Famicom Detective Club - Um clássico pouco conhecido

Famicom Detective Club – Um clássico pouco conhecido

O resgate de um clássico do acervo da Nintendo para um novo público

“Sexta-feira, 20h, uma noite agradável de primavera onde o vento sopra uma ligeira umidade que invade a sala de um antigo casario, fazendo com que o ambiente se torne um local perfeito para uma boa jogatina. Ligo a TV, sento-me confortavelmente no sofá e entre um aperitivo e um gole de uma taça de vinho adentro uma nova realidade repleta de mistérios. Conheço personagens, lugares e situações. Cada passo aqui mostra algo diferente do que já havia presenciado, fazendo com que tudo seja algo realmente novo. Em determinado momento os olhos coçam, começam a piscar com mais frequência do que o normal. Olho para o relógio no pulso e o sono dá lugar ao susto: São mais de 3h da madrugada e eu ainda estou aqui. Ali entendi o que uma história bem contada pode fazer”

Sim, esse é um relato real ocorrido comigo e quis usar dessa narrativa um pouco incomum numa análise de jogos para introduzir vocês no clima de Famicom Detective Club, que chegou ao Nintendo Switch e traz uma aventura imersiva em sua narrativa cheia de mistério e reviravoltas.

Famicom Detective Club - Um clássico pouco conhecido

Mas do que se trata?

Nossa querida Nintendo possui um vasto acervo de clássicos dos anos 80 / 90 que infelizmente ficaram restritos aos primeiros consoles da empresa. Muitos fãs vivem pedindo remakes ou mesmo um port simples desses clássicos, muitos deles que nunca se quer chegaram a ser lançados no ocidente. Recentemente vivemos essa experiência com Fire Emblem: Shadow Dragon and Blade of Light, o primeiro da franquia que somente 30 anos após o seu lançamento foi localizado para o ocidente. No que diz respeito a Famicom Detective Club também podemos dizer que estamos diante de uma joia muito bem guardada nos acervos da Nintendo.

Originalmente lançado para o Famicom nos anos 80, Famicom Detective Club consiste, na verdade, em dois jogos distintos: Famicom Detective Club: The Missing Heir (1988) e sua sequência (que funciona como uma prequela da história) Famicom Detective Club: The Girl Who Stands Behind. Na época do seu lançamento o seu idealizador Yoshio Sakamoto ainda não era muito conhecido, mas hoje seu nome é referencial pois é um dos co-criadores da franquia Metroid.

Famicom Detective Club - Um clássico pouco conhecido

Estamos falando de um clássico jogo Adventure / Visual Novel, onde o foco é resolver o mistério que permeia cada um dos jogos citados. Ambos podem ser jogados de maneira individual onde o máximo que você irá perder na experiência em relação a quem teve contato com os dois jogos são algumas referências que não atrapalham no andamento da história ou na jogabilidade.

Como um clássico desses não poderia ficar preso no Famicom e muito menos apenas no Japão, a Nintendo resolveu não só os trazer para o ocidente como no caso de Fire Emblem que falamos anteriormente, mas sim realizar um remake dessas duas obras. O trabalho dessa vez ficou nas mãos das empresas Mages e Tose que nos trouxeram um visual extremamente polido que faz jus ao enredo profundo e imersivo que eles apresentam

Elementar meu caro…

Se você gosta de uma boa investigação, repleta de mistérios e surpresas já adianto que eles serão uma boa pedida para você. Você controlará um jovem (com o nome a ser definido pelo jogador) que está em busca de sua família e acaba encontrando o detetive Utsugi, dono da Utsugi Detective Agency. Depois de uma conversa o protagonista aceita ser aprendiz de detetive e se torna parte da agência de Utsugi. Ao longo dos dois jogos seu objetivo será justamente esse trabalho de detetive, buscando resolver grandes mistérios permeados de suspense, terror e reviravoltas inesperadas.

Famicom Detective Club - Um clássico pouco conhecido

Como se trata de jogos narrativos não irei aqui me aprofundar muito nas histórias para evitar qualquer tipo de Spoiler sobre os jogos, mas cabe darmos um pequeno panorama sobre o enredo de cada um dos dois enredos. The Missing Heir foi o primeiro jogo lançado originalmente. Tudo começa quando o protagonista acorda em um local estranho e é resgato por um senhor chamado Amachi. Você não se lembra de absolutamente nada, nem mesmo do seu nome (boa premissa para a escolha do nome do jogador). Aos poucos você consegue relembrar de alguns fatos sobre você, sua profissão e o que estava fazendo. Nesse processo o protagonista acaba se lembrando que é um detetive e foi contratado para resolver o mistério da morte de um membro da família Ayashiro, que vive num simples vilarejo cercado de histórias macabras que envolvem mortos que voltam a vida entre outros fatores tenebrosos.

