Já ouviu o ditado “quem não tem cão, caça como gato”? Mas sabia que se engana quem pensa que caçar como um gato é ruim? Eles, os felinos, são predadores por natureza. Portanto, mais sorrateiros, astutos e ferozes. Logo, “caçar como um gato” é melhor. E no Nintendo Switch é assim quando o assunto é jogo de Fórmula 1. O produto oficial e licenciado está restrito a outras plataformas. Mas tudo bem. Porque temos New Star GP.
Para fazer uso de outra expressão popular, New Star GP, que está completamente em português brasileiro, “prova por A + B” que a indústria de indie games tem grande – e muitas vezes não valorizado – valor. Lançado sem muito alarde, ele é, sem exageros, o melhor jogo de corrida arcade disponível no videogame da Nintendo. E digo mais: está empatado com Grid Autosport em nível de qualidade.
Mas chega de enrolação: vamos ao jogo. Disponível na eShop brasileira por R$ 146,80, o título se propõe principalmente a duas missões: ser um game de corrida arcade, com visuais retrô, inspirados nos tempos low poly de títulos como Virtua Racing; e ser uma autêntica experiência de fórmula 1. E ele se sai extremamente bem em ambas, executando, ainda, uma terceira, já que em determinados momentos o jogador pode transformá-lo em um simcade (mistura entre arcade e simulador).
“New Star GP é um jogo de corrida arcade retrô que coloca você no comando enquanto assume o controle de sua própria equipe de automobilismo e compete em circuitos de corrida emocionantes e icônicos ao redor do mundo, desde a década de 1980 até os dias atuais.
Aprimore seu carro, escolha suas vantagens de corrida e estratégia de pit, e lute contra um elenco de oponentes computadorizados e condições climáticas em constante mudança para ganhar o campeonato e liberar a próxima década de corridas!”
Descrição oficial de New Star GP na eShop Brasileira
Modo carreira
Ao abrir o game pela primeira vez, é preciso criar um perfil. Nome de jogador (que não poderá ser alterado), visual do piloto e do carro (estes sim poderão ser alterados a qualquer tempo). E a experiência conduz inicialmente para o modo “Carreira”, que funciona como uma “Master Liga” (lembra dela?) nos jogos de futebol.
A primeira temporada situa o jogador nos anos 1980, e vencendo se alcança os anos 1990, e assim por diante, até chegar a década de 2020. Funciona assim: cada temporada é composta por 10 corridas, em um sistema de campeonato. Quem se sair melhor na corrida conquista mais pontos, e só avança à próxima etapa quando se chega na primeira posição ao final.
Durante o percurso é preciso lidar com uma série de situações de gerenciamento. É necessário gerenciar, em primeiro lugar, o carro. Boas colocações nas etapas rendem mais dinheiro, chamado de BUX (trocadilho com “bucks”, que em inglês é equivalente a algo como “pratas”, em português). E com esta remuneração é preciso investir em “aprimoramentos do carro”.
Na garagem, é possível comprar melhorias de motor, asa dianteira, amortecedores, freios, caixa de marcha e outras peças que elevam significativamente os status do veículo, como “velocidade máxima”, “aceleração”, “controle”, “frenagem” e “eficiência”. E é importante investir com sabedoria, pois o jogo te avisa: as outras equipes também estão em constante aprimoramento, e não é porque você foi bem em uma corrida, que repetirá o feito na próxima, pois os adversários podem estar muito mais rápidos na pista.
Inclusive você pode, por um custo mais baixo do que um aprimoramento permanente, licenciar tecnologias de outras equipes por um período curto de tempo.
Além disso, é preciso gerir “benefícios de pessoal”, pois sim, além de ser o piloto, você também é o chefe de equipe. Contrate e/ou demita profissionais, assine contratos com patrocinadores, mantenha o astral dos colaboradores em alta. Faça tudo isso para garantir benefícios como ganhar mais dinheiro como recompensa por boas colocações, ganhar velocidade ao ficar “na cola” (ao pegar vácuo) dos carros à frente e muito mais, como receber menos dano por colisões, largar em penúltimo ao invés de último, que é o padrão, e outras inúmeras questões que devem ser adaptadas para cada estilo de pilotagem.
Por fim, ainda é preciso ficar de olho na relação com os demais pilotos. E aqui, mais uma vez, New Star GP brilha. As corridas são compostas por 10 carros (um por equipe, ao invés de dois, como na Fórmula 1 real), e os pilotos têm nomes divertidíssimos.
Nos anos 1980, você disputa com Gilles Verville, Nigel Mawson e Ayrton Serafino. Nos anos 2000, com Felipe Márcio, Rubens Bernardo e Fernando Aguado. E assim por diante. Mas atenção: qualquer semelhança com Gilles Villeneuve, Nigel Mansell, Niki Lauda, Ayrton Senna, Felipe Massa, Rubens Barrichello e Fernando Alonso é mera coincidência, viu? rsrs
Vale mencionar, de maneira muito positiva, que além destes, há inúmeros outros talentos representados nas corridas, e New Star GP se preocupa com equidade de gênero ao colocar mulheres como corredoras nas mesmas pistas e carros em que disputam os homens.
