A lição que Metroid Dread deixa em 2021

A lição que Metroid Dread deixa em 2021

Hoje, convidamos vocês a refletir sobre o jogo que tem permeado as conversas em torno da Nintendo:
Metroid Dread.

Precisamos falar sobre algo importante que esse jogo traz à tona, e mesmo que você já tenha jogado ou se ele não está no seu radar de compras, não tem problema, é uma lição que eu creio e espero que acrescente a todos que lerem esta matéria até o final.

1. Antes do ponto de partida

Metroid Dread é um jogaço! Incrível do começo ao fim, é um dos melhores jogos de 2021, não só do Nintendo Switch. E isso não é um spoiler da conclusão dessa reflexão, é na verdade o ponto de partida da reflexão.

“Como assim?”

Quando você começa Metroid Dread você pensa “uau!”, e quando você termina, “uau!” A aprovação do jogo é praticamente inquestionável, ela tem sido um consenso, visto que mesmo as avaliações consideradas pessimistas, tem dado em torno de 7 para o jogo – quando 7 é o mínimo que alguém dá, imagine o máximo.

Sempre que temos algo assim, é muito bom. Afinal, todos nós queremos jogos excelentes, mesmo que não seja do nosso interesse, da nossa plataforma, é bom ver a concretização de trabalhos bem sucedidos. Mas talvez, para Metroid Dread, isso tenha um gostinho extra especial. Você deve saber o porquê, não é mesmo?

Envolto em polêmicas desde seu anúncio, Metroid Dread é a sequência direta de Metroid Fusion, jogo de Game Boy Advance lançado há 19 anos atrás, e que segue a tradicional linha de jogos 2D de Metroid iniciada lá no Nintendinho.

Como tal, “Dread” é também um jogo 2D, e apesar de várias melhorias, segue exatamente o conceito dessa série tradicional 2D, tal como os jogos de Donkey Kong Country da Retro Studios ou a série de jogos New Super Mario. São jogos que você bate o olho e relembra na hora de seus antecessores dos anos 90.

Ter um jogo com essa essência clássica como grande destaque de lançamento interno da Nintendo, não foi bem recebido por muita gente.

Surgiram várias acusações sobre ser um jogo comparável a jogos indies, ou jogos do console antecessor, o Nintendo 3DS, e que ter algo “simples” assim como destaque em um ano onde estamos vendo uma nova geração de consoles mostrar seus primeiros feitos, era absurdo, afinal, tecnologias como ray-tracing, SSDs trazendo uma velocidade absurda de processamento, resoluções 4K e um foto-realismo nunca visto antes, foram as armas mostradas pela indústria em 2021; e a Nintendo trouxe como arma um jogo 2D…

Mas quem duvidou agora está presenciando que a aposta da Nintendo foi um tiro certeiro.

A Nintendo sabia o que tinha em mãos, e sabendo o que tinha, apostou em “Dread”, e acertou, nos fazendo voltar ao ponto inicial de que o jogo é incrível e todo mundo que está jogando está reiterando isso, atualmente sua nota no Metacritic está em 89, e o jogo tem mais de 80 reviews, a Nintendo não vai comprar a nota de 80 sites, não tem 80 portais fanboys cegos da Nintendo, até porque se tivesse, todo jogo dela teria notas assim, o que não é o caso.

Enfim, o jogo é bom, o jogo deu certo e voltando para a frase do início “Metroid Dread é um jogaço! Incrível do começo ao fim, é um dos melhores jogos de 2021, não só do Nintendo Switch.

Mas como dissemos, essa não é a conclusão, é o ponto de partida… E para o quê? Para o questionamento: Como foi que ele conseguiu isso?

Quando você termina Dread, você sai convencido, e se pergunta “como que os desenvolvedores, com tantas armas que a nova geração tem trazido, citadas anteriormente, conseguiram com um ‘joguinho’ 2D ser uma das melhores experiências de 2021?

Bom, ponto de partida dado, agora vamos compartilhar com vocês a resposta.

2. A lição que se aprende

Lá nos anos 90, estávamos numa crescente da indústria dos consoles, com o Super Nintendo e o Mega Drive marcando a história.  Mais para a metade da década, vimos uma nova geração chegar, o Nintendo 64 e o PlayStation, e esses consoles tinham como grande atrativo os jogos agora em 3D! E era um negócio impressionante, e rapidamente, estava todo mundo migrando seus jogos para o 3D.

Porém, algumas séries foram perdendo sua relevância na época… Simplesmente aquele jogo não era tão legal em 3D, sabe? Mortal Kombat, Donkey Kong, Megaman são exemplos de jogos que foram bem recebidos em 3D, mas falando a verdade, a maioria prefere os antecessores em 2D. E isso se evidenciou quando esses jogos voltaram para o 2D, no Mortal Kombat 9 e Donkey Country: Returns que foram muito aclamados pelos fãs como “o retorno triunfal”.

