Nostalgia e inovação. Jogabilidade inspirada em grandes clássicos, mas com importantes melhorias de qualidade de vida. Adrenalina e set pieces. Muitas habilidades para desbloquear. Sensação de progresso envolvente, que faz o jogador sempre querer jogar mais e mais. Mars 2120, o novo game original da brasileira QUByte Interactive, é tudo isso. E tudo isso faz de Mars 2120, um título excelente e viciante.
O ano deste que vos fala teve início com o viciante Prince of Persia: The Lost Crown. Foram pouco mais de 20 horas para completar a campanha, sempre com aquele ímpeto de continuar jogando. A sensação em Mars 2120 é a mesma, algo que, para este redator, Metroid Dread, por exemplo, não conseguiu atingir.
Mars 2120 é um metroidvania com combate corpo a corpo envolvente. Com o uso de habilidades especiais ligadas a elementos como gelo, fogo e eletricidade, ajude a Sargento Anna “Thirteen” Charlotte a navegar pela colônia e a abrir caminho pelos segredos de Marte.
O parágrafo acima é a descrição oficial do game na eShop do Brasil, que situa o jogador no enredo. No século 22 a primeira colônia humana em Marte envia um sinal de socorro às Nações Unidas, e a Sargento Anna é recrutada para descobrir o que aconteceu. Mas que a espera na chegada é muito mais perturbador do que qualquer coisa que possa ter imaginado.
Dito isso, vamos à parte prática: o jogo, que presta homenagem à franquia Metroid ao apresentar uma protagonista também mulher, começa em um ritmo que já coloca o jogador em alerta. Você está em marte, e precisa explorar o planeta. Vai para a direita e… um primeiro inimigo voador surge, te obrigando a mirar e atirar.
Poucos metros adiante, você segue com a cautela que o primeiro inimigo te impôs, mas essa expectativa é subvertida por uma avalanche que vai tomando a tela da esquerda para a direita. A saída é correr até um local seguro.
E desde que você entra neste local seguro, não para mais. O clima é de urgência o tempo todo, e isso torna Mars 2120 especial, pois a adrenalina está presente durante toda a aventura, sempre na dose certa.
Da ambientação de laboratório onde houve um ataque alienígena, com corpos e sangue espalhados pelo chão e pelas paredes, você avança pelas entranhas de uma instalação tecnológica, que te levam à uma caverna de gelo, a uma estufa verdejante ou ao calor intenso da lava.
A trilha sonora é empolgante, os mapas são bem construídos e o level design é inteligente. Tanto o mapa funciona com navegação padrão típica de metroidvanias, com ambientes conectados, porém ainda separados por portas ou seções que exigem habilidades específicas que o jogador vai adquirir mais tarde, como o visual também, já que ao explorar, cada plataforma, esquina e seção fica marcada na cabeça. Após algumas passagens pelo local, certamente você estará andando “sozinho”, guiado pelo instinto.
Experiência AAA
Quem aqui se lembra de Klonoa, sucesso de plataforma 2,5D da época dos 32 bits que ganhou um remake recente no Switch? Pois bem. Em Klonoa, a câmera acompanha os cenários em perspectiva, ora lateralmente e ora brincando com perspectiva de profundidade, na diagonal.
Em Mars 2120 também é assim, e essa decisão da QUByte contribui muito para a emoção da experiência. Logo no início isso fica claro ao subir uma escada, já que a câmera acompanha o movimento dos degraus. Mas há muitos outros momentos em que este recurso mostra as caras.
Você pode estar andando e uma plataforma despencar, revelando uma inundação de água, ou então, com o apertar de um botão, pode fazer uma porta abrir em outro canto da tela. E o jogo de câmeras acompanha tudo isso, tornando essa uma experiência AAA, mas com o excelente benefício de custar R$ 59,99 na eShop do Brasil.
Todas as soluções implementadas pela QUByte são inteligentes. O fast travel entre seções ilustra bem isso, já que está “disfarçado” de metrô. Cada estação é uma parte do mapa, que as exibe como uma linha de transporte público mesmo. Isso faz com que você não apenas queira avançar até a próxima estação para desbloqueá-la no fast travel, como cria a dimensão de distância e localização. Afinal, determinado mapa está à direita do anterior e portanto à direita do próximo.
Habilidades
Sobreviva investigando diversos locais, desbloqueie habilidades elementares e combine-as com poderosos ataques corpo a corpo contra chefes formidáveis. Descubra o destino misterioso da colônia e escape do caos nesta aventura de ação atmosférica e focada no combate.
Na maioria dos metroidvanias, principalmente na franquia Metroid, a protagonista inicia a campanha sem grandes poderes e os vai adquirindo gradualmente conforme avança na experiência do game. Mars 2120 segue a cartilha à risca e ainda acrescenta um quê de desafio.
Isso porque, a depender do interesse do jogador em explorar cada cantinho do mapa, ele terá mais ou menos habilidades.
Funciona assim: o caminho “natural” das fases o levará aos upgrades necessários para avançar. Mas o jogo premia os mais curiosos com novas habilidades e desbloqueio de melhorias para as habilidades também.
