Há quem diga que a Sega “vive no coração dos verdadeiros gamers”. A máxima é verdade, mas não é apenas isso. Persona está aí para nos mostrar o contrário, assim como Sonic e também a série Yakuza, que recentemente chegou ao Nintendo Switch com Yakuza Kiwami. Bom e inovador em 2005, continua sendo um bom produto em 2024, quando, além de reforçar a força da Sega e da própria série Yakuza, mostra que o híbrido da Big N, muitas vezes desacreditado nos dias atuais, ainda tem muita lenha para queimar.
Yakuza Kiwami é o remake de 2017 para o primeiro jogo da série, lançado originalmente para o PlayStation 2. Um game com história densa, adulta, séria, porém ao mesmo tempo recheado de momentos leves, divertidos, engraçados e descontraídos. A experiência funciona quase como em um jogo de mundo aberto, com batalhas em estilo beat ‘em up 3D, elementos de RPG – com direito a extensas e variadas árvores de habilidades para ir aprimorando – e muitos minigames para completar o pacote.
Logo de cara, o que mais impressiona é a ambientação. Movimentar o protagonista é tão satisfatório quanto uma viagem pelos centros urbanos do Japão poderia ser. A cidade vibra, pulsa e vive, e você está ali no meio. Você está ali no meio, vale dizer, sem um pingo de pressa.
Yakuza traz à tona um sentimento similar à introdução de Pokémon Legends Arceus: esqueça a ideia de sair correndo, pulando diálogos e ignorando instruções. Em vez disso, respire fundo, acompanhe a história, entenda o que o jogo está te proporcionando enquanto arte, compreenda o uso dos botões, e se precisar, leia e releia, veja e reveja.
Após levar a culpa por um assassinato e passar 10 anos na prisão, você emerge no meio de uma iminente guerra entre clãs da yakuza, o que jogará você, movido pelos seus punhos e força de vontade inabalável, numa jornada de amor, humanidade e traição ambientada no fervilhante distrito da luz vermelha do Japão atual”
Essa é a sinopse simplificada da história, conforme consta na página oficial na eShop brasileira, onde o jogo é vendido pelo justo preço de R$ 99,00. Mas vale ir além. Yakuza Kiwami é o jogo que apresenta, pela primeira vez, Kazuma Kiryu, o Dragão de Dojima, um protagonista durão, porém humano (que lembra um pouco Kazuya Mishima, de Tekken) daqueles que vale a pena acompanhar – tanto é que a série conta com diversos outros títulos.
Dito tudo isso, para apreciar a obra é fundamental que o jogador acompanhe a história. Nada de pular cutscenes – que são muitas, e longas -, nada de clicar rápido para escapar dos NPCs, nada de pressa. Veja, leia, respire, mergulhe no Japão e nos dramas policiais de um homem que, em nome do amor, assume e paga por um crime que não cometeu, mas em nome da honra retorna à máfia japonesa para fazer justiça com as próprias mãos.
A única pena nisso tudo é que Yakuza Kiwami não está disponível em Português do Brasil, então é preciso entender inglês para extrair as nuances da história.
Gameplay
Lute alternando dinamicamente entre 4 estilos marciais (o brutal “Brigão”, o imprevisível “Acelerado”, o avassalador “Bestial” e o lendário “Dragão”) ao mesmo tempo que usa armas improvisadas achadas nas ruas para dizimar hordas de inimigos em lutas realistas, divertidas e empolgantes
Essa é a descrição oficial do jogo, e as palavras são certeiras. A jogatina, quando no modo de batalha, é exatamente assim. Para quem já jogou, há grandes semelhanças com Sleeping Dogs (que na verdade é a série True Crime, que inclusive veio antes do Yakuza, ainda no PlayStation 2). Há várias situações em que você precisa eliminar vários inimigos ao mesmo tempo, fazendo movimentos que lembram filmes de artes marciais, e também há momentos de batalhas contra chefes, onde a observação de padrões é o que rege o ritmo.
Depois de arrebentar uns crânios, dê um tempo da história principal para aproveitar atividades imersivas da vida noturna como karaokê, cassino, cabaré clube, fliperama, gaiola de rebatidas e muito mais, conhecendo personagens exóticos de todos os tipos.”
Esta é outra frase da descrição oficial, que resume bem a experiência. Sendo prático: acompanhe a história, desça a porrada em alguém (ou alguéns), vá para a cidade e se distraia com algum minigame, e então seja puxado de volta à narrativa principal e reinicie o ciclo.
Desempenho, ritmo e reflexão
Desvende um conluio de 10 bilhões de ienes no distrito da luz vermelha de Tóquio, movido pelos punhos e força de vontade que tornarão você uma lenda”. E faça isso com muita qualidade!
No início eu usei a frase “o Nintendo Switch ainda tem muita lenha para queimar”. E o desempenho de Yakuza Kiwami comprova isso, principalmente após o patch de atualização que trouxe melhorias para a performance do game.
Não espere 60 FPS cravados, porém pode esperar uma taxa de quadros suficiente para fazer tudo o que você precisa com qualidade, inclusive enfrentar várias e várias e várias vezes o Majima (quem jogou, ou quem conhece, sabe quem é), as batalhas aleatórias contra gangsters na rua ou então uma partida de boliche e outra de autorama (porquê não?).
Toda a experiência é divertida, roda bem, flui bem e pode ser apreciada como um filme interativo em determinados momentos. Eu explico. Logo no início do game há uma passagem em que o protagonista precisa adquirir um anel para dar de presente ao seu interesse amoroso.
Pois bem, o jogo nos coloca para ir à joalheria e comprar o anel. Quando saímos, um batedor de carteiras nos furta. Nós o perseguimos, lutamos contra ele e conseguimos a informação de que… ele já vendeu o anel a uma olha de penhor.
Vamos à loja de penhor, onde o vendedor, desconfiado, não quer nos entregar a joia de bom grado, mas aceita nos vender por um preço alto. Saímos da loja e conseguimos dinheiro emprestado. Voltamos lá, e a surpresa é de que agora o preço subiu. Saímos de novo, pedimos mais dinheiro emprestado e finalmente, quando retornamos, o vendedor reconhece que o anel era originalmente nosso e nos entrega, sem cobrar nada.
Toda essa movimentação leva vários minutos, muitos diálogos e várias indas e vindas no mapa. Fosse outro jogo, tudo teria se resolvido de maneira mais simples. Mas em Yakuza, como dito acima, a pressa não se faz presente. Tenha isso em mente na hora de jogar.
Quando eu, ainda garoto, tentei jogar no PlayStation 2, sofria exatamente com isso. À época ainda sem entendimento da língua inglesa e com pouco tempo para jogar, já que o DVD era alugado, não compreendia o espírito do título. A mim foi vendido como um “GTA no Japão”, mas esse conceito não poderia estar mais errado.
Inclusive, o fator idade pesa também. Yakuza trata da honra japonesa, das várias famílias que compõem uma mesma máfia, de sentimentos como vigança, amor e ódio, da perseguição de um grupo, da traição de um amigo… São temas complexos, maduros e essencialmente adultos, que certamente não podem ser compreendidos por uma criança.
E está aí, aliás, outro fator que faz com que a chegada de Yakuza Kiwami ao Nintendo Switch seja tão emblemática. Há, no híbrido da Big N, espaço para a ludicidade de Super Mario, Zelda, Splatoon, Pokémon e Animal Crossing. Mas também há espaço para a seriedade de The Witcher 3, Doom, Diablo 3 e agora Yakuza Kiwami.
O Switch é para todos, e Yakuza Kiwami é parte disso. Diferente de 2022, os desenvolvedores agora enxergam isso, o que nos enche de esperança: que venham mais Yakuzas para o console da Nintendo!
Veredict
After years, Yakuza Kiwami has finally arrived on the Nintendo Switch. And the quality of the remake of the first game to tell the story of Kazuma Kiryu, the Dragon of Dojima, is impressive. Apart from the lack of Brazilian Portuguese, there are no other demerits for the title, which delivers in combat, story, setting, fun, narrative, soundtrack, design and everything else.
[Nota do Editor: Yakuza Kiwami foi analisado a partir da sua versão para Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Sega para avaliação.]
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