Não foi o caso de Metroid, já que Metroid Prime foi um sucesso estrondoso no Game Cube, e estamos muito ansioso por Metroid Prime 4 prometido para o Switch, porém… 

Assim como os jogos citados anteriormente, Dread veio com esse “retorno ao clássico”, e o caso dele é especial e diferente dos outros, exatamente porque ele não precisava desse retorno. O modelo 3D é bem aceito, por quê raios arriscar em um novo jogo 2D?

Bom…

PORQUE SUA FÓRMULA AINDA É BOA!

Ela ainda cria um jogo que “Quando você começa “Metroid Dread” você pensa ‘uau’, e quando você termina ‘uau’!

A grande lição que “Metroid Dread” traz em 2021 é a de que talvez estejamos olhando para o lado errado conforme as ferramentas de desenvolvimento de jogos se aprimoram. Tanto desenvolvedores quanto público…

Pois de nada adianta termos texturas cada vez mais detalhistas, efeitos de luz cada vez mais pesados, e cenários cada vez maiores e enfeitados se, no fim, o simples ‘’jogar’’ não for tão bom. Isso não é uma declaração de que avanços tecnológicos são ruins, e que “o old style é melhor”, não, não é isso que estamos dizendo.

O que estamos compartilhando, é que “avanços tecnológicos são recursos pra se criar bons jogos, e não O QUE TORNAM os jogos bons”. Em 2021 vimos coisas impressionantes proporcionados pelos novos consoles, mas de nada adianta se no fim, um “Metroid 2Dzinho” é mais legal de se jogar.

Esse argumento tem uma ilustração perfeita, um episódio de Bob Esponja, onde um ser muito poderoso duela com o Esponja pra ver quem é o melhor em fazer hambúrguer.

E a gente vê o rival mostrando seu poder capaz de criar super chapas de fritura que geram centenas de hambúrgueres, enquanto o Bob Esponja tá lá, lerdinho, colocando um picles de cada vez, um queijo em forma de cobertinha e aí o rival se gaba de ter vencido, afinal, foram centenas de lanches contra um, porém o lanche dele não era tão gostoso, e então de nada adiantou 100 contra 1 se esse 1 era o mais gostoso.

Eu não quero afirmar que “Metroid Dread” é –O MELHOR jogo de 2021-, não, calma, mas o que eu posso dizer é que: imagine uma plataforma, um “GamePass universal”, e lá você pode baixar o jogo que quiser, da Nintendo, Sony, Steam, etc, independente se o jogo custa 1 real ou 350, estão todos lá, não é que Metroid Dread é o melhor jogo de 2021 dessa plataforma, mas é um jogo que você deveria jogar nela, mesmo tendo jogos mais caros, mais detalhistas, mais robustos, ele ainda seria um dos melhores jogos, um dos mais baixados e mais jogados. Em resumo, não importa a concorrência, ele vale a pena ser um dos jogos baixados e jogados nesse ano.

Não é uma competição para ver quem fica em primeiro, quem ganhou é o bonzão e quem perdeu, nadinha. É uma seleção de quem acrescentou algo e se destacou, e eu estou dizendo que “Metroid Dread” faz parte dessa seleção!

Dread ensinou que ainda é possível com simplicidade, acrescentar à indústria e ser válido em meio à tanta coisa “parruda”, desde que se olhe na direção certa, e se use o necessário pra criar um bom jogo. E existe um provável “culpado” por mostrar essa lição: Yoshio Sakamoto.

3. Teimosia

No nosso vídeo sobre “O que você precisa saber antes de comprar ‘Metroid Dread”, uma das coisas que a gente usou como argumento para apostar que o jogo ia ser muito bom foi de que ele era um jogo muito desejado pelo Yoshio Sakamoto, o cabeça da série.

E o Sakamoto, é um cara extremamente cuidadoso, dedicado, mas, principalmente, pra nossa sorte, muito teimoso. Eu contei no vídeo que ele foi quem bateu o pé para “Super Metroid” existir, pois o jogo ia, por 3 vezes, ser cancelado, pois o desenvolvimento estava sendo muito trabalhoso, mas ele foi lá e bateu o pé “não não, vamos fazer esse jogo sim”.

