Xenoblade Chronicles 2 ainda vale a pena?

Xenoblade Chronicles 2 ainda vale a pena?

Depois de alguns anos de uma lenta crescente em popularidade, a série Xenoblade começou a receber sequências para a sua linha principal, culminando no indicado ao melhor jogo do ano de 2022, Xenoblade Chronicles 3. Enquanto aguardava o lançamento do jogo, eu decidi ir atrás de terminar o segundo título da série, que eu havia desistido há um tempo por ter simplesmente odiado a primeira experiência com ele.

Conforme eu fui atrás de opiniões e ouvir outras pessoas que passaram por isso, notei que o jogo já em seu lançamento conseguiu dividir todos os tipos de jogadores possíveis, experientes e novatos. Porém, com os anos, os seus admiradores persistiram em incentivar os desistentes a uma nova tentativa, e aqueles que tinham um pé (ou muitos) atrás a darem uma chance.

Esses fãs tão apaixonados conseguiram ser até melhores divulgadores do jogo, assim como bons treinadores considerando os péssimos tutoriais do game, do que a própria Monolith Software e, é claro, a mãe: Nintendo.

O que podemos observar então, 5 anos depois de seu lançamento mundial, do jogo que herdou o prefixo de uma série longeva e ambiciosa que trouxe tantas dúvidas tanto quanto ao seu lançamento, quanto a sua continuidade como franquia?

Um mundo novo

Xenoblade Chronicles 2 ainda vale a pena?

A minha primeira experiência com a série foi a partir do primeiro Xenoblade Chronicles. Shulk foi confirmado como personagem de Super Smash Bros. for 3DS, acompanhado de um relançamento do jogo original para o New Nintendo 3DS. Porém, por eu não ter acesso ao console, tudo que pude fazer era assistir trailers e ouvir outros falarem sobre o jogo.

Com o tempo, o jogo ganhou uma versão definitiva para Nintendo Switch e eu finalmente coloquei minhas mãos bem perto do lançamento. Foi uma das experiências mais inacreditáveis em um JRPG que posso lembrar, e que você pode acompanhar a nossa review dessa versão clicando aqui.

Logo, com uma experiência tão impactante, a ansiedade simplesmente foi instantânea para jogar a sequência e apenas orar pela mesma sensação de viver uma vida inteira em 80 horas de gameplay.

Alrest, o mundo desse jogo, é baseado em super continentes formados sobre Titãs colossais, um conceito já apresentado no primeiro game. Rex é um salvager, um catador de sucata, que procura relíquias no fundo do Cloud Sea, ou mar de nuvens, e depois faz trocas para ter ganhos na vida. Ao se juntar a personagens estereotipados do gênero animesco, Rex encontra Pyra, que o acompanhará pelo jogo sendo sua Blade, uma arma antropomórfica que o dá suporte nas batalha e interage como uma NPC com personalidade e sentimentos próprios pelo field run.

Xenoblade Chronicles 2 ainda vale a pena?
Rex e Pyra.

Acostumado com séries de JRPG como Final Fantasy e Persona, um novo mundo com elementos completamente inéditos não são novidades para mim. Passei a me afeiçoar inclusive a esse modelo de sequência. Entretanto, a forma como isso tem que se apresentar numa série exige no mínimo coerência com o que já vimos antes, ou uma declaração explícita de que não haverá essa continuidade.

Xenoblade Chronicles 2 não consegue atingir o mínimo do mínimo em nenhum dos dois. A forma como ele te introduz parece tentar o máximo fazer você sentir que está começando uma aventura nos moldes do primeiro jogo, porém a forma como ele abrange suas mecânicas iniciais é confuso e mal estabelecido. De uma forma ou de outra, eu diria que esse é o principal ponto a fazer tantos desistentes do título.

A mechonis na sequência

Xenoblade Chronicles 2 ainda vale a pena?

Ignorando o trocadilho horroroso, aqui começamos com um combate sem carne, sem qualquer tipo de coração sendo introduzido, você praticamente tem sua primeira experiência entendendo o conceito de auto-attack, que já não é mais novidade, e como se curar.

É comum em RPGs, principalmente orientais, a sensação de lentidão e uma falta de opções variadas no início da campanha. Porém, Xenoblade 2 acaba caindo na maior falha do gênero nesse sentido e fazendo muitas vezes parecer que o jogo não vai sair muito daquilo ali.

A forma como o jogo consegue te inserir nas suas mecânicas, contextos, personagens, são terríveis em apresentar um mundo cativante pela sua dinâmica orgânica, já que a primeira situação para começar a explorar é intrínseca a um combate ainda não estabelecido e lento.

É desestimulante uma área como Gormott Field, um paralelo a Gaur Plains do primeiro jogo tanto em imagem quanto em trilha sonora, ter uma espaço tão aberto e elementos vivos e simplesmente parecer que dez minutos por lá são uma hora de jogo, fazendo simplesmente nada por ter boa parte do combate sendo resolvido em praticamente auto-attack e Arts lentas que não apresentam muito impacto.

E isso se dá por umas 20 horas seguidas. Na verdade, eu demorei até umas 35 horas de gameplay para conseguir finalmente ter interesse no combate e na história. Algo me fez continuar. Talvez a esperança de que a Monolith iria alcançar um objetivo com aquilo tudo. Eu só queria ter o prazer de viver momentos excitantes e surpreendentes como vivi com o primeiro jogo, já que esse aqui constantemente buscava elementos dele.

