O quanto você realmente conhece sobre a vida? E sobre a morte? O quanto você sabe verdadeiramente sobre o outro, e também sobre si mesmo?
Mirrored Souls é um jogo de plataforma desenvolvido pela The Bricks Studio e publicado pela Short N Sweet para Nintendo Switch, PlayStation 4, Microsoft Windows, Xbox Series X e Series S, Xbox One, lançado recentemente, na virada do semestre de 2023. Em uma gameplay que, para quem vê de relance à distância, aparenta ser simples e sutil, as fases evoluem conforme o enredo se constrói e por lei, ficam mais difíceis ao passo em que a história fica também, mais complexa.
Sobre estar juntos, ainda que separados
Aqui os jogadores são introduzidos e vivem simultaneamente a trama de Daru e Ravi, duas criaturas antropomórficas, ou seja, com físico humanóide e traços animais – nesse caso, Ravi é um coelho branco enquanto Daru é um coelho preto.
Cada uma das fases é composta por um puzzle, onde simultaneamente, os movimentos que realizamos com o personagem à esquerda da tela são espelhados simetricamente, de forma idêntica, pelo personagem à direita, nosso objetivo é uní-los em portais localizados em cada um dos lados, ao mesmo tempo. Inicialmente, sendo uma apresentação dessa mecânica ao jogador, as plataformas presentes são idênticas dos dois lados, facilitando uma movimentação sem muitos desafios.
O problema surge quando essas plataformas surgem desalinhadas e totalmente assimétricas, ou ainda, há penhascos, alavancas, botões e espinhos tornando cada fase ainda mais difícil que a anterior.
Sobre conexões com os outros e com nós mesmos
Com uma gameplay composta por 3 capítulos da história, e cada um desses tendo uma média de 20 fases, dentre cada um dos níveis, temos breves pausas onde acompanhamos a evolução do relacionamento de Ravi e Daru – eles fazem breves reflexões sobre o sentido da vida, morte e amizade, enquanto começam a questionar mais e mais sobre o motivo de estarem ali, juntos, ainda que separados pela ambientação do jogo. Aqui é importante ressaltar que, mesmo sendo seres antropomórficos, em nenhum momento há uma definição de gênero exata para estes.
A partir do momento que um terceiro elemento, a lua, surge no meio da amizade dos dois, a história começa a desandar, e só é possível dar sequência no enredo após completar uma quantidade média de 4 a 5 fases (algumas bem apocalípticas até demais por assim dizer, rs). A missão do jogador é, enfim, saber qual será o destino final do relacionamento de Daru e Ravi, mas será que esse destino existe? Quando sinceridade e dúvidas são postas à prova, é possível mesmo manter uma ligação com alguém, ou é melhor se afastar?
Sobre gameplay e emoções complexas
À primeira vista, todos os elementos visuais do jogo trazem uma gama de cores que foge completamente do monocromático, e mostra que jogos curtos não precisam ser necessariamente discretos ou compostos pelo mesmo tom. O cenário que se inicia em uma manhã no campo logo se torna um entardecer nas montanhas, um fundo do mar brilhante, a aurora boreal no céu noturno, as nuvens no pôr-do-sol, entre outros. Tendo isso dito, é fato dizer que realismo jamais será lei quando trabalhos em 2D continuarem sendo feitos com tanto carinho como aparenta ser feito em Mirrored Souls.
Assim como vemos ao longo da jogatina, nenhuma amizade é perfeita, e infelizmente nem toda mecânica também – Certo, eu me diverti demais conhecendo cada um dos níveis nos primeiros capítulos, porém, após algumas partes mais complexas e definitivamente não-amigáveis, o dedo pode começar a coçar um pouco para entrar nas configurações e habilitar a opção de “pular fase”.
Claro que isso depende bastante da curiosidade e da disposição de cada jogador, e nem todo mundo precisa terminar o jogo em apenas uma tarde, mas é inevitável, a história que vista de longe parece infantil, a cada reflexão só mostra que é exatamente o oposto, e a necessidade de saber finalmente qual é o desfecho e o sentido de tudo existe. Então entre de cabeça já sabendo que vai lutar em determinados pontos enquanto coloca a mente para pensar de uma maneira como nunca havia feito, mas que também será bem recompensado pelo seu esforço e empenho.
A trilha sonora utilizada como plano de fundo não chega a ser grandiosa a ponto de ter um grande impacto por si só, mas sabe complementar muito bem os aspectos dos locais nos quais passamos enquanto pulamos de uma plataforma a outra ou puxamos e empurramos pedras para apertar botões e girar alavancas. Novamente repito, o foco total durante toda a jogatina prevalece sendo o desenrolar dos eventos que os protagonistas vivem em sua trajetória de conhecimento sobre si e sobre o outro.
Conclusão
Se você é do tipo de pessoa que é apaixonada por visual novels intensas que envolvem relacionamentos a dois e ainda é fã de jogos de plataforma e puzzles (dos mais difíceis, diga-se de passagem!) Mirrored Souls pode ser o jogo que você tanto busca.
Sua gameplay avançada apesar de parecer “estagnar” a história entre os capítulos II e III, é essencial para que a mesma não se torne apenas um conto de fadas: Relacionamentos fazem tão bem quanto machucam, e você descobrirá isso da melhor maneira possível, tendo a noção de que tudo que é bom, exige um preço, vontade e persistência (e você morrendo ou matando o seu reflexo mil vezes no mesmo nível). Recomendo que joguem e descubram por si mesmos, em um ambiente tranquilo e confortável, que conexões que nos fazem tão bem também podem doer.
[Nota do Editor: Mirrored Souls foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Jaleo PR para avaliação.]
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