Já em The Girl Who Stands Behind nós temos uma história que se passa antes do primeiro jogo citado (inclusive recomendo jogar esse primeiro para ter uma ordem cronológica dos fatos. A ordem não altera a experiência e caso você jogue os dois títulos, eles possuem um sistema de resgate de save um do outro, fazendo com que o nome do protagonista seja o mesmo nas duas jornadas). O protagonista aqui é convocado para investigar um corpo de uma estudante colegial encontrada nas águas de um rio. Tudo parece indicar para um acidente, mas logo você percebe que se trata de um assassinato. Enquanto investiga sobre a vida da vítima na escola onde ela estudava uma lenda urbana que rodeia o colégio acaba se entrelaçando com a investigação. A lenda de uma garota misteriosa que aparece no colégio parece estar muito ligada a esse assassinato.

São duas histórias bem diferentes tanto em roteiro quanto em ritmo e elementos. Contudo entre os jogos existem sim ligações, mas são elementos simples, resumindo-se a alguns cenários e personagens.

Espelho de um tempo

Como já falamos anteriormente o jogo se trata de um adventure / visual novel em seu estilo mais clássico. A nova versão trouxe a dinâmica das animações (que digam se de passagem estão belíssimas), mas a jogabilidade ainda é bem parecida com os jogos originais onde temos uma tela estática com um menu cheio de opções para a interação com tudo aquilo que se consegue ver na tela.  

Famicom Detective Club - Um clássico pouco conhecido

Para os fãs mais clássicos, que consomem o estilo de jogo a mais tempo, talvez isso não seja necessariamente um problema, mas para quem está adentrando ao gênero por curiosidade isso pode ser um ponto negativo pois não é nada atrativo. Digo isso baseado na linearidade do jogo. Não estamos falando de uma visual novel onde cada personagem pode mudar a sua postura de acordo com suas ações ou que isso vá influenciar no desenrolar da trama. Estamos falando de um adventure clássico, onde só existe uma opção de resolução isso faz com que o jogo te obrigue a fazer uma combinação de ações para avançar na história.

Você pode pensar que isso não é um problema inicialmente, mas preciso dizer que existem momentos que fazer a ação certa não vai fazer você avançar. “Como assim?”, você me pergunta meu caro Watson (perdão, não resisti), se trata de um método para dar imersão no jogo. Algumas testemunhas não vão te entregar de mão beijada a informação que você quer, por isso será preciso insistir até conseguir a resposta. Parece divertido isso, e é nas primeiras vezes, porém depois de um tempo fica um pouco cansativo.

And the Oscar’s Goes To…

Não poderíamos terminar nossa análise sobre aquilo que realmente importa numa Visual Novel: O enredo. Nesse ponto o jogo brilha e muito! As duas histórias são realmente ricas e conseguem surpreender o jogador na forma como é contada. Cada personagem é único, com traços marcantes de personalidade e dão informações importantes que compõe a história de maneira leve, mas sem ser superficial.

O roteiro é cheio de pequenos detalhes que fazem toda a narrativa ser uma grande colcha de retalhos que precisa ser costurada aos poucos pelo jogador para assim chegar até a resposta final para o grande mistério de cada um dos jogos.

Famicom Detective Club - Um clássico pouco conhecido

Outro ponto da narrativa que precisamos destacar são as questões culturais. O jogo é realmente uma obra japonesa e não nega suas origens. As noções culturais do Japão estão profundamente presentes em cada um dos momentos do jogo, fazendo com que tenhamos elementos que vão desde o estilo de terror próprio do Japão até elementos de humor muito sutis ao qual os fãs de anime vão se identificar muito facilmente. Talvez aí esteja o motivo desses jogos não terem vindo para o Ocidente na época de seu lançamento original no Famicom / NES

Outro elemento que brilha são as animações. O jogo é extremamente bonito nesse ponto, bastante dinâmico e imersivo. Cada cenário, cada personagem é feito com muitos detalhes, parecendo que você está assistindo um anime de investigação policial.

Famicom Detective Club - Um clássico pouco conhecido

Uma boa, mas cara, pedida

Sem dúvida os jogos Famicom Detective Club são um grande acréscimo para a galeria do Nintendo Switch, trazendo histórias cativantes e profundas para os amantes das Visual Novels. Uma joia como essa não poderia mesmo ficar preso ao Famicom dos anos 80. Uma pena é saber que o tratamento dado a uma joia rara do acervo Nintendo não se resumiu aos quesitos técnicos, mas também adentrou à realidade do preço: Cada jogo pode ser adquirido de forma separada por R$ 179,00 ou o conjunto dos dois sai a R$ 307,00 (um desconto de R$ 51,00). Um pouco caro esse valor para um gameplay de aproximadamente 10h por jogo, sem um fator replay devido à linearidade própria da história. Apesar disso, caso você queira um bom jogo do gênero sem dúvida ambos são uma excelente pedida.

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[Nota do Editor: Famicom Detective Club: The Missing Heir e Famicom Detective Club: The Girl Who Stands Behind foram analisados de uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Nintendo para avaliação.]


[A coluna acima reflete a opinião do redator e não do portal Project N]

Eu sou o Padre Edson, o padre que é fã de joguinhos eletrônicos! Siga-me no twitter, @edson_ribeiro