Batalhas por turno — Pode ser divertido?

Batalhas por turno — Pode ser divertido?

É claro que você já ouviu falar dos famosos sistemas de RPG’s japoneses chamados Turnos. Você vai encontrá-los em franquias como Final Fantasy, Persona, Shin Megami Tensei, Super Mario RPG, Bravely Default e muitas outras. Porém, o que você vai encontrar também são muitos jogadores que tem um certo preconceito e acabam olhando para o sistema de turnos como algo chato e extremamente desprazeroso para videogames. Talvez, você mesmo, ou mesma, ache isso.

Eu tenho feito toda uma retrospectiva da série Final Fantasy, por ser minha série favorita e nós estarmos em cima de dois lançamentos importantes que foi a expansão Endwalker, lançada no final do ano passado, e o vindouro Final Fantasy XVI, que há muita promessa de ser lançado esse ano. Com a base da série sendo a grande inovação nos sistemas de turnos, e também comentários de pessoas próximas, eu decidi criar esse artigo mostrando pontos positivos que os sistema tem, além é claro, de outra perspectiva de alguém que tem já familiaridade com eles.

POR QUE TURNOS?

Afina, qual seria a finalidade desse sistema? O que ele traria, que poderia fazê-lo substituir a ação em tempo real e ainda criar toda uma indústria de jogos que se baseiam nele? Bom, precisamos olhar qual é a sua verdadeira proposta. De forma alguma podemos ver esse sistema da mesma maneira que vemos os jogos de ação, porque é proposto, na realidade, algo mais parecido com um jogo de estratégia. Você precisa saber qual decisão tomar com o seu personagem para ganhar vantagem numa luta, porque logo em seguia o seu inimigo vai tomar a decisão dele. Com isso, você também tem que fazer o que puder para diminuir o efeito que o movimento dele pode ter sobre ele e você.

Muitos comparam ao xadrez, onde não há como você impedir que seu oponente se mova, ou consiga conquistar determinadas peças suas. Tudo o que você pode fazer é criar situações em que o que ele conseguir seja algo que não prejudique o seu jogo e você continue na vantagem, podendo vencer o jogo de qualquer forma. Então, você vai ter prejuízos, fazer sacrifícios, ter que repensar estratégias mas ainda assim continuar jogando para vencer.

Batalhas por turno — Pode ser divertido?

Entretanto, eu acredito que o principal objetivo da batalha por turnos é criar um sistema em que você pode jogar com vários personagens diferentes, mas que suas mecânicas também funcionam de forma única, não só suas aparências. Você tem um personagem que vai servir para atacar um inimigo poderoso, outro vai criar um jeito de você ter proteções ou diminuir a defesa inimiga para levar mais dano. Se você tem vários inimigos que agem de forma diferente, você usa os personagens da sua party para cuidar de cada um deles à sua maneira.

Até Final Fantasy VII Remake, não havia sido possível ainda pensar numa forma de gerenciar uma equipe de vários personagens, as parties (ou party no singular), num combate em tempo real de fato. Óbvio que havia sido tentado, mas sempre acabava virando uma situação bagunçada e gerava uma confusão mental onde atacar e quem usar. O próprio FFVIIR tem batalhas que acabam ficando um pouco confuso, apesar de, na sua maioria, gerar situações em que o combate seja muito satisfatório mesmo assim.

Com o sistema de turnos, se você não se sente bem com um personagem sempre vai ter outro para treinar, aperfeiçoar e se afeiçoar. Nunca vai ser uma prisão de um modo padrão em que você não tem tanta autonomia. Além disso, com o sistema de turnos vieram muitos modos de combate que o inovaram na forma de pensar o turno em si. O jogo que eu mais recomendo para entendê-lo na sua essência seria Final Fantasy X, e se quiser se aprofundar mais, Bravely Default 2 é a escolha certa. Isso claro falando do ecossistema do Switch, a melhor opção se você conseguir acesso é de longe Persona 5 que, na minha opinião, carrega até hoje o melhor combate do gênero.

“É LENTO DEMAIS”

Óbvio que eu vi só o lado positivo. Os jogos de ação em tempo real vão acabar sendo apelativos por serem frenéticos, criando situações em que nós sentimos o que é estar ali lutando, o calor da batalha, a tensão de desviar, defender e contra-atacar. Porém, eles também tem seus pontos negativos, como ficarem bagunçados, inimigos desbalanceados, controles não intuitivos. O sistema de turno segue a mesma linha, e costumam ser o que aqueles que não são tão fãs usam como pivôs para nem se aproximar de jogos assim.

O principal deles é por ser lento. Bom, penso que assim como os jogos de ação podem sair ruins, os jogos de turno também. E os que você jogou podem realmente ser lentos, desanimadores e não cativantes. Por isso, eu sugiro procurar jogos diferentes. Os jogos de Persona são conhecidos pelo sistema rápido de decisões e ações diminutas e que fazem você ficar na ponta da cadeira pensando no que fazer em seguida. Final Fantasy criou um sistema chamado ATB, onde você não espera outros tomarem decisões, você tem um tempo de carregamento para você agir, assim como seu inimigo. Então, não tem a ver com vez, e sim com tomar a melhor decisão enquanto as coisas estão acontecendo naquele momento.

Batalhas por turno — Pode ser divertido?

Outra opção é Dragon Quest que, apesar de ser turno básico, tem suas estrutura em ações rápidas e não tão problemáticas. Você vai ter que pensar no que fazer ainda assim, mas as coisas são com menos peso te dando tempo e clima para se sentir seguro para tomar decisões mais estratégicas. Além dos personagens serem muito bons e simples, não deixando de te cativar pelas características únicas.

Dragon Quest XI Nintendo Direct Coming June 21 | Attack of the Fanboy

Acredito que o condicionamento ocidental que recebemos, de entender que o jogo é resolvido pelas nossas interferências diretas e em tempo real com jogos como Doom, God of War e outros mais diretos ao ponto acaba muitas vezes nos impedindo de sentir a verdade diversão de jogar em turnos. Um grande amigo meu dizia: “Eu sinto que eu estou morrendo jogando um jogo assim.” Então, acho ser importante incentivar a mente aberta para que entrem em contato com abordagens diferentes e compreender os conceitos que outra cultura talvez tenha para jogos. Sairmos um pouco da zona de conforto e tentar, e isso é o mais importante, tentar de verdade conhecer algo novo e descobrirmos se só conseguimos nos divertir com as mesmas coisas de sempre vai fazer com que a gente ganhe muito mais.

VOCÊ PODE GOSTAR, SE TENTAR

Não há como eu destrinchar aqui todas as formas possíveis de uso do sistema de batalhas por turnos, ou então teria de fazer um artigo maior do que a maioria estaria disposta a ler. Porém, me preocupei em realçar os pontos principais que fazem do turno um sistema lógico e prático para alguns jogos, e mostrar que nem sempre vamos nos divertir com algo mais estabelecido pelo o que já conhecemos. Então, se você como o meu amigo se sente “morto por dentro” como jogos de turnos, tente um pouco mais. Procure mais referências e saia da zona de conforto, você pode descobrir jogos incríveis.


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Um fã de Da Vinci e Miyamoto. Não me pergunte quem é quem.