Nem só de títulos first party (feitos pela Nintendo), ou second party (como os desenvolvidos pela HAL Laboratory e Rareware – ou Rare, para os íntimos), viveu o Nintendo 64. Dentro da biblioteca de quase 400 títulos lançados para o console há jogos third party (de outras empresas que não as já citadas) que são muito bons e hoje em dia nostálgicos. É o caso de Glover, a aventura da luva branca que controla uma bola amarela e vermelha. E sabe o que é o melhor? Essa aventura está de volta na casa da Big N, já que acaba de ser relançada em HD, com envolvimento de brasileiros, sob o selo QUByte Classics.
Antes de mais nada, é preciso dizer que a experiência original, de 1998, desenvolvida pela Interactive Studios e publicada pela Hasbro Interactive, está intacta. As melhores palavras para definir são as que estão disponíveis na eShop brasileira:
O clássico cult dos anos 90 está de volta! Glover é um encantador jogo de plataforma 3D onde você controla uma luva mágica em uma missão para restaurar o equilíbrio do reino. Role, salte e manipule sua bola mágica para resolver quebra-cabeças, superar desafios e derrotar a luva maligna que ameaça o mundo!”.

Vale acrescentar um pouco da história, que embora fique em segundo plano, é interessante e é explicada quase na totalidade a partir da cutscene inicial. Aliás, nesse momento é curioso analisar que games do Nintendo 64 parecem “precisar” de um castelo ao fundo, como é o caso de Super Mario 64 e The Legend of Zelda: Ocarina of Time.
Tudo começa quando um mago, ao usar duas luvas mágicas que se movem sozinhas, mistura líquidos em um caldeirão. A mistura não dá certo, e o resultado da poção é uma explosão que o derruba no chão. Nessa confusão, uma das luvas cai no caldeirão e a outra sai voando pela janela do castelo, sendo esta o protagonista, Glover.
Glover percebe que um tipo de cristal essencial para a manutenção do mundo também voou, mas em direções aleatórias. Ele então transforma estes cristais em bolas, para que não se quebrassem ao acertar o chão. Só que as bolas foram parar em mundos diferentes. E aí fica claro o que se deve fazer: coletar todos. E ao mesmo tempo, como não poderia ser diferente, a luva que estava no caldeirão ressurge como uma espécie de “irmã gêmea do mal” e se torna a vilã da jornada.
Gameplay

Sabe a Crazy Hand, de Super Smash Bros? Então… Glover é sobre controlar uma luva branca que ora empurra, ora arremessa, ora sobe em cima e ora bate em uma bola. Essa bola quase sempre é amarela e vermelha, como uma bola de criança, que quica. Mas ela também pode ser transformada em uma pesada bola de boliche, uma nanica bola de metal ou então pode retornar ao formato do cristal original.
Você até pode andar com a luva, como se estivesse controlando um bonequinho imaginário, daqueles que controlam skates de dedo. Mas isso não é sempre vantajoso (leia mais abaixo). O que vale mesmo é dominar os controles da bola, que à época do lançamento eram inovadores por usar e abusar do analógico do Nintendo 64, e hoje em dia, no relançamento da QUByte, se comportam muito bem.
Isso porque o que antes estava ligado aos botões C hoje está a cargo do analógico direito, como estamos acostumados. Então a câmera flui bem, a movimentação é boa e a experiência é positiva. No mais, é um game de plataforma 3D dos anos 1990, que consiste em avançar pelas fases e claro, coletar itens que tanto podem estar em locais óbvios como também podem exigir esforço para serem encontradas.
Como o jogo funciona

Jogar Glover é como voltar no tempo. Isso por diversas razões, como os gráficos por exemplo, mas a principal delas é o bom e velho “passar de fase”. Antigamente os jogos traziam menos preocupações com história e construção de mundo e mais preocupações com o level design, as possibilidades de gameplay e o fato do jogador precisar avançar de “fase”, de “mundo”.
Aqui o andamento é exatamente esse. Existe um “hub” principal – alô Crash Bandicoot, alô Banjo & Kazooie – que dá acesso aos seis “mundos” que contem três fases e um ou mais chefes cada. As ambientações são variadas e vão desde cenários de civilizações antigas, temas de piratas e até mesmo espaçonaves e locais com elementos sci-fi.
Em cada uma das seções é preciso alcançar dois objetivos principais: chegar ao final e coletar o maior número possível de Garibs, que funcionam mais ou menos como as moedas do Super Mario e estão espalhadas pelos mapas.
O que torna tudo interessante é justamente essa coleta de itens, importada de um dos grandes gêneros de jogos dos anos 1990 e muito provavelmente o maior do Nintendo 64, o collectathon, muito famoso por títulos como Super Mario 64, Banjo & Kazooie e Donkey Kong 64.
O sistema, inclusive, é diferente e pode ser encarado como inovador. Coletar Garibs “a pé”, ou seja, apenas com a luva, sem o uso da bola, rende pontos. Mas coletá-los com a bola rende muito mais, e fazer isso de maneira rápida vai multiplicando mais e mais. Isso é interessante, porque jogos retrô valorizam muito os sistemas de pontos, e Glover premia os jogadores que dominam o controle do personagem.
Dentro da minha experiência, jogar Glover no modo portátil foi muito bacana. Acordou cedo no domingo? Que tal passar por uma fase antes do café? E antes de dormir, que tal outra fase?
É nessa que a gente encontra passagens secretas, desafios de habilidade como empurrar a bola sobre uma superfície estreita e também quebra-cabeças para resolver. Como será que eu faço para a água desta área abaixar e eu poder avançar? Ou então para acessar a superfície em cima daquele telhado?
Visuais e novidades