Sakamoto queria produzir Dread, inclusive com esse nome, desde o Nintendo DS, esse jogo é a realização do desejo dele de concluir o arco iniciado em Metroid de NES e agora terminado por Dread. Sakamoto não desistiu do jogo esses anos todos, e eu não sei se alguém falou pra ele “ah cara, jogo 2D não, tá ultrapassado”, mas eu tenho certeza de que se alguém falou, ouviu algo como “não, vai ser 2D sim, vai ser a sequência de Fusion e vai continuar a fórmula dele”.

Ele é um desses caras que vai contra tudo e todos, quando sabe que tem em sua cabeça algo que será valioso quando feito. E ele mostrou a lição de que um jogo 2D ainda pode ser relevante se ele ainda for simplesmente,  muito bom de se jogar.

E é por isso que Metroid, mesmo sendo espacial, não sendo cartunesco, ter esses bichos feios e nada carismáticos, ainda carrega o “DNA Nintendo” visto em um Super Mario da vida…

Muito se fala sobre a Nintendo ter como essência “jogos pra toda a família”, “nostalgia”, “jogo cartoon”, mas o que verdadeiramente une um “Metroid Dread”, um “The Legend of Zelda: Breath of The Wild” e um “Animal Crossing: New Horizons” é: Você vai pegar no controle, começar a jogar e na hora ser convencido a continuar jogando.

Esse “instafun”, sabem?

Essa lição de que “gameplay vem antes dos gráficos” que, inclusive, a gente falou no vídeo sobre “Bayonetta 3 é ideal na Nintendo” é também uma teimosia da Nintendo e que, tem sempre mostrado resultados excelentes. 

Não que ela ignore gráficos e tecnologia, e em Dread, ela tenha feito tudo relaxado menos o gameplay. Não é que o jogo não usa tecnologia, mas ele usa -o necessário-. Os gráficos de Dread não são impressionantes, mas são “o bastante”, são bons o suficiente, aquilo é o necessário; o mesmo pode ser dito de outros aspectos como ambientação e trilha sonora. Esses elementos não são perfeitos, mas são bem usados enquanto o jogo deixa brilhar o que ele veio para brilhar: Sua gameplay é viciante.

A movimentação e habilidades de Samus deixam a jogabilidade tão excelentes que simplesmente ir pra lá e pra cá (o que num metroidvania é bem importante). E nesse sentido, a jogabilidade 2D ajuda na precisão de movimentos rápidos e cheios de maracutaias dos power-ups deixando o jogo bem ágil. Inclusive essas vantagens de jogabilidade 2D foram uma das grandes motivações pro Mortal Kombat voltar para o bidimensional (e talvez seja por isso que Sonic devia ficar no 2D).

O level design, o “labirinto” do mapa, atiça a curiosidade, e seu formato “ultrapassado” de salas fechadas e intercaladas, geram no jogador uma vontade de “eu quero ver o que tem na próxima sala”, “eu quero ver onde vai dar se eu entrar aqui”  Não só o combate é ótimo como O QUE você combate, os inimigos.

As batalhas de chefe são estratégicas. Morrer na primeira tentativa é quase certo, não se culpe. Observe, pense nas habilidades que você tem e o que ele costuma fazer e monte o melhor contra ataque, a vitória chega, muito mais após você saber o que e como fazer do que “finalmente consegui executar”.

Mas até chegar nos chefes, você topa com uma incrível variedade de inimigos -ok, fracos-, mas são pequenos desafios que também estão constantemente fazendo seu cérebro buscar respostas de como não levar dano, em que momento se deve aplicar o botão de contra ataque, quão potente precisa ser seu ataque pra que você calcule se é melhor usar tiro, tiro carregado, míssil, ou o que for, em resumo, eles te deixam sempre entretido.

Esses elementos fazem a jogabilidade, atenção para a palavra escolhida, sequestrar a atenção do jogador, sim, sequestrar, porque é muito difícil parar de jogar o game. Ele não enjoa, ele diverte do início ao fim, ele desafia sem sacanear.

Então entendem que, no fim, a fórmula “ultrapassada” quando aprimorada no Nintendo Switch, e usando a tecnologia necessária onde precisa, mas ainda dando palco para o que mais importa, gera um jogo que simplesmente é MUITO provável que você adore jogar. Assim como um Mario Kart 8 que não tem NADA a ver com Metroid, mas tem o DNA Nintendo.

E graças a esse DNA Nintendo, e a teimosia da Nintendo e do Yoshio Sakamoto, de insistir em desafiar os padrões de um grande lançamento em 2021, temos hoje um jogo que se você não jogou, deveria jogar, Metroid Dread.

Essa é a resposta do ponto de partida. Foi assim que eles conseguiram criar um jogo tão bom. Foi desse jeito que Metroid Dread se tornou um jogaço, incrível do início ao fim, um dos melhores jogos de 2021, não só do Nintendo Switch.


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]