Cloud Gaming

Polystation e Cloud Gaming

A polêmica ainda está longe de terminar. Será que desenvolvedores e distribuidores deveriam investir cada mais em Cloud Gaming? Ou você prefere ter seus dados disponíveis offline, seja no cardzinho/disco ou baixado na memória do console?

As vantagens do jogo através da nuvem são várias: acessar seus títulos de qualquer lugar em que exista boa conexão com a internet, o fim da necessidade de comprar de consoles dedicados, maior facilidade no desenvolvimento de jogos que precisariam de port para múltiplas plataformas. A lista é extensa, mas talvez o maior benefício seja a promessa do fim da obsolescência dos consoles, já que esses não seriam mais “necessários”. Simplesmente teríamos games evoluindo cada vez mais, com a possibilidade de serem acessados até do computador da sua avó, comprado nas Casas Bahia, que por meio do streaming seria capaz de rodar games em excelente performance. Em última instância, isso poderia gerar uma frenética, porém sadia, competição por jogos de qualidade. A Nintendo, por exemplo, não seria mais a empresa dona da máquina de especificações inferiores. Todo o pesado trabalho de processamento dos games ficaria a cargo dos poderosos servidores de uma empresa escolhida a dedo, contratada para a importante missão de abrigar Mario e companhia, necessitando entregar ao jogador a melhor experiência possível. Portanto, em termos de desenvolvimento, o céu seria o limite.

Mas, como tudo na vida, há também uma lista de poréns. Talvez a principal queixa seja a dependência de uma conexão com uma internet de alta velocidade, algo que o Terceiro Mundo ainda não teria condições de fornecer de forma eficiente e acessível. Não é o intuito desta coluna fazer qualquer análise técnica sobre cloud gaming, até porque não sou qualificado pera isso. Para informações mais específicas, recomendo o excelente canal Hightower Branco, com um conteúdo de alta qualidade produzido pelo youtuber Betão, que além de gamer é um insider desse ramo da indústria dos jogos. Neste espaço, gostaria de compartilhar vocês algumas reflexões sobre os sentimentos e as tretas que esse tema gera nos jogadores.

A primeira vez que vi alguém comentando que promover o cloud gaming seria uma espécie de elitismo, uma abordagem excludente, automaticamente lembrei de um episódio que vivi em uma escola periférica no interior do Rio de Janeiro, onde fazia minha Prática de Ensino de Português. O ano era 2005. No recreio, vi que alguns alunos conversavam sobre games e pareciam estar trocando jogos entre si. Logo me aproximei curioso perguntando: Opa! É jogo de quê? Playstation? – E a resposta veio na hora: Não, de Polystation.
Cheguei a ensaiar uma gargalhada porque sinceramente achei que era algum tipo de piada com o nome do console da Sony. Eu sequer sabia que no Brasil ainda circulavam famiclones com produção ativa. No entanto, logo percebi que os moleques trocavam cartuchos piratas de NES. Juro que por um momento tive dificuldade de entender o que estava acontecendo, mas era tudo muito simples: em pleno século 21, crianças fazendo das tripas coração para ter acesso a jogos do sistema Nintendo 8 bits. Não eram colecionadores atrás de relíquias e jogos nostálgicos (mesmo porque não tinham idade para ter nostalgia de nada). Ninguém ali era um entusiasta de retro gaming e dos gráficos pixelados. Simplesmente na minha cabeça de jovem privilegiado, universitário da classe média carioca, era surreal demais o fato de existirem crianças correndo atrás de cópias piratas de jogos lançados para um videogame de mais de 30 anos.

Polystation e Cloud Gaming
E você? Qual seu game favorito de Polystation?

Assim, quando nos revoltamos contra uma nova tecnologia porque ela seria uma medida supostamente elitista, nós nos esquecemos que, num país campeão em desigualdade social, o videogame é, por si só, um passatempo de elite. Não nos damos conta de que essa gigantesca indústria de carca de 150 bilhões de dólares não pode basear seus projetos e estratégias tendo como referência um país onde um exército de consumidores que ainda pena para ter acesso a títulos da era 8 bits.

É questão de tempo. A revolução do cloud gaming já começou, e o potencial infinito dessa tecnologia aliada aos benefícios do streaming irá certamente fazer com que a indústria adote a nuvem como o modelo padrão em alguns anos. Foi assim com a nossa maneira de ouvir música, foi assim como nossos filmes e séries preferidas. Ou você é ainda um consumidor de CDs e DVDs prioritariamente? Acaso ainda baixa todas suas canções em MP3?

Há quem ainda diga preferir um port capado a ter que depender de internet para jogar um título em resolução máxima. Mas o poder da indústria se impõe. Talvez seja uma luta mais proveitosa exigir melhores serviços de telecomunicações e atuar na construção de um país onde crianças não estudem em escolas caindo aos pedaços, nem precisem recorrer a clones de consoles dos anos 80 para participar do fabuloso mundo do entretenimento eletrônico.


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]