Black Book começou sua jornada como um projeto no Kickstarter no início de 2020 pelo estúdio russo indie Morteshka, que prometeu uma aventura misteriosa e intrigante ambientada em uma zona rural da Rússia do século 19, entregando bastante história da mitologia eslava.
Definir o gênero de Black Book não é uma tarefa tão simples assim, já que ele tem muitos elementos de RPG, batalhas de cartas, aventura e alguns breves momentos de exploração também. Mas será que essa mistura de gêneros se transforma em uma experiência agradável para o jogador?
Qual a história por trás do jogo?
O jogo conta a história de Vasilisa, uma jovem garota que decide seguir a tradição da sua família após a trágica morte, em circunstâncias misteriosas, do seu marido e se torna uma aprendiz de bruxa. Vasilisa herda o livro de magias, o Black Book, do seu avô e segundo a lenda, após quebrar os sete selos do Black Book, Vasilisa terá qualquer desejo garantido, então ela parte na sua jornada com o propósito de ressuscitar o seu falecido marido.
Durante sua aventura, Vasilisa terá que lidar não só com diferentes chorts (demônios), destruindo-os ou aliando-se a eles, mas também se encontrará com diversos camponeses da região e suas demandas únicas. Vasilisa pode utilizar seus poderes para ajudá-los ou amaldiçoá-los, o que faz com que o jogador possa traçar os inúmeros caminhos para a personagem.
As mecânicas de jogo
Um dos pontos altos de Black Book é sua mecânica de jogo de cartas com RPG, onde cada página do livro é uma “carta”. Para iniciantes no gênero, aprender sobre cada carta e suas combinações pode levar algum tempo, ainda mais levando em conta que os nomes das cartas estão em russo, mas não chega a ser algo muito complexo. Não ser complexo não significa que o jogo seja fácil, pelo contrário, é bem desafiador em diversos momentos. Ser derrotado por um chefe por escolher uma combinação no momento errado pode se tornar comum em diversas partes do jogo. Ao final de cada batalha é possível escolher uma nova carta, bem como comprar outras durante sua jornada, além de novas cartas mais poderosas sendo adquiridas no decorrer do jogo, criando diversas novas possibilidades de combos.
Em alguns momentos do jogo existem também batalhas especiais com alguns quebra-cabeças, onde você precisa derrotar o inimigo fazendo combos específicos, com números de rodadas limitadas e um deck de cartas fixo para aquela batalha em específico, geralmente com cartas que o jogador ainda não possui.
Falando mais um pouco sobre ajudar ou não os camponeses e os demônios, essa é uma das formas que você adquire dinheiro para comprar novos itens e cartas, mas é preciso tomar cuidado (ou não, depende exclusivamente de como você queira seguir com a história, não existe “o certo” e “o errado”), uma vez que algumas ações que vão lhe fazer ganhar pontos de “pecado”, que definirão alguns rumos da história. Nem todos os encontros com demônios precisam ser resolvidos batalhando, em muitos momentos o jogo oferece opções para o jogador, fazendo com que mesmo resolvendo o encontro com diálogo, a experiência e as cartas ainda serão dadas ao jogador. Além disso, o jogo apresenta várias informações reais daquela mitologia, entender mais sobre ela no jogo e dar uma resposta correta sobre alguns questionamentos garantirá mais experiência ao jogador.
Durante sua jornada, Vasilisa encontrará diversos companheiros que lhe ajudarão nas batalhas, uma das coisas que aprofunda essa relação dela com esses personagens é que cada um deles têm histórias únicas, o que acaba enriquecendo a experiência do jogo. Existem também momentos onde você pode explorar uma localização específica do mapa, o jogo tem muita história em texto para contar, então essa mistura e descentralização de gêneros pode gerar um certo estranhamento no início, mas aos poucos tudo vai se encaixando e fazendo sentido dentro da narrativa.
Um mini game presente, que infelizmente não influencia em absolutamente nada no decorrer do jogo, é a do tradicional jogo de cartas russo Durak, onde seu objetivo é zerar as cartas nas mãos antes do seu oponente. Trazer algo assim para o jogo e isso não gerar nenhum impacto no jogo me parece um pouco sem sentido, fazendo com que você não perca muito tempo com isso.
Gráficos e Trilha Sonora deslumbrantes
A escolha artística para o jogo é linda e combinou muito com seu tom, especialmente nos locais onde você pode explorar um pouco mais, além disso certamente a trilha sonora ajuda a manter todo o ar de mistério e suspense que o jogo deseja e a contar a história de uma maneira que consegue envolver ainda mais o jogador. Além dos textos em inglês e russo, o jogo também possui dublagem nessas duas linguagens, e de forma geral ela é muito satisfatória e ajuda a não tornar o jogo apenas uma grande leitura, muito embora existam pessoas que gostem de jogos text-based.
O jogo possui alguns pontos negativos nesse sentido, como algumas dificuldades com relação aos controles (quem estiver no modo portátil, a tela de toque ajuda bastante), que certamente poderiam ser mais dinâmicos e precisos em algumas situações, e apesar da ambientação no geral ser muito bonita visualmente, alguns personagens e animações podem parecer simples e repetitivos demais em alguns momentos. Por fim, outra coisa que faz falta é uma música mais característica durante as batalhas, ambos os pontos citados acima, apesar de não atrapalharem tanto a experiência geral do jogo, são coisas que definitivamente o ajudariam a manter um ritmo melhor.
Vale a pena?
Aprender sobre o folclore russo é enriquecedor, seus textos, diálogos e opções vão muito além do tradicional “derrotar monstros” presentes em muitos RPGs. Para aqueles que têm tempo livre e gostam de uma boa história e conhecer mais sobre culturas de outras localidades, Black Book vale muito a pena. O jogo está custando R$ 127,45 na loja brasileira (com desconto de 15% se você comprar na pré-venda), que acaba sendo um valor muito bom para a quantidade de horas e conteúdo que esse jogo entrega.
Ou seja…
Black Book é um RPG sombrio, com muitos personagens interessantes e histórias para contar, possui uma boa dificuldade e um bom nível de complexidade em sua mecânica de jogo de cartas, além de trazer muito conhecimento sobre um folclore pouquíssimo explorado no mundo dos games, tudo isso enquanto entrega uma excelente progressão durante a jornada da bruxa Vasilisa em busca de salvar o seu amado.
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[Nota do Editor: Black Book foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela PR Ninja.]
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