Há inclusive um sistema de rivais, que você deve ir administrando em coletivas de imprensa e outros momentos. Eventualmente disputas com rivais – que são expressivos e soltam engraçados emojis de reação pela pista – vão te levar a corridas x1 muito divertidas.
Na pista
No modo carreira, os GPs (Grandes Prêmios, ou Grand Prix) têm, por padrão, seis voltas. E o jogo, que tem mudanças dinâmicas de clima durante as corridas, é incrivelmente feliz e se diferencia da concorrência ao adicionar a mecânica de pit stop. Ao analisar o traçado da pista – que pode ser longa ou curta, já que todos os circuitos têm pelo menos duas versões -, a previsão do tempo e a condição do seu carro, você pode personalizar a estratégia ou então optar por fazer uma ou duas paradas.
Como na Fórmula 1 é preciso selecionar o composto de pneus – mas aqui são apenas três: macios (vermelhos), que se desgastam mais rápidos, mas permitem maior velocidade; duros (brancos), com menos velocidade máxima mas que permitem stints (períodos com um pneu até o próximo pit stop) mais longos; ou para piso molhado (azuis), utilizados apenas quando chove e há água na pista.
E claro, você precisa abastecer o carro e gerenciar bem o combustível, já que se ficar sem gasolina, você vai ter a velocidade máxima reduzida em muito. E as peças vão se desgastar. Ande fora do traçado da pista e veja seu conjunto de pneus se degradar muito rapidamente, bata o carro e veja seu motor, freios e asa dianteira irem embora. E então será preciso ir ao pit stop para consertar. Resumindo a mecânica: se fizer a estratégia errada, vai perder a corrida. Mas se fizer a estratégia certa, vai conseguir boas ultrapassagens.
A velocidade é gradual e é possível estabelecer um paralelo com Mario Kart. Os carros de 1980 seriam o 50cc, os de 1990 seriam o modo 100cc e assim por diante, até chegar à década de 2020.
Na pilotagem, é possível selecionar entre várias câmeras, sendo que os maiores desafios vêm da câmera cinematográfica e da câmera do cockpit, e o jogador conta com recursos como vácuo, “voltar no tempo” para corrigir um erro (apenas três vezes por pista, a não ser que esteja aplicado um benefício que libere mais usos) e turbo, que, para os fãs de Fórmula 1, se parece muito com o DRS, já que normalmente é utilizado em retas e facilita ultrapassagens.
Modo campeonato
Fórmula 1 é sobre campeonatos, e não poderia faltar em New Star GP um modo assim. Há opções de torneios pré-montados, divididos por categorias. Mas o jogador pode personalizar a competição como quiser e inclusive jogar multiplayer offline para até quatro jogadores em tela dividida, como nos velhos tempos.
Selecione a década, a velocidade dos carros, a dificuldade da IA e outras configurações. E o mais legal: há um simcade escondido dentro do jogo, já que aqui é possível alterar a direção de “arcade” para “realista” e então desbloquear um desafio único e muito mais próximo da realidade.
Ah, e um aviso: nos campeonatos, embora o vácuo esteja liberado por padrão, não dá para “voltar no tempo”, então os erros são muito mais cruéis.
Gráficos e som
New Star GP é ímpar. São pistas com traçados inspirados nos reais (em diversos países, inclusive Brasil!) com um estilo retrô, com gráficos low poly vivos e coloridos. É de tirar o fôlego. A trilha sonora é muito boa, mas uma dica para os fãs de Fórmula 1 é desativá-la no menu de opções (que conta com um vasto manual, mas infelizmente não permite alterar a velocidade para quilômetros por hora – km/h -, exigindo que o jogo opere em milhas por hora – mp/h) e aproveitar o som dos motores.
Vale uma comparação com Formula Retro Racing – World Tour, outro título com corridas regadas a carros monoposto. O estilo é parecido, mas New Star GP é muito menos arcade e muito mais completo. Em Formula Retro Racing, as corridas exigem velocidade. Mas aqui as disputas exigem também estratégia de pit stop, de ultrapassagem e muito mais. O mesmo vale para uma comparação com Hotshot Racing.
Ainda é preciso mencionar que o jogo conta com um completo sistema de conquistas e em uma delas, você se sente o próprio Max Verstappen, já que precisa abrir 25 segundos de vantagem para o segundo colocado e então vencer a corrida.
Conclusão
Novamente, sem exageros: New Star GP diverte mais que o jogo oficial da Fórmula 1. É uma experiência completa, que embora não aposte em regras rígidas como a exigência de uma classificação para a posição de largada nas corridas, apresenta muito, muito conteúdo.
Afinal, no modo carreira é possível jogar infinitas temporadas dentro de uma mesma década. E no modo campeonato nem se fala. Seja single ou multiplayer, é conteúdo que não acaba mais e que apresenta desafio na medida certa, em uma equilibrada balança com a diversão.
[Nota do Editor: New Star GP foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela New Star Games para avaliação.]