Glover era bonito no Nintendo 64 e agora está ainda mais bonito. A alta definição do port publicado pela QUByte ajuda e valoriza tanto os gráficos em 3D como os elementos em pixel art, a exemplo dos seres que aparecem flutuando e que contém os menus de tutorial.
Os visuais são criativos, imaginativos e até mesmo lúdicos, o que está cada vez mais difícil de se encontrar nos dias atuais. A trilha sonora é boa, agradável, e o pacote vem com um menu de extras.
Enquanto o jogo original continha apenas as opções “Start”, “Practice”, “Options” e “Time Trial”, a nova versão tem a seção “Extras”, com conquistas e uma galeria de arte. São boas adições, mas poderia haver novas fases, novos modos de jogo, mais conteúdo jogável mesmo.
Também há filtros e é possível mudar o aspect ratio (proporção de tela). Confira as novidades no vídeo a seguir.
Custo x Benefício

É difícil dizer, em 2025, quando o mercado de games vive uma fase de grandes altas nos preços, tendo a própria Nintendo reajustado os títulos first party do Nintendo Switch, que um jogo completo vendido a R$ 59,99 é caro. Realmente não cabe afirmar isso, e sem rodeios é certo afirmar que Glover tem um excelente custo x benefício.
Porém, neste caso a reflexão merece ser aprofundada. O pacote de expansão do Nintendo Switch Online conta com o aplicativo do Nintendo 64, em que é possível jogar, na íntegra, diversos títulos clássicos da plataforma. Esses games são disponibilizado com os mesmos idiomas, resoluções e aspect ratio (proporção de tela) fiéis aos lançamentos originais.
Ou seja: o Nintendo Switch Online não apresenta remasterizações, e sim uma emulação do conteúdo da época. Com exceção dos filtros e do menu de extras, é o que Glover faz também. Embora a resolução esteja melhorada e o formato tenha sido adaptado para o 16:9 (que preenche a tela toda), não existe tradução para o português brasileiro e também não foram inseridos novos modos de jogo.

Dentro dessa perspectiva, é uma pena para o consumidor final que o jogo não tenha sido lançado dentro Nintendo Switch Online. Afinal, por apresentar conteúdo similar aos jogos que fazem parte do sistema, ele poderia muito bem ter sido lançado por lá.
Como isso não aconteceu, o melhor a fazer é encarar o fato de que Glover está muito bem no Nintendo Switch e sim, conforme dito acima, vale os R$ 59,90. Cabe, ainda, um adendo muito importante: ao observar a capa do jogo é possível ver que, embora leve a assinatura da desenvolvedora e publisher brasileira QUByte, o produto é específico da linha QUByte Classics.
Isso quer dizer que Glover não recebeu exatamente o mesmo tratamento de jogos como Top Racer Collection e Rage of The Dragons NEO, que pelas mãos da QUBtye tiveram tradução, novos menus, novos modos de jogo, conteúdos extra e por aí vai. Na verdade, Glover está em outra prateleira, que se assemelha mais à coleção Arcade Archives, da Hamster Corporation, também disponível no Nintendo Switch, com a proposta alinhada aos interesses da preservação de games, de resgate, de maneira fiel, dos jogos da época dos fliperamas.
Veredict
Tired of Super Mario 64, Banjo & Kazooie and Donkey Kong 64? Try Glover, a different game about collecting items and mainly about passing levels and advancing through different scenarios to save the kingdom. If one word could sum up the game, that word would be “creativity”, and it’s great to be able to revisit – or experience – this journey in HD on the Nintendo Switch.
Nota do Editor: Glover (QUByte Classics) foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pelo QUByte Interactive para avaliação.]
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