Goldeneye 007: Multiplayer FPS raiz

Goldeneye 007: Multiplayer FPS raiz

Hoje os chamados jogos de tiro nos apresentam inúmeras opções de modos e sistemas para a jogatina, sobretudo quando falamos em online. Fortnite, Free Fire, Call of Duty, Battlefield, Counter-Strike, e lá vamos nós ficar aqui o dia todo falando os títulos. As maravilhas da internet nos proporcionam uma infinidade de possibilidades para invadirmos madrugada a dentro, mudando até nossa zona regional para acompanhar o fuso horário dos tiroteios pelo mundo. Você joga com seu amigo de Manaus em algum servidor da Coréia do Sul, contra gamers da Califórnia. É assim, sem limites. Mas nem sempre foi desse jeito.

Você deve estar pensando que vamos falar de lan houses no começo dos anos 2000, mas voltaremos um pouco mais, até um jogo que popularizou tudo que se conhece hoje em quesitos de games de tiro em primeira pessoa e multiplayer para consoles de mesa. The name is Bond, James Bond. Goldeneye 007 é um jogo lançado em agosto de 1997 para o Nintendo 64, e era baseado no filme de mesmo nome do agente secreto mais famoso do mundo, de 1995.

Goldeneye 007: Multiplayer FPS raiz
Goldeneye 007 (1997)

Como dito, ele popularizou o gênero, porém não foi o primeiro. O conceito já vinha de games anteriores como Wolfenstein, Doom e Duke Nukem, tendo outros títulos usado serviços online antes mesmo da virada do milênio. O que queremos frisar aqui é como Goldeneye foi um divisor de águas para os FPS (first person shooter) em consoles e como os games atuais ainda bebem dessa fonte. Além de também relembrarmos como era o ritual para jogar esse jogo que ficará para sempre na memória de quem viveu os obscenos anos 90, vamos detalhar essa missão!

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Doom (1993)

A verdade é que o game estava previsto para ser lançado na época do filme, em 1995, para o Super Nintendo. Ele quase foi lançado num sistema de trilhos, onde o jogador iria traçar um caminho fixo no mapa, podendo somente mexer a mira para atirar. Que sorte que não foi assim! Os seguidos atrasos jogaram o título para o console seguinte, o Nintendo 64. Essa mudança de plataforma e alguns cortes no orçamento podem ter sido o combustível que faltava para a produtora Rare desenvolver um dos games mais memoráveis do gênero. Se aventurando em um novo sistema, ela adotou saídas nada ortodoxas para criar uma experiência única para um jogo de tiro em consoles.

O enredo do game foi fiel ao roteiro do filme, desde a ordem até o design das fases e personagens. Os mapas eram amplos e não lineares, fazendo o jogador vasculhar todo a fase atrás de senhas, chaves, armas e objetivos que não fossem só sentar o dedo no gatilho. Falando em gatilho, Goldeneye foi o responsável pela eternização do botão desse formato, localizado então, embaixo do controle do 64, simulando de fato a ergonomia de estar atirando de verdade. Esse design foi aprimorado e deslocado para os botões secundários de ombro dos controles padrão de praticamente todos os consoles modernos.

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Botão Z (Nintendo 64)

Também foi revolucionário em um sistema de danos referente aonde os disparos acertassem os inimigos. Tanto pelo dano em si, quanto o tempo de reação e para onde os inimigos caíam após serem alvejados, dependia de nossa mira – ou falta de. De certo, é que aqui foi um dos berços do difundido headshot. Então se hoje você apavora seus amigos no online com apenas um disparo, saiba que James Bonde também ajuda a puxar o seu gatilho.

Goldeneye 007: Multiplayer FPS raiz
Goldeneye 007 (1997)

O modo multiplayer, outro grande atrativo do jogo, quase ficou de fora. Pois é, um dos marcos da infância dos gamers dos anos 90 só entrou no título aos 45 do segundo tempo. O prazo estava apertado e faltando um mês para a entrega do projeto, o programador Steve Ellis desenvolveu sozinho o modo multiplayer. Sozinho, mesmo. Nem a Rare ou a Nintendo tinham conhecimento sobre a programação para quatro jogadores. As equipes tomaram ciência somente na apresentação final do produto. Que bom que foi assim.

Goldeneye 007: Multiplayer FPS raiz
Modo Multiplayer

O modo apresentou uma experiência revolucionária para a época. Nos reuníamos na casa dos amigos que tinham a fita, levávamos nossos controles de casa e jogávamos horas e horas, com a tela dividida em quatro. Sim, com todos vendo as telas de todos. Acontecia desenfreadamente também nos fliperamas, onde pagávamos por hora para alugar os consoles. Fileiras de televisões com vários consoles para nos sentarmos naquelas confortáveis e românticas cadeiras de boteco. Alugar a fita? Era preciso praticamente ser um agente secreto. O game estava sempre alugado devido a gigante procura, sobretudo aos fins de semana quando a molecada se reunia para jogar.

Goldeneye 007: Multiplayer FPS raiz
A típica locadora dos anos 90.

Quase sempre no último volume, os pais tinham que se acostumar com os barulhos de tiros, ricochetes e nossos gritos. Para 1997, o sangue borrado nos personagens era tão real quanto as vibrações que o Rumble Pack  nos proporcionava sentir pelo controle. Amizades foram abaladas pelas explosões de minas de proximidade escondidas, e marcadas como os realistas buracos de tiro nas paredes da fase. As diferentes configurações e opções de armas e personagens multiplicavam exponencialmente nossas maratonas. Hoje, jogar online é muito cômodo e permite N possibilidades, mas me perdoem os mais novos, vocês nunca vão entender a emoção de ficar frente a frente com a Golden Gun do seu amigo do lado.



[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Redator publiciteiro, escrevo do Rio de Janeiro com o saudosismo e certeza de que o Nintendo 64 segue como o melhor video game que já existiu.