Como os videogames se afastam cada dia mais do público brasileiro?
Poucas sensações se comparam a ganhar um presente, era sempre um momento mágico de surpresa e ansiedade para saber o que estava por vir a nossas mãos. A ansiedade começava antes mesmo de datas comemorativas como nosso aniversário ou o Natal e sempre era acompanhada por um “nossa, o que será que eu vou ganhar esse ano?” e com uma pitada de preocupação em ganhar apenas meias novas ou roupas em geral. Na nossa infância o que nós realmente queríamos era um brinquedo novo ou com muita sorte: um videogame.
Por crescer numa família com dificuldades financeiras (na verdade até hoje) o máximo de tecnologia que ganhei foi um PlayStation 2 parcelado em dezenas de vezes e mesmo que já ultrapassado naquele momento me proporcionou centenas de horas jogando nos mais diversos mundos. Sem esquecer dos meus primeiros videogames que também foram frutos de presente: um Dynavision e um Polystation que apesar de hoje ter se tornado uma espécie de meme sobre falsificação era o suprassumo da minha diversão e me apresentou a franquias como Mario e Zelda.
Hoje, mais velho e na teoria com poder aquisitivo superior ao que tinha na infância era para o acesso se tornar mais fácil as novas tecnologias, correto? Por mais bizarro que pareça, a resposta é não. Não tenho console algum das novas gerações, meu último videogame (e atual) é um 2DS comprado nesses sites de vendas de produtos usados. E não, eu não enjoei dos jogos, adoraria poder jogar The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Mario Odyssey e afins; mas a realidade atual não permite. E isso precisa ser debatido.
Os últimos anos popularizaram de vez jogos mobiles gratuitos, Free Fire é um fenômeno gigantesco no Brasil principalmente por ser gratuito, mas também pelo fato de ser um jogo leve que roda em dispositivos mais baratos e menos potentes. Um jovem hoje com seus 14 ou 15 anos certamente tem mais carinho pelo Free Fire do que por franquias mais consagradas como Super Mario ou Sonic.
Um outro fenômeno interessante é a popularização das chamadas gameplays na última década, se as condições financeiras impedem a maior parcela do público de jogar os lançamentos como Super Smash Bros. Ultimate resta a esse público assistir youtubers que fazem os mais diversos vídeos a respeito do jogo. Seja por análises, longplays, detonados, qualquer vídeo que dê algum modo de a sensação do espectador de estar participando daquela jornada. A Twitch é um exemplo incrível de como alguns jogos estão tentando facilitar essa participação do público (como aqueles jogos interativos com a Twitch). A intenção é aproximar o transmissor com o receptor, mas aqui se tornou uma das únicas formas de jogar esses jogos de algum modo.
Preços proibitivos afastam toda uma geração brasileira que cresce em um país abandonado por seu governo, aquela preocupação em guardar uma moeda para jogar nas locadoras foi substituída por preocupações com sua própria sobrevivência. Os videogames por mais incríveis que sejam, experiências fantásticas que mudam vidas, cada dia mais se torna uma experiência passiva de modo que assistir alguém jogando se tornou a única forma de se manter atualizado e sentindo um gostinho do que é aquele jogo. Algumas empresas como a Microsoft buscam formas de baratear o acesso, como o projeto do XCloud que pode vir a ser uma forma mais barata (sem precisar comprar o console) de jogar alguns jogos da nova geração, mas a necessidade de uma boa conexão de Internet já torna proibitivo a uma boa parte da população que precisa cada dia mais economizar energia, gás e cortar por completo as opções de lazer para conseguir se alimentar.
Os videogames que sempre me ajudaram a divertir, afastar os pensamentos ruins, me dar bons exemplos de vida cada dia mais ficam afastados das pessoas que mais precisam desse entretenimento. E vai lá saber como essas pessoas vão preencher esse tempo vazio, essa falta de diversão…
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