O ponto de virada

Ao chegar em capítulos mais a frente, as coisas mudam pela inserção de novos personagens na Party. Nesse jogo, é simplesmente impossível de ter qualquer luta apenas com um personagem. Ele não foi balanceado para isso e muito menos quer que você veja o combate dessa forma. E o que prejudica a retenção de jogadores é exatamente por te manter um período extenso de desfalque na sua equipe.

Seguindo o padrão da série, os papéis de combate são espelhados do sistema de MMO, tendo um Attacker, Healer e Tank. Sem essa configuração, ou as batalhas serão a velocidade da luz de tão rápido que você vai morrer, ou serão arrastadas mais do que o padrão do jogo. E a demora na inserção desses papéis é o que também pode criar uma leve dificuldade de se contextualizar na dinâmica principal, já que os tutoriais não são acessíveis uma segunda vez.

Xenoblade Chronicles 2 ainda vale a pena?

Mas a entrada de Morag para a gameplay é simplesmente disruptivo. Nesse momento do jogo, você tem a possibilidade de ter 9 Blades em batalha, criando uma dinâmica mais fluida e divertida para que as lutas possam se tornar mais rápidas, estratégicas e completamente o inverso do que foram as primeiras horas de jogo.

As Arts, elementos que retornam aqui, ficam mais úteis com usos mais diferenciados. Com a equipe completa, nossas chances de aplicar buffs padrões da série como break, topple e Daze estão presentes em todas as lutas. Além disso, nossos field checks são mais acessíveis, já que estes são habilidades que nossas blades devem ter desbloqueadas para podermos acessar a determinadas áreas do mapa. Com 9 blades isso se torna muito mais fácil.

E é digno de nota, o enredo tem um acréscimo significativo após a movimentação dos personagens em direção ao objetivo principal como única engrenagem narrativa. Até então, nós tínhamos vários momentos que parecia estar buscando uma certa forma de alívio cômico com um desenvolvimento de apego aos personagens, mas que acho que se estendem demais.

Os personagens com uma terrível dublagem inicial, um mundo que é recheado de Nopons (que eu detesto), mais um elemento que retorna do primeiro jogo, e uma grande cidade com várias opções, porém sem nenhum tipo de recompensa viável, tem um momento de valorização a partir de um ponto da narrativa que sua percepção sobre a qualidade muda.

Xenoblade Chronicles 2 ainda vale a pena?

Você quer que o jogo continue sendo ruim pelo o tanto que já reclamou até esse momento, mas a escalada é tão grande que é notório o sentimento de que a vida é real em Alrest. Você se lembra de cidades, personagens, paisagens, trilhas, monstros, porque tudo começou a ser realmente importante para você.

O objetivo deles, se torna seu objetivo. E num enredo que tinha tudo para depender de um Mguffin mal escrito, você acaba recebendo uma aventura criativa com reflexões sobre humanidade, criação, traições, superação, niilismo, ódio, amor e principalmente, esperança. Os momentos finais do jogo são uma das maiores dores que já tive por tudo ter ficado bem, mas a que custo?

E o trabalho tão maravilhoso da equipe de composição musical dava um texto a parte, que faria muita inveja em obras que tentam e se esforçam até hoje, mas ainda não conseguiram criar faixas tão impactantes como muitas desse título. A minha vontade era esmiuçar o jogo aqui, e conseguir colocar tudo na mesa de tão positivo que ficou o saldo final. Ele realmente é absurdo no que te entrega de imersão e intuitividade se você tiver um pouco de perseverança e seguir algumas dicas.

O saldo de negativo fica mais para um momento introdutório que eu acho que se prejudica por falta de otimizações e acessibilidade a opções integradas a tutoriais e organização de menus.

Minha sugestão

Se você se apaixonou por Xenoblade com Xenoblade Chronicles 3 ou a The Definitive Edition do primeiro, o segundo título da série é obrigatório. Seus elementos fracos e baixos me remetem a um coito interrompido, muitas vezes atribuídos a divisão de equipe ocorrida em detrimento da produção de The Legend of Zelda Breath of The Wild.

Porém, o jogo SE TORNA recompensador com gosto ao progredir tanto em estória quanto em gameplay se você se dedicar um pouco a ir atrás de vídeos e artigos que explicam melhor o combate e suas mecânicas de exploração. Não posso de maneira nenhuma recomendar que você confie no jogo nisso.

Além disso, a expansão Torna – Golden Country não pode ser ignorada. Era parte do jogo principal, mas ficou grande demais e se tornou praticamente um jogo a parte. Inclusive, é vendida como um singles player, a lá SpiderMan – Miles Morales. Ela aprofunda elementos que já eram cheios de camadas bem escritas no jogo base, e te fazem compreender o jogo numa outra perspectiva que poucas prequels conseguem.

Xenoblade Chronicles 2 ainda vale a pena?

Eu entendo os problemas estruturais com field checks que impedem seu progresso na exploração do mapa, as blades sendo um recurso muito exaustivo de tentar completar sua coleção e toda a questão da sexualização das personagens femininas.

Porém os elementos que fazem do primeiro Xenoblade uma obra-prima de narrativa em video games que tanto colocam o diretor e escritor, além de pai da série, Tetsuya Takahashi, como um arquiteto monumental de mundo expansivos, roteiros bem planejados e finais que te fazem repensar e refletir sobre tudo que você viveu até ali estão no auge aqui quando você luta para recebê-los. E é uma boa luta.

Xenoblade Chronicles 2 não é um jogo que se mantém numa curva de qualidade tão alta quanto o primeiro jogo desde o início, muito menos tem mecânicas tão bem interligadas e dinâmicas quando o terceiro. Mas apesar de amargo ao mastigar, ele desmancha como nuvens doces ao saborear.


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Um fã de Da Vinci e Miyamoto. Não me pergunte quem é quem.