Depois da incrível entrevista com o Pablo, nós temos agora outro grande jornalista de games brasileiro para nos dá relatos sobre como a publicação da Nintendo World era importante e gerou um grande interesse, contribuindo para a formação de carreira de muitas pessoas.
Não só isso, como era uma fonte necessária para muitos que não tinham tanta condição assim de consumir o mundo Nintendo de forma constante num país como o Brasil. Vamos ouvir o que Pedro Henrique Lutti Lippe, o PH Brazil, tem a dizer sobre a sua experiência com a revista.
Project N – Depois de conversar com o caríssimo, Pablo Miyazawa, pude ter uma noção do esforço que era feito na época da publicação da Nintendo World para que pudesse haver o assunto Nintendo rodando no Brasil. Acredita que você, hoje reconhecido por muitos, inclusive eu, como uma representação Nintendista num grande veículo como o The Enemy, teria esse amor e carinho todo pela empresa senão fosse a publicação?
PH – Durante muitos anos, a Nintendo World era o que mais alimentava o meu consumo de Nintendo. E não digo no sentido de que eu procurava por jogos para comprar nas páginas da revista; eu não tinha dinheiro, e me contentava em ler detonados, dicas e reviews sobre lançamentos como forma de diversão. E é claro que, quando eu ganhava algum jogo de presente ou conseguia juntar um dinheiro para comprar algo, a revista estava ali como peça-companheira para a diversão. Lembro vividamente de guardar a edição 50 da NW com o intuito de usar o detonado de Metroid Fusion para o inevitável dia em que eu conseguisse o cartuchinho.
Acho que muitos dos jogadores mais jovens têm dificuldade em entender a importância que as revistas tinham para o hobby nos anos 90 e no início dos anos 2000, na época em que o acesso à Internet era escasso – ou inexistente, na maioria dos casos. A empolgação de tirar o lacre de uma revista de games nova era parecido com o de encontrar uma fita nova na locadora.
Project N – Conversei também com o Pablo sobre a questão da acessibilidade, pois, como sabemos, a Nintendo é conhecida por consoles e jogos normalmente de preços muito elevados no nosso país. Pablo enxergava a Nintendo World como uma revista que fazia essa ponte, onde aqueles que não tinham condições usavam a revista como uma forma de consumo. Diria que você foi um desses? Ou, a publicação foi um adicional a o que você consumia na época? Se sim, de que forma ela contribuiu para a experiência além dos jogos?
PH – Com certeza. Ao longo da maior parte dos meus anos formativos, o primeiro PlayStation foi o videogame que mais joguei. A razão era óbvia: pirataria. Eu podia ir para a Av. Paulista com uma nota de 10 reais e voltar para casa com 3, 4 CDs novos. Já meu Game Boy sentia o gostinho de uma ou duas fitas novas por ano, no máximo, na época do meu aniversário ou do Natal. Mas eu sabia tudo sobre Nintendo porque lia absolutamente todas as palavras impressas em cada volume da Nintendo World. Eu também comprava revistas que falavam sobre PlayStation – mas, no caso dessas, era muito mais fácil ler sobre um jogo interessante e ir atrás de tal jogo.
Project N – Você hoje é um jornalista com muitos apreciadores do seu trabalho, atualmente no The Enemy. Entretanto, anteriormente você escreveu também para a publicação. Você enxerga a revista como algo importante na sua decisão de carreira? Ou, teria seguido mesmo assim como jornalista?
PH – Ainda que na época não tivesse planos de trabalhar com games, e nem mesmo de me tornar jornalista, eu comecei a cobrir a indústria dos games em 2003 para um site chamado Clube do Cube. Ele mudou de nome várias vezes ao longo dos anos, e hoje chama-se Switch Brasil. Por meio do meu trabalho nesses fansites, acabei tendo a oportunidade de escrever pequenas colunas para a Nintendo World (e também para a concorrente NGamer). Foram ocasiões muito marcantes – para alguém que tinha crescido lendo aquelas revistas, era bem surreal ter meu nome (e meu rosto, às vezes) estampado em suas páginas.
O jornalismo como escolha de carreira surgiu quase como um capricho na minha vida, naquela época de final de ensino médio em que o jovem é obrigado a fazer uma escolha importante demais para alguém que tem menos de 20 anos. Talvez o prazer de ver textos meus na banca de jornal tenha, sim, pesado um pouco na minha escolha, mesmo que de maneira subconsciente.
Project N – Agora que a revista não está mais em publicação, temos uma carência de assuntos Nintendo sendo divulgados no Brasil por um veículo especializado, no caso como veículo jornalístico, que hoje é suprido por muitos youtubers como o Coelho, Digplay e seus companheiros. Acha que esse vai ser realmente o futuro da divulgação Nintendista, ou acredita que é possível um retorno da Nintendo World reformulada?
PH – Eu ainda escrevo com regularidade para publicações da Editora Europa, e sei do enorme sacrifício que a empresa precisa fazer para colocar conteúdo sobre games no papel no Brasil de hoje em dia. Não consigo enxergar um caminho para que a Nintendo World retorne que ultrapasse o conceito de item de colecionador. O próprio conceito de veículo jornalístico especializado em games na internet já é um que tem dificuldade de se reinventar e se manter relevante hoje em dia – no impresso, então…
Os formatos vão mudando, e o público também. O YouTube é o principal veículo para esse sentimento hoje em dia, mas nem mesmo o YouTube vai durar pra sempre. A Twitch já é um passo adiante, e hoje abocanha boa parte do público, suprindo suficientemente a demanda de muita gente por conteúdo especializado. Não sei o que virá a seguir, mas não acredito que haja espaço para o retorno do impresso. Talvez a marca até possa voltar, mas o formato precisa ser completamente diferente.
Project N – Para encerrar, gostaria que você comparasse sinceramente o seu sentimento enquanto Nintendista, na época de circulação da revista com hoje. Acha que seu carinho e apreço pela empresa estão mais ajustados, ou acredita que pelo acesso mais facilitado a informações hoje, você acabou apreciando ainda mais os jogos da Big N?
PH – Se eu já gostava de jogos da Nintendo quando mal os conseguia jogar, e ficava só namorando as telinhas impressas na página da revista, meu apreço por eles só cresceu a partir do momento que passei a ter a grana necessária para comprar os lançamentos. Mas é um carinho diferente. Era muito mais fácil colocar no pedestal um jogo que você só conseguia imaginar por causa das revistas. Pegue Donkey Kong 64, por exemplo: era um jogo que eu certamente curtia muito mais nas páginas da revista do que gosto hoje depois de jogar!
E assim…
Terminamos aqui as duas partes das entrevistas sobre a circulação da Nintendo World, que fez tanto sucesso entre o público e que influenciou tantas pessoas a ponto de criar histórias incríveis como as que lemos com os relatos dos queridos Pablo Miyazawa e PH.
Então, para você, Nintendo World, sentimos muito a sua falta e desejamos muito algo novo vindo de ti. Enquanto isso, que fique essa singela homenagem a publicação, por um tempo mais modesto e humilde, mas com certeza, muito divertido!
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