A cada hit dado nos inimigos você ganha pontos de experiência (XP), que aqui não são usados para subir de nível e sim para comprar melhorias de habilidades. E como muitas dessas melhorias estão “escondidas” em passagens secretas (sim, há muitas delas, e no formato old school, de “experimente e veja o que acontece”, sem indicação visual óbvia) ou em plataformas mais difíceis de serem alcançadas, vale a pena jogar Mars 2120 com toda a calma do mundo.
Em algumas seções, se você correr, vai ficar com muitos pontos de experiência para gastar, mas sem nada para comprar. Isso quer dizer que você pode não ter explorado tudo direitinho, o que gera a sensação de “há mais para ser visto” e te faz querer voltar mapa por mapa. É o fator replay antes mesmo do zeramento. Parabéns aos desenvolvedores!
Bom, dito tudo isso, vamos às habilidades. O jogo mescla combate corpo a corpo com armas de fogo e tem foco em elementos como gelo, fogo e outros, que não vale citar para não dar spoilers demais.
O uso destes recursos todos é muito intuitivo. Inimigos de gelo são imunes à sua escopeta de gelo, assim como inimigos roxos são imunes à pistola inicial, que é igualmente roxa. E isso fica claro porque a cada hit ineficiente nos adversários o jogo exibe a palavra “imune” sobre a cabeça eles.
Mas o contrário é muito efetivo, então a mesma escopeta de gelo pode dar hit kill em determinados inimigos, e um dash de raio pode ser muito efetivo também. Sim, existem, para além das armas, habilidades como dar dash para os lados e para cima, criar uma coluna de gelo para usar como plataforma, congelar água e outros itens, e por aí vai. Afinal de contas é um metroidvania clássico, lembra?
Utilizar todos os recursos e explorar todas as possibilidades é algo muito satisfatório, já que o jogador se sente recompensado pela estratégia com elementos, que podem ser alterados com um simples toque nos botões R ou L. Vai da destreza de quem está no controler: se você está em uma parte em que a arma de gelo é a melhor, mas ainda assim precisa correr, altere para o choque, dê o dash e volte para o gelo. O cérebro vai comandando rápido, as mãos se acostumam e o movimento flui.
Bosses
O domínio dos elementos vem após a vitória contra um chefe. O primeiro é um tutorial disfarçado, o que é outro ponto positivo para a QUByte. Aprenda o padrão, desvie, tenha paciência e ataque na hora certa. Esse é simples, mas os próximos serão realmente desafiadores.
Nos bosses, a experiência certamente será nostálgica para quem viveu os anos 1990, com clara influência da época do Super Nintendo. A dificuldade, na opinião deste redator, é alta, mas você pode reduzir o nível de dano no menu.
No entanto, os bosses, justamente por serem clássicos, contam com um “calcanhar de Aquiles”. Ocorre que a exploração, a ambientação e o gameplay entre os mapas são tão legais que quando chega um chefe a sequência da experiência é quebrada.
É claro que os chefões são muito legais, e inclusive um modo “boss rush” seria muito bem vindo para quem gosta dessa experiência, mas para quem não gosta tanto eles mais atrapalham do que ajudam, pois, como são difíceis, tiram o jogador da deliciosa experiência de avançar e explorar em um planeta Marte hostil e surpreendente, para colocá-lo em uma seção que exige o aprendizado de padrões e muita paciência para avançar.
Acessibilidade
No começo deste texto, mencionei Prince of Persia: The Lost Crown. Agora, volto a falar dele, porque assim como no jogo da Ubisoft aqui também há uma série de recursos de acessibilidade (visual, sonora e de jogabilidade), pois a QUByte quer “que os jogadores possam personalizar a experiência de acordo com suas necessidades”.
Ou seja: se os monstros estiverem muito difíceis, entre no menu “modificadores” e deixe os “danos de golpes inimigos” em -25% ou -50%. Ou, se tudo estiver muito fácil, que tal ativar os modificadores “zerar XP ao morrer” ou “morte permanente?”.
Esse é um ponto fortíssimo do jogo, o que ofusca completamente os possíveis pontos mais fracos, como a apresentação da história, que não envolve tanto pela forma como é contada, ou então eventuais bugs. Mas isso nem vale a pena entrar em detalhes, porque o trabalho da desenvolvedora e impecável e ela está sempre publicando patches de atualização.
Já a você, na pele da Sargento Anna “Thirteen” Charlotte, cabe a missão de explorar marte, sobreviver e se reoportar às Nações Unidas. Mas atenção: e se a exploração espacial der errado?
Veredict
Mars 2120 is a classic metroidvania that gets everything right. The gameplay is fun, the exploration is addictive, the challenge is constant, the story is interesting, the soundtrack is memorable, the visuals are excellent. Everything is good. And the price too, which crowns the game as an essential title for those who like action and adventure in a 2D perspective with great quality.
[Nota do Editor: Mars 2120 foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela QUByte Interactive para avaliação.]
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