no início da review: a experiência lembra bem a utilização de óculos. Tudo fica em alta resolução, e com isso a imersão ganha novos patamares, já que as texturas do piso, das paredes e objetos fica muito mais realista.

O destaque positivo vai para os personagens, incluindo o protagonista e os diversos tipos de inimigos, que foram refeitos do zero. É como se somente agora pudéssemos enxergar o que os desenvolvedores realmente queriam entregar na época, quando ainda não havia tecnologia suficiente para o resultado desejado. A diferença é gritante e agora todos os detalhes ficam visíveis, como a boca do Raziel, que se abre de maneira amedrontadora para sugar almas.

Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
A modelagem dos inimigos impressiona. Veja o trabaloho de atualização de texturas e resolução! – Foto: Reprodução

Todas as atualizações visuais são muito bem-vindas, charmosas e conferem visual retrô ao jogo que antes, embora já tardio no PlayStation 1 e ainda “precoce” no PlayStation 2, era mais quadrado, de forma geral. E para perceber a diferença é muito simples. Aperte o botão do analógico direito a qualquer tempo e passe a jogar com os visuais originais. Depois aperte novamente e volte (mesmo recurso disponível em Alex Kidd in Miracle World DX e outras remasterizações) então vai ver que o trabalho foi muito bem feito e ainda assim sutil, não causando estranheza em quem já conhecia as versões originais.

Outra atualização muito bem implementada, e que faz sentido para a “qualidade de vida” do jogador, é a existência de um mapa que aparece na tela ao apertar o botão -. O mapa não apenas te localiza nos ambientes, o que facilita a compreensão dos portais existentes em cada seção (leia mais sobre eles abaixo) como também te mostra os objetivos a serem cumpridos.

É um recurso simples, mas funcional, e que deixa a experiência de acordo com o que se vê no mercado atual de videogames. Poderia haver mais implementações do tipo, aliás.

Cabe ainda citar toda a ambientação, que faz o que a época dos lançamentos originais pedia: clima soturno, mais adulto do que as gerações anteriores de videogame, com inspirações góticas e de horror também. O clima geral é de terror, o que confere visão “amadurecida” para a aventura, com um enredo que fala em divindades e tem inspirações bíblicas, sendo a mais clara a história de Caim e Abel.

A trilha sonora, por fim, sonora acompanha tudo isso e segue o caminho que se esperaria de uma história sobre trevas, escuridão, vampirismo, vingança e redenção, sendo sombria em momentos-chave, presente quando é necessário e épica quando o texto pede.

Pontos negativos

Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
Não seria uma trama épica se não houvesse uma arma incrível, não é mesmo? – Foto: Reprodução

A desenvolvedora perdeu uma grande oportunidade de fazer com que uma nova geração tenha interesse nos games Soul Reaver, da série Legacy of Kain, o que poderia render novos jogos no futuro. Não me entenda mal: o trabalho é bem feito, mas é como um feijão com arroz bem feito. Alimenta, mas falta algo.

O que mais exemplifica isso são os menus, especialmente o do primeiro título. Lá no PlayStation o menu já era feio, mas ainda passava, em razão da época de lançamento. Agora, na nova versão, não apenas repetiram a mesma tela como ainda há a opção de “return to launcher”, para voltar à seleção de jogos, o que deixa tudo com uma cara de “copia e cola” da versão original de computador.

Havia – e ainda há, por meio de atualizações – espaço para a criação de novos menus. Bons exemplos são os títulos relançados pela QUByte Interactive, que é brasileira, como Top Racer Collection e Rage of The Dragons NEO.

Já o Soul Reaver 2 incomoda bem menos, já que a versão de 2001 tinha menus mais interessantes e intuitivos, e o padrão foi repetido aqui.

No entanto, considerando que o remaster é um produto atual, faltou apelo para conquistar novos jogadores. Com exceção do mapa citado acima, não há conteúdo extra significante que reflita em gameplay, então poderia haver menus reconstruídos, que evidenciassem, de maneira artística, o belo universo sombrio e gótico de Legacy of Kain.

Outro exemplo da falta de preocupação em atrair jogadores novos à franquia é a ausência de implementações de mecânicas de “qualidade de vida”, ou seja, que facilitam a jornada do jogador e deixam tudo mais divertido e menos maçante.

Logo no início do primeiro jogo, há um portal. Na minha primeira tentativa de jogatina, passei cerca de 30 minutos ali, tentando entender o que o portal fazia. Ele mostrava símbolos, e a depender do ícone, aparecia uma luz ao lado do personagem. E a informação que eu tinha era essa, apenas.

Precisei ver no YouTube como avançar, pois havia o recurso de alterar a realidade entre os planos espectral e material que eu também não estava entendendo. Avancei e mais para frente encontrei outro portal, igual ao primeiro. Foi então que descobri que se tratava de um fast travel (viagem rápida) entre seções. Conforme vamos avançando, desbloqueamos a possibilidade de retornar à “fase” anterior.

Tudo isso seria muito facilitado, e também teria tornado meu início com o game mais agradável, com a inserção de um sistema atualizado de textos, indicações e tutoriais. E claro, seria muito mais facilitado ainda se o Português Brasileiro retornasse como idioma.

Sim, na versão original de computador, Soul Reaver tinha não apenas legendas como também dublagem em português brasileiro. No remaster, este conteúdo não foi incluído, o que enpobrece a experiência a nós brasileiros.

Conclusão

Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
Sombria e aterorizante, mas ainda assim elegante. A foto resume bem a estética do jogo – Foto: Reprodução

Por tudo o que foi apresentado aqui, a relação Custo x Benefício de Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered fica complicada no Nintendo Switch, onde o título é vendido a R$ 159,95 na versão digital. O preço para PC, via Steam, é mais condizente com o produto. Por lá são R$ 88,99 para o pacote, que é mais focado em upgrade visual do que qualquer outro aspecto.

Além disso, no computador ainda é possível adquirir as versões originais dos games da série a preços ainda mais baixos.

O veredito é direto e reto: o produto apresentado pela Aspyr é consistente e leva ao pé da letra o que significa remasterização (“cópia de melhor qualidade ou com alterações em relação à versão anterior”, de acordo com o dicionário Michaelis).

Principalmente no aspecto visual, o jogo brilha. Já a ausência de implementações tanto pode revelar uma certa falta de ousadia do projeto como também a alta qualidade dos jogos originais, que duas décadas depois dos lançamentos originais ainda entregam imersão, diversão e profundidade, com mecânicas que insistem em não ficar datadas ou ultrapassadas.

Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
Veredito
Embora o preço no Nintendo Switch seja um tanto quanto amargo, Legacy of Kain™ Soul Reaver 1&2 Remastered é um pacote muito bem-vindo à plataforma. A experiência está praticamente intacta e a falta de novidades em gameplay é compensada por melhorias visuais, como atualização de texturas e remodelagem de personagens, o que deixa os jogos agradáveis e mesmo hoje, duas décadas depois dos lançamentos originais, ainda imersivos, divertidos e profundos, com mecânicas que insistem em não ficar datadas ou ultrapassadas.
Design
70
Trilha Sonora
70
Diversão
80
Gameplay
85
Custo x Benefício
50
Prós
Remasterização visual de qualidade
Novo sistema de mapa e objetivos
Contras
Ausência de português brasileiro
Falta de implementações em gameplay e de mecânicas de “qualidade de vida” para o jogador
Menus que não estão à altura da experiência
71
Nota Final

Although the price on Nintendo Switch is somewhat bitter, Legacy of Kain™ Soul Reaver 1&2 Remastered is a very welcome package for the platform. The experience is practically intact and the lack of new gameplay is compensated by visual improvements, such as texture updates and character remodeling, which leaves the games programmed and even today, two decades after the original releases, still immersive, fun and deep , with mechanics that insist on not being dated or outdated.


[Nota do Editor: Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Aspyr para avaliação.]

Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered: uma sombria história sobre vingança e redenção
Veredito
Embora o preço no Nintendo Switch seja um tanto quanto amargo, Legacy of Kain™ Soul Reaver 1&2 Remastered é um pacote muito bem-vindo à plataforma. A experiência está praticamente intacta e a falta de novidades em gameplay é compensada por melhorias visuais, como atualização de texturas e remodelagem de personagens, o que deixa os jogos agradáveis e mesmo hoje, duas décadas depois dos lançamentos originais, ainda imersivos, divertidos e profundos, com mecânicas que insistem em não ficar datadas ou ultrapassadas.
Design
70
Trilha Sonora
70
Diversão
80
Gameplay
85
Custo x Benefício
50
Prós
Remasterização visual de qualidade
Novo sistema de mapa e objetivos
Contras
Ausência de português brasileiro
Falta de implementações em gameplay e de mecânicas de “qualidade de vida” para o jogador
Menus que não estão à altura da experiência
71
Nota Final


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Jornalista especializado em cultura e apaixonado por games desde que se